*Artigo escrito por Yuri Porto Nico, engenheiro civil, consultor de inovação, investidor, conselheiro de startups, sócio do Grupo Soma Urbanismo, cofundador da Bbutton Ventures e líder do Comitê Qualificado de Conteúdo de Inovação e Tecnologia.
Em 2025, o Fundo Soberano do Espírito Santo alcança um saldo de R$ 2 bilhões. Desses, cerca de R$ 500 milhões já foram comprometidos em duas iniciativas estratégicas. A primeira é o FIP FUNSES 1, fundo de venture capital com R$ 250 milhões para investir em startups de base tecnológica.
A segunda é o Programa FUNSES ESG de Desenvolvimento, que destinou outros R$ 250 milhões a um edital de debêntures — títulos de dívida com juros abaixo da Selic — voltado a projetos de expansão e implantação de novas plantas industriais no estado. Das 22 propostas recebidas, 10 empresas foram selecionadas.
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Criado em 2019, o fundo capixaba tem origem nos royalties da exploração de petróleo e gás, com a missão de fomentar o desenvolvimento econômico sustentável. No Brasil, é um caso único, apenas o Espírito Santo possui um fundo do tipo.
Mas no mundo, fundos soberanos são comuns em países com economias baseadas em recursos naturais. Na COP29, o governador Renato Casagrande anunciou mais R$ 500 milhões do fundo para projetos de transição energética e descarbonização.
Além disso, o FUNSES 1 foi reconhecido como o 3º melhor do mundo e o melhor da América Latina no Ranking Global de Fundos Soberanos 2025, elaborado pelo IEFS.
Fundo Soberano e inovação
Apesar dos avanços, há lacunas a preencher. Falta um instrumento de crédito voltado à inovação em empresas tradicionais — algo similar ao que a Finep já oferece nacionalmente, com repasses locais via Bandes e Sicoob.
Linhas de financiamento reembolsáveis para inovação empresas tradicionais são essenciais para aumentar a competitividade das empresas locais. Em 2024, o Bandes dobrou os recursos do Finep Inovacred de R$ 72 para R$ 150 milhões, e a demanda foi tão intensa que se esgotou rapidamente.
Já o Sicoob operou R$ 345 milhões em todo o Brasil, sendo R$ 135 milhões apenas nas cooperativas de SC/RS.
Desafios
Um dos desafios é ampliar o alcance da inovação também às empresas tradicionais capixabas, que muitas vezes carecem de instrumentos financeiros adequados para modernizar seus processos produtivos.
Embora o regulamento do FUNSES não permita a concessão de crédito direto ou a criação de linhas de financiamento, existem alternativas compatíveis que podem ser exploradas. Uma delas é a estruturação de um FIDC temático (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), com participação subordinada do FUNSES, voltado à aquisição de recebíveis de empresas inovadoras.
Outra possibilidade é a criação de um fundo imobiliário destinado a parques tecnológicos ou a ativos produtivos de empresas em processo de transformação digital, fomentando a inovação por meio da infraestrutura.
O Espírito Santo já foi pioneiro com o FIP e o Edital de Debêntures. Agora, ao ampliar o escopo do Fundo Soberano, pode assumir um novo papel, uma alavanca de inovação para toda a economia capixaba, não apenas para as startups e grandes corporações.
Alocar parte dos mais de R$ 1 bilhão em incentivo às empresas capixabas pode ser uma mudança de paradigma para a Nova Economia Capixaba.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.