
*Artigo escrito por Aylton Dadalto, vereador de Vitória, advogado e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do Ibef-ES
À medida em que investidores e consumidores globais exigem compromissos mais sólidos com a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança), o mercado de créditos de carbono desponta como uma das principais ferramentas para alinhar crescimento econômico e responsabilidade ambiental.
E o Espírito Santo, com sua vocação para inovação e sustentabilidade, tem diante de si uma oportunidade estratégica: tornar-se referência nacional no fomento a esse mercado.
O crédito de carbono permite que empresas compensem suas emissões financiando projetos que reduzem ou capturam gases de efeito estufa. No entanto, para que esse mercado ganhe escala, é essencial que o Poder Público atue como catalisador — não apenas regulando, mas incentivando.
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Políticas fiscais inovadoras
O Estado do Espírito Santo e a cidade de Vitória podem sair na frente com políticas fiscais inovadoras, como o IPVA Verde e o IPTU Verde. Empresas que comprovem a aquisição de créditos de carbono certificados podem ser beneficiadas com descontos tributários, fortalecendo sua competitividade e imagem perante o mercado.
Além de impulsionar práticas sustentáveis, essas medidas agregam valor institucional e reputacional às marcas — algo cada vez mais valorizado por fundos de investimento e consumidores conscientes.
Curitiba (PR) e Extrema (MG), por exemplo, já adotaram o IPTU Verde com foco em construções sustentáveis e preservação de áreas verdes. A lógica pode ser adaptada para incluir a compra de créditos de carbono.
Por sua vez, em 2023 foi lançada a primeira bolsa de ação climática do Brasil, a B4, conectando emissores e projetos locais de compensação. No Brasil, alguns estados já negociam a venda de créditos de carbono, como o Pará, que vendeu quase R$ 1 bilhão para a coalizão COAF.
Outro papel fundamental do setor público é promover segurança jurídica, criando marcos regulatórios transparentes e estáveis para o funcionamento desse mercado. Isso atrai investidores e desenvolvedores de projetos sustentáveis, o que dinamiza a economia local e gera empregos verdes.
Mercado de carbono no país
Em dezembro de 2024 foi sancionada a lei que regula o mercado de carbono no Brasil. Por essa razão, segundo estudo do ICC Brasil, o país pode gerar até R$ 100 bilhões em receitas no mercado de carbono até 2030. O Espírito Santo tem a oportunidade de estar à frente nesse mercado e garantir parte dessa fatia.
Existem diversos projetos capixabas que possuem potencial de gerar créditos de carbono, como o reflorestamento da Mata Atlântica no entorno de bacias hidrográficas como o Rio Santa Maria da Vitória, além de iniciativas de agricultura regenerativa e manejo sustentável no norte do Estado, bem como, o tratamento e reaproveitamento de resíduos sólidos em polos industriais como Serra ou Cariacica.
O Espírito Santo, ao adotar uma agenda de estímulos inteligentes ao mercado de carbono, pode atrair capital nacional e internacional, posicionando-se como um hub de soluções climáticas e inovação ESG. Trata-se de uma visão de futuro em que sustentabilidade e lucratividade caminham juntas — e que começa com ações concretas no presente.