Artigo Ibef-ES

Construção civil, pós-venda e ESG: é possível conciliar?

A sustentabilidade na construção só se torna realidade quando o pós-venda garante que práticas ESG sejam corretamente utilizadas e mantidas

Leitura: 4 Minutos
Foto: Freepik
Foto: Freepik

*Artigo escrito por Filipe Machado, engenheiro ambiental, diretor geral na Mútua-ES, palestrante, autor de livros e membro do comitê qualificado de conteúdo de ESG do Ibef-ES

Nos últimos anos, o setor da construção civil tem passado por uma transformação silenciosa, mas significativa. Grandes construtoras vêm sendo cada vez mais pressionadas por investidores, fundos e clientes a adotarem práticas sustentáveis, sociais e de boa governança.

Veja também: Investimentos e desenvolvimento regional: papel do mercado de capitais

O ESG deixou de ser apenas um diferencial e passou a ser um critério de avaliação de risco e atratividade nos negócios. Mas a pergunta que se impõe é: conseguimos, de fato, conciliar ESG com o pós-venda?

Já é possível identificar avanços importantes nas etapas de projeto e execução. Empreendimentos com sistemas de energia solar, reaproveitamento de água da chuva, coleta seletiva de resíduos e uso de materiais de menor impacto ambiental têm se tornado mais comuns.

Soma-se a isso uma preocupação crescente com conforto térmico, acústico e lumínico, buscando proporcionar saúde, bem-estar e eficiência nas edificações. Tudo isso representa uma evolução relevante.

ESG precisa de pós-venda

No entanto, o ESG não pode parar na entrega das chaves. Quando o condomínio assume a edificação, muitas vezes não há qualquer tipo de acompanhamento técnico, treinamento dos moradores ou suporte adequado.

Sistemas sustentáveis são mal operados, áreas verdes planejadas com critério ambiental são substituídas por soluções mais práticas e manuais de uso e manutenção ficam esquecidos. ESG sem pós-venda é ESG incompleto.

Os investidores já perceberam isso. Apesar disso, hoje, mais do que retorno financeiro imediato, avalia-se a capacidade de um empreendimento gerar valor no longo prazo, manter sua reputação, reduzir conflitos e evitar passivos judiciais.

Esse olhar recai diretamente sobre o pós-venda. Além disso, a ausência de estrutura nessa etapa pode comprometer toda a estratégia ESG, tornando insustentável aquilo que, no papel, parecia promissor.

O pós-venda precisa deixar de ser visto como um custo ou uma mera formalidade. Ele é parte essencial da entrega.

Garantir que os sistemas sejam utilizados corretamente, que o condomínio funcione bem, que os moradores estejam orientados e que os problemas iniciais sejam tratados com responsabilidade é o que, de fato, transforma o discurso em prática.

ESG no Espírito Santo

No Espírito Santo, algumas incorporadoras vêm adotando modelos mais eficientes de transição entre a obra e a vida em condomínio.

Bem como, é cada vez mais comum que, após a entrega do empreendimento, haja um período de acompanhamento técnico que pode durar de seis meses a um ano, com suporte direto ao síndico e aos moradores.

Nessa fase, a equipe oferece manuais personalizados, realiza reuniões de orientação e mantém canais de comunicação ativa, especialmente importantes em empreendimentos que contam com sistemas sustentáveis, como reuso de água e energia solar.

Essas iniciativas estão alinhadas à ABNT NBR 15.575 (Norma de Desempenho), que trouxe a sustentabilidade como um dos requisitos de qualidade da edificação.

Nesse sentido, ao investir em uma entrega mais qualificada e no correto funcionamento dos sistemas, as construtoras reduzem retrabalhos, aumentam a satisfação dos moradores e contribuem para a longevidade da edificação. Trata-se de um avanço importante na relação entre quem constrói e quem vive no imóvel.

A construção civil tem um enorme potencial de protagonismo na agenda ESG. Mas, para isso, é preciso olhar além da obra pronta. A sustentabilidade de verdade acontece no uso, no dia a dia, na rotina de quem mora e convive naquele espaço.

Por fim, ESG que vale é aquele que continua existindo após a inauguração. Nesse sentido, isso só é possível quando o pós-venda é tratado com a mesma seriedade e o mesmo planejamento que o projeto inicial.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

IBEF-ES

Entidade de utilidade pública

Instituto Brasileiro de executivos de finanças - Espírito Santo

Instituto Brasileiro de executivos de finanças - Espírito Santo