*Artigo escrito por Teuller Pimenta, advogado, especialista em direito e processo tributário, membro do núcleo de tributação empresarial do Ibef-ES e do Ibef Academy.
O recente vídeo intitulado “1 patrão versus 30 demitidos” reacendeu um antigo debate sobre empreendedorismo, desigualdade e responsabilidade social. Nele, tem-se um empresário enfrentando questionamentos de trinta pessoas que perderam seus empregos. A cena é provocativa.
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De um lado, um símbolo da estabilidade econômica; do outro, pessoas indignadas, muitas vezes revoltadas, tentando apontar culpados. O debate revela muito mais do que um caso isolado: expõe a visão distorcida e profundamente arraigada que parte da sociedade brasileira ainda cultiva sobre o empreendedor de sucesso.
O “patrão” em questão é Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi e um dos empreendedores mais bem-sucedidos do país. Em vez de herdeiro de fortuna, Tallis é exemplo clássico de quem ascendeu por mérito: oriundo de uma cidade do interior, filho de mãe costureira e pai policial, começou a empreender ainda jovem.
Criou uma das startups mais bem-sucedidas do Brasil e, mais recentemente, fundou a Singu, um marketplace de serviços de beleza. Sua trajetória, marcada por esforço, risco e inovação, é emblemática do que o verdadeiro empreendedorismo representa.
No entanto, apesar de histórias como a de Tallis Gomes, a figura do empreendedor ainda sofre um estigma. Muitos o veem como ganancioso, insensível, explorador. Essa caricatura é sustentada por fatores históricos, culturais e econômicos.
No Brasil, o sucesso financeiro muitas vezes desperta desconfiança, como se só pudesse ter sido alcançado por meio de práticas duvidosas. E essa visão não é nova. É um reflexo de uma cultura marcada por desconfiança institucional, escândalos de corrupção e o famoso “jeitinho brasileiro”, que mina a confiança nos que prosperam dentro das regras.
Dificuldades de se tornar um empreendedor
É importante dizer que o empreendedorismo não é um caminho fácil. Pelo contrário: está repleto de riscos financeiros, instabilidade e sacrifícios pessoais. Muitos apostam tudo o que têm — tempo, dinheiro, saúde — em um sonho que pode ou não se realizar.
Dados do SEBRAE (inclusive citados pelo próprio Tallis Gomes no debate) mostram que cerca de 30% dos negócios no Brasil fecham nos primeiros dois anos.
Ou seja, o fracasso é parte da equação. Ainda assim, esses riscos são invisibilizados quando se foca apenas nos bens materiais ou nos carros de luxo que alguns poucos conquistam.
Essa crítica ao empreendedor de sucesso muitas vezes é também alimentada por uma cobertura enviesada da mídia, que destaca escândalos e casos de corrupção no setor privado, mas pouco fala das histórias de superação, geração de empregos e inovação trazidas por milhares de pequenos e médios empresários.
O problema não está em criticar o empreendedorismo (aliás, toda atividade humana é passível de crítica), mas sim em reduzir o empreendedor a um vilão genérico. Isso revela mais sobre a cultura de ressentimento do que sobre a realidade.
Tallis Gomes, ao enfrentar 30 pessoas que perderam o emprego, não estava ali para se defender, mas para apresentar uma visão alternativa: a de que o patrão não é o inimigo, mas sim parte da solução.
Além disso, seu argumento de que a economia precisa de quem gere, arrisque e crie empregos encontrou resistência, justamente por contrariar uma narrativa emocionalmente confortável: a de que os ricos são os culpados por tudo.
Há, é claro, empresários inescrupulosos. Eles existem e devem ser punidos quando agem de forma ilícita. Mas a generalização é injusta e perigosa, pois desincentiva novos empreendedores e impede uma conversa honesta sobre os verdadeiros obstáculos do país: a burocracia excessiva, a carga tributária sufocante, a insegurança jurídica, a baixa escolaridade e a dificuldade de acesso ao crédito (como bem disse novamente Tallis Gomes ao final do debate).
Empreendedor como agente de transformação social
A verdade é que o empreendedor é, em grande medida, um agente de transformação social. O SEBRAE, mais uma vez, aponta que as micro e pequenas empresas representam 30% do PIB nacional, 54% dos empregos formais e 44% da massa salarial.
Desse modo, são esses empreendedores que mantêm a economia girando, que pagam salários, que enfrentam crises e incertezas sem as garantias que o funcionalismo público ou grandes conglomerados oferecem.
A romantização da pobreza e a demonização do lucro são sintomas de uma mentalidade que precisa ser revista. O lucro justo é o motor da economia. Ele não é imoral. Pelo contrário: ele permite reinvestimentos, inovações, expansão e, principalmente, gera empregos — justamente o que os 30 demitidos questionaram no debate.
É preciso combater não o lucro, mas o privilégio sem mérito, a corrupção e o clientelismo. E apenas um ambiente que celebre o mérito, em vez de ridicularizá-lo, conseguirá fazer isso.
Medo da autonomia
A crítica fácil ao empreendedorismo esconde, muitas vezes, um medo da autonomia, da responsabilidade, da incerteza. Empreender é abrir mão da zona de conforto. É assumir o risco de falhar. É enfrentar o julgamento alheio.
Por isso, o Brasil precisa urgentemente resgatar o respeito ao empreendedor. Não por idolatria, mas por justiça.
Tallis Gomes, ao protagonizar aquele vídeo, deu rosto a milhares de empresários que vivem diariamente o dilema de gerar empregos em um país que parece punir quem tenta prosperar honestamente.
Por fim, o Brasil há uma criminalização da riqueza, e essa talvez seja uma das maiores amarras culturais que impedem o país de avançar. Logo, é preciso começar a educar para a liberdade, a responsabilidade e o protagonismo.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.