Artigo Ibef-ES

Do petróleo ao verde: como o ES está financiando o futuro sustentável

Fundos de descarbonização ganham protagonismo como ferramenta estratégica para alinhar crescimento econômico e metas climáticas

Sustentabilidade
Sustentabilidade. Foto: Canva

*Artigo escrito por Eliomar Bufon Lube, advogado empresarial, especialista em operações de M&A e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do Ibef-ES.

A urgência climática global impõe uma transformação estrutural da economia. Nesse cenário, os fundos de descarbonização emergem como instrumentos indispensáveis para financiar a transição para modelos produtivos de baixo carbono.

Esses fundos destinam recursos públicos e privados a projetos que promovem a redução de emissões de gases de efeito estufa, viabilizando investimentos que, por seus riscos ou horizontes de retorno, não atrairiam capital tradicional.

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Para o setor empresarial, os fundos de descarbonização representam uma oportunidade estratégica. Ao financiarem inovação tecnológica, eficiência energética e mudanças em processos industriais, eles permitem que as empresas antecipem exigências regulatórias e ganhem competitividade em mercados cada vez mais orientados por critérios ESG.

Mais do que isso, esse financiamento viabiliza a adaptação a uma economia que internaliza os custos ambientais da atividade produtiva – o que se tornará padrão nos próximos anos.

Papel do Estado

No entanto, a experiência internacional, como aponta Leah Downey (2025), revela que apenas mecanismos voluntários e incentivos não são suficientes, e o Estado deve exercer seu poder coercitivo legítimo para direcionar o ecossistema empresarial à agenda climática.

Isso pode se dar, por exemplo, por meio de exigências regulatórias, políticas de crédito direcionado ou penalizações para investimentos em setores intensivos em carbono. A manutenção dessa capacidade coercitiva é, inclusive, essencial para a vitalidade democrática, uma vez que expressa o poder coletivo da sociedade sobre os rumos econômicos e ambientais.

No Brasil

No Brasil, um exemplo concreto dessa abordagem pode ser visto no Fundo Soberano do Estado do Espírito Santo. Instituído com parte dos royalties do petróleo, o fundo foi redesenhado com foco em investimentos sustentáveis, buscando apoiar projetos de inovação, energias limpas e preservação ambiental.

Essa destinação estratégica sinaliza o reconhecimento da necessidade de alinhar o desenvolvimento econômico à transição verde e posiciona o Estado como protagonista no financiamento da descarbonização.

Ao articular instrumentos financeiros com objetivos ambientais, o Fundo Soberano capixaba adota uma postura que vai além do incentivo: ele impõe critérios e condicionantes de sustentabilidade como condição para alocação de recursos.

Essa lógica está em consonância com a proposta de políticas públicas coercitivas no campo ambiental, que não apenas estimulam boas práticas, mas as tornam obrigatórias para o acesso a financiamento público.

A convergência entre os interesses empresariais e as exigências da política pública é, portanto, indispensável.

Fundos de descarbonização, quando bem desenhados e operados sob parâmetros claros de governança e impacto, podem ser a ponte entre a responsabilidade ambiental e a viabilidade econômica — tanto no setor privado quanto no público.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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