Para a maioria das pessoas, a educação formal continua sendo um trampolim poderoso, não por ser a única via, mas por ser uma via testada, escalável e capaz de multiplicar oportunidades. Crédito: Reprodução
Para a maioria das pessoas, a educação formal continua sendo um trampolim poderoso, não por ser a única via, mas por ser uma via testada, escalável e capaz de multiplicar oportunidades. Crédito: Reprodução

Artigo escrito por Érico Colodeti Filho, especialista em investimentos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Especialista em criptomoedas pela Associação Nacional das Corretoras Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). Professor universitário e apresentador do “Me Tira do Perrengue“.

Na era digital, ganhou força a narrativa de que o diploma de faculdade não é mais necessário. A mensagem, repetida por influenciadores e celebridades de negócios, soa sedutora. Em vez de passar anos na universidade, bastaria empreender online, produzir conteúdo criativo ou investir em cursos rápidos. O argumento vem embalado em histórias de ascensão meteórica, frases de efeito e a promessa de liberdade financeira em tempo recorde. É um enredo irresistível para quem sente pressa, inquietude e pressão por resultados.

Porém, há um problema estrutural nessa história. Ela confunde exceção com regra. Para cada trajetória espetacular que vira vídeo viral, existem milhares de outras, igualmente trabalhadoras e ambiciosas, que não alcançam o mesmo desfecho. O nome disso é viés de sobrevivência, o hábito de olhar apenas para os casos bem-sucedidos que chegaram ao palco bem como ignorar o imenso cemitério estatístico de projetos que não decolaram.

Quando alguém aponta um bilionário que abandonou a faculdade e triunfou, o que não se vê, de modo geral, são as condições prévias que tornaram aquele salto possível. Família com capital social, rede de contatos, tempo para errar, acesso à tecnologia e mentores, bem como oportunidade de correr riscos sem ruína pessoal. Sem esse contexto, a frase ‘não precisa de diploma’ vira um bordão bonito e perigoso.

Também é verdade que o mercado mudou. A tecnologia barateou o acesso a conhecimento, plataformas conectam talentos, carreiras surgem bem como se transformam em ciclos mais curtos. Ou seja, tudo isso é real e positivo. Ainda assim, quando se olha para o conjunto, o diploma de faculdade continua sendo um dos melhores seguros de renda ao longo da vida. Além de funcionar como um passaporte de empregabilidade que abre portas em processos seletivos, concursos bem como empresas que buscam critérios objetivos de triagem.

Faculdade fornece competências

Mesmo nas áreas em que portfólio e código falam alto, a formação formal de faculdade soma sinal de base teórica sólida, disciplina, capacidade de concluir projetos de médio prazo bem como familiaridade com métodos de pesquisa e escrita. Ou seja, competências que o trabalho do dia a dia exige silenciosamente.

Dito isso, não existe dogma. Há muitos caminhos legítimos para o desenvolvimento profissional, inclusive o autodidatismo sério, os cursos técnicos e os bootcamps robustos. Ou seja, o ponto central é que esses caminhos demandam tanto ou mais disciplina que uma graduação em faculdade. Do mesmo modo, pedem consistência, projetos reais, feedback honesto, leitura intensa, rede de apoio bem como tempo.

A promessa de atalho sem custo raramente se cumpre, no mínimo você trocará a mensalidade formal por horas de estudo solitário, por noites construindo portfólio, por rejeições até encontrar o primeiro cliente, por incerteza de renda e por ciclos constantes de atualização.

Outra armadilha está no modo como influenciadores simplificam realidades complexas. Em clipes de 30 segundos, o que chega é uma frase cortada do contexto, um recorte que soa definitivo e universal. Declarações de bilionários do Vale do Silício, por exemplo, costumam enfatizar curiosidade, iniciativa e capacidade de aprender sozinho, valores importantes. Porém, essas mesmas empresas mantêm processos seletivos rígidos e valorizam evidências objetivas de competência, seja por diplomas de faculdade, seja por experiência documentada. Já no Brasil, onde desigualdades são profundas, o peso do diploma é ainda maior porque ele não entrega apenas conteúdo. Do mesmo modo entrega rede, professores, colegas, ex-alunos, acesso a estágios bem como a programas que funcionam como pontes para o mercado.

Saídas para quem quer se capacitar

Para quem não pode arcar com a universidade neste momento, há saídas responsáveis e progressivas. Cursos técnicos e tecnólogos, muitas vezes com duração mais curta, podem inserir rapidamente no mercado, gerando renda para financiar etapas seguintes. Do mesmo modo bolsas e financiamentos estudantis existem, e programas de educação a distância de qualidade permitem conciliar trabalho e estudo. Ou seja, complementar isso com certificações reconhecidas no setor, participação em projetos voluntários, contribuições a comunidades e produção de um portfólio honesto e verificável cria um ciclo de avanço contínuo. O caminho fica mais longo, porém fica seu, sustentável e cumulativo.

Se a dúvida é objetiva, fazer faculdade ou não, vale mirar critérios práticos. Primeiro, qual é a ocupação alvo e que requisitos aparecem nas vagas reais, nunca nas promessas dos vídeos. Segundo qual é o custo total, não só mensalidade, mas deslocamento, material, tempo, e qual é o retorno provável, não apenas o sonho, mas a média da área. Terceiro, qual é a alternativa concreta caso a faculdade seja postergada, um plano de estudos estruturado, com metas, prazos, projetos e métricas de progresso, substitui, mesmo que parcialmente, a experiência acadêmica. Por fim, como combinar as coisas, muitas vezes a resposta não é ou, é e, estudar e trabalhar, faculdade e portfólio, diploma e certificações, teoria e prática.

Também é útil ajustar expectativas. Um diploma não garante sucesso, assim como sua ausência não condena ao fracasso. O que o diploma faz é aumentar as probabilidades de inserção, progressão e renda, ao mesmo tempo em que diminui as probabilidades de desemprego prolongado. Ele entrega, além do conteúdo, repertório, método, convivência com diferenças, exercícios de argumentação e exposição a ideias que não escolheríamos espontaneamente. Ou seja, justamente o tipo de atrito intelectual que aprimora pensamento crítico. Em paralelo, a prática, a execução consistente bem como o contato com problemas reais fornecem intuição, velocidade de decisão e senso de responsabilidade. É na interseção dessas duas forças que carreiras longevas são construídas.

Quanto aos discursos midiáticos sobre sucesso inevitável, convém olhar com lupa. Frases como ‘não preciso de diploma’ ou ‘vou ganhar um Nobel’ funcionam muito bem como marketing, criam personagem e atraem audiência, no entanto dizem pouco sobre o caminho percorrido e o tamanho do trabalho invisível por trás de cada conquista. O jornalismo, quando cumpre seu papel, coloca essas declarações ao lado dos dados agregados e das biografias completas. Bem como pergunta: funciona para quem, em que condições, com quais custos, por quanto tempo. É essa conversa adulta que protege o leitor de apostas precipitadas.

Se existe uma síntese honesta, ela cabe numa imagem simples: cuidado com o brilho do atalho. O mundo profissional recompensa quem entrega valor, aprende sempre e sabe colaborar. Para a maioria das pessoas, a educação formal continua sendo um trampolim poderoso, não por ser a única via, mas por ser uma via testada, escalável bem como capaz de multiplicar oportunidades. O resto é mito embalado em vídeo curto.

Este autor, acredita que promessas fáceis sobre ‘sucesso sem faculdade’ soam bem nos vídeos curtos, mas raramente resistem aos dados e à realidade do mercado. Mesmo admirando trajetórias notáveis e declarações provocativas de figuras como as de Elon Musk, é preciso ter inteligência. Ele mesmo defende que a educação formal, combinada com prática, disciplina bem como pensamento crítico, continua sendo a ferramenta mais potente para ampliar oportunidades, renda e mobilidade social.

Érico Colodeti Filho é especialista em investimentos, professor universitário e apresentador do Me Tira do Perrengue. Foto: Divulgação

Com duas formações acadêmicas, duas pós-graduações lato sensu, um mestrado, três certificações do mercado financeiro e a recente aprovação no 51° Exame da Planejar para obtenção da certificação CFP ®, uma das credenciais mais prestigiadas do mercado financeiro internacional, me denomino um eterno estudante. O diploma não é um fim em si, mas um instrumento que, somado à aprendizagem contínua, à ética e à execução consistente, transforma vidas.

Redação Folha Vitória

Equipe de Jornalismo

Redação Folha Vitória é a assinatura coletiva que representa a equipe de jornalistas, editores e profissionais responsáveis pela produção diária de conteúdo do Folha Vitória. Comprometida com a excelência jornalística, a equipe atua de forma integrada para garantir informações precisas, atualizadas e relevantes, sempre alinhada à missão de informar com ética, democratizar o acesso à informação e fortalecer o diálogo com a comunidade capixaba. O trabalho do grupo reflete o padrão de qualidade da Rede Vitória de Comunicação, consolidando o veículo como referência em jornalismo digital no Espírito Santo.

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