Artigo Ibef-ES

A necessária limitação do poder político para a felicidade individual

Poder é, na melhor das hipóteses, um egoísmo disfarçado de benevolência e deve ser limitado ao máximo para evitar seu abuso

A necessária limitação do poder político para a felicidade individual A necessária limitação do poder político para a felicidade individual A necessária limitação do poder político para a felicidade individual A necessária limitação do poder político para a felicidade individual
Foto: Freepik
Foto: Freepik

*Artigo escrito por Carlos De’Carli Filho, estudante de direito da FDV e membro do Ibef Academy.

“Se eu fosse o rei do mundo, o que eu faria?” Essa pergunta já passou pela mente de todos. O desejo de moldar a realidade ao seu bel prazer é algo natural do ser humano. O desejo de ser o próximo Napoleão criou Ralkolnikov, por exemplo. Como também criou Hitler e Stalin.

A verdade é que, desde o homem simples e miserável àqueles que ocupam a elite governamental de uma nação, todos sonham em ter Poder, seja para o bem ou para o mal.

LEIA TAMBÉM: Com R$ 2 bilhões, Fundo Soberano do ES pode alavancar a nova economia capixaba

Alguns respondem à pergunta acima com respostas humildes: “eu acabaria com a fome no mundo, com todas as guerras, com as armas”, um protótipo do sonho de John Lennon. Outros são nacionalistas: “erguerei minha pátria, lutarei por ela”.

Por fim, há os psicopatas que desejam (mas não ousam dizer) que simplesmente querem o poder pelo prazer do poder.

Busca do poder e da felicidade

Mas o que poucos percebem é que o desejo pelo Poder é, na melhor das hipóteses, um egoísmo disfarçado de benevolência. Em seu clássico “O Poder”, Bertrand de Juvenel ensina que “por mais altruísta que possa ser a destinação de um poder, como o paterno ou o eclesiástico, a natureza humana transmite-lhe o egoísmo, e ele tende a tomar-se a si mesmo como finalidade”.

E tanto é assim porque o homem vê no Poder a oportunidade de escapar às fatalidades humanas.

A felicidade, como diria Aristóteles na “Ética a Nicômaco”, é o fim último de toda ação humana. O homem age porque busca sair de um estado de menor para maior satisfação. E toda ação é direcionada à obtenção de um bem, que é percebido como capaz de satisfazer esse desejo.

Uma vez que os bens materiais são escassos e o homem depende deles para a sua subsistência, compreende-se que o desejo pelo poder, na verdade, é um desejo íntimo de felicidade. Deter o Poder, neste sentido, é ter um direito de preferência sobre os bens satisfativos dos desejos humanos.

Esperanças dos seres humanos

O Poder, portanto, como diria Juvenel, “não é apenas o lugar das esperanças egoístas, mas também das esperanças altruístas, ou, melhor dizendo, socialistas.” Ele se transforma, portanto, como o lugar das esperanças humanas.

E esta é a armadilha do homem bondoso que se encanta pelo Poder: inspirado pelas ideias do bom, belo e justo, o mundo do dever ser, povoado das formas perfeitas de sua utopia de estimação, se choca violentamente com a dolorosa, malcheirosa e estúpida realidade.

“Como é possível”, pensa ele, “que o mundo seja tão injustamente diferente do modelo perfeito que eu imaginei? Certamente se eu tivesse o Poder em minhas mãos, eu aboliria todo esse mar de lama que afoga e maltrata o meu povo e daria a eles a tão sonhada felicidade!”

Limitação do poder

Nesse processo, o homem bom critica a autoridade, mas não o Poder. Este não é visto como problema, mas solução. E defende, portanto, um aumento do Poder mas uma mudança de autoridade: ele deve se tornar a autoridade, obviamente.

E pouco a pouco, o suporte fático que inspirou inicialmente o homem bondoso é suplantado pelo desejo do poder pelo poder, como o desejo do psicopata.

A verdade é que o Poder deve ser limitado ao máximo para evitar seu abuso. É uma utopia desejar o Poder para melhorar a sociedade.

Dar poder ilimitado para uma instituição é dar um cheque em branco para o florescimento do egoísmo humano. As instituições, portanto, não devem ser o receptáculo dos anseios sociais, mas um mero freio para evitar a barbárie.

Pois a felicidade, tão desejada pelo homem, é fruto da liberdade, e não da coerção. Somente onde há limites ao Poder, há espaço para a verdadeira dignidade humana.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

IBEF-ES

Entidade de utilidade pública

Instituto Brasileiro de executivos de finanças - Espírito Santo

Instituto Brasileiro de executivos de finanças - Espírito Santo