Foto: Freepik
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*Artigo escrito por Erika Almeida, private banker na Apex e membro do comitê qualificado de conteúdo de economia e finanças do Ibef-ES.

Com a taxa Selic fixada em 15% ao ano — o nível mais alto desde 2006 — o Brasil atravessa um período de forte aperto monetário. Entre as 40 maiores economias do mundo, apenas países com inflação severa, como a Turquia, apresentam juros reais mais altos.

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Essa taxa impacta diretamente o cotidiano dos brasileiros, inclusive no Espírito Santo, afetando desde o consumo das famílias até os investimentos dos empresários locais.

Crédito mais caro freia compras e consumo no Estado

Para as famílias capixabas, o principal efeito da alta dos juros é o encarecimento do crédito.
Em um estado onde boa parte das compras de bens duráveis — como motocicletas, eletroeletrônicos e móveis — é feita por meio de financiamento, os 15% da Selic representam um verdadeiro freio no consumo.

Muitos consumidores têm adiado sonhos de aquisição, optando por produtos usados ou compras à vista para escapar das altas taxas de juros, que, em alguns casos, ultrapassam os 3% ao mês. Como reflexo, o comércio local sente uma queda nas vendas, especialmente nas modalidades a prazo.

Do lado empresarial, o cenário também é desafiador. Empresários capixabas, principalmente do setor imobiliário e industrial, dependem de crédito para expandir operações ou lançar novos projetos.

Com os custos de financiamento mais elevados, muitos optam por adiar ou cancelar investimentos. Construtoras, por exemplo, estão priorizando a venda de imóveis já construídos, postergando lançamentos.

Indústria e mercado de trabalho sentem o impacto da Selic

A desaceleração afeta não apenas o ritmo do setor, mas também a geração de empregos diretos e indiretos.

A indústria de bens duráveis também sofre com a menor demanda. Empresas ligadas à produção de móveis, materiais de construção e eletrodomésticos têm reduzido o ritmo, o que pode levar a ajustes na produção e demissões.

Esse cenário gera um efeito dominó: com menos consumo e menos investimentos, há menos geração de renda e oportunidades de trabalho. No Espírito Santo, ainda que alguns setores mantenham aquecimento, o ritmo de contratações já mostra sinais de desaceleração, especialmente na construção civil.

Por outro lado, o principal objetivo do Banco Central ao manter a Selic elevada é conter a inflação, que ainda gira em torno de 5% ao ano, acima da meta de 3%. Com os juros altos, o consumo desacelera e a pressão sobre os preços diminui.

No entanto, esse remédio tem um custo: o crescimento econômico fica comprometido. As projeções para o PIB brasileiro giram em torno de 2% nos próximos anos e, no Espírito Santo, esse cenário também se reflete em um crescimento mais modesto da economia local, impactando arrecadações e planos de expansão pública e privada.

Em resumo, a Selic a 15% atua como uma faca de dois gumes. Por um lado, contribui para o controle da inflação. Por outro, impõe um ritmo mais lento à economia, reduzindo o consumo das famílias, os investimentos empresariais e as oportunidades no mercado de trabalho.

Para os capixabas, o momento exige cautela, planejamento e foco em estratégias que priorizem o equilíbrio financeiro até que o cenário macroeconômico permita a retomada do crescimento sustentável.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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