O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na quinta-feira (24), que “quem perdeu a eleição precisa sair do caminho” e deixar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociar com os Estados Unidos sobre a tarifa de 50% imposta ao Brasil por Donald Trump.
Ele afirmou que o País enfrenta uma situação singular no cenário internacional, com articulações internas atuando contra o início do diálogo comercial com os EUA.
O ministro diz que o Executivo segue tentando estabelecer interlocução com a Casa Branca, mas que há brasileiros ligados à extrema direita atuando contra as negociações.
“Família Bolsonaro e seus apoiadores estão obstruindo canal com os EUA”, disse o ministro em entrevista à Rádio Itatiaia.
“A extrema direita está impedindo uma relação que seria natural entre os dois países. Não aconteceu nada que justificasse tarifa, a não ser atuação da extrema direita.”
Para o ministro, o episódio contrasta com o que ocorre em outros países, onde não há forças políticas internas se opondo a acordos comerciais.
“No Japão, firmou-se acordo. Na União Europeia, na própria China, não tem uma força política interna concorrendo contra os interesses do país”, disse. “Aqui temos essa especificidade, de 25% a 30% que aderiram a uma ideologia contra os interesses nacionais”, afirmou.
O ministro disse que a imposição da tarifa norte-americana contra importações brasileiras afeta mais de 10 mil empresas e também prejudica o próprio mercado dos Estados Unidos.
Ele observou que a avaliação do ex-presidente Donald Trump junto ao eleitorado americano tem caído em função da medida. “Estamos falando de 340 milhões de americanos atingidos”, afirmou.
Haddad destacou que as relações comerciais entre os dois países são equilibradas e que, desde maio, o governo brasileiro tem reiterado os pedidos formais de abertura de negociação.
“Reiteramos as cartas que mandamos de maio para cá, enfatizando os pontos a negociar”, disse. “Estamos abertos a negociar, mas não há negociação sem interlocução”, completou.
Haddad afirmou que tanto ele quanto o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, têm atuado tecnicamente para viabilizar uma saída diplomática.
‘Desenvolvemos tecnologia melhor que a deles’, diz ministro sobre o Pix
O ministro disse que o governo brasileiro ainda busca compreender os reais motivos por trás da taxação anunciada pelos Estados Unidos.
“Pretexto dos EUA (para taxar produtos brasileiros em 50%) é questão (do ex-presidente Jair) Bolsonaro. Não sei até onde vai essa preocupação real”.
Segundo Haddad, pontos como o questionamento dos EUA sobre o Pix não estão bem explicados. “Querem taxar o Pix. O Pix é uma tecnologia desenvolvida no Brasil. Desenvolvemos tecnologia melhor que a deles e não estamos cobrando por ela”, disse, em referência à comparação com ferramentas similares criadas pelas empresas do Vale do Silício.
O ministro afirmou que o Pix não foi criado com objetivos comerciais, tampouco beneficia grupos empresariais privados. “Não foi feito para enriquecer um empresário”, afirmou, destacando que a tecnologia, mantida pelo Estado brasileiro, tem sido oferecida a outros países sem custo. “No exterior, não tem custos para os países”, acrescentou.
Haddad disse ainda que a resistência ao Pix não é nova. Segundo ele, desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro já havia tentativas internas de criar taxas sobre a ferramenta, o que vai contra a lógica da inclusão financeira e redução de custos defendida pela atual gestão.
“A gente está sempre pensando em diminuir os custos para a população”, disse o ministro, mencionando o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.