
*Artigo escrito por Eliomar Bufon Lube, advogado empresarial, especialista em operações de M&A e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do Ibef-ES.
A crescente integração dos fatores ESG na análise de valor das empresas tem provocado mudanças relevantes na forma como o mercado avalia ativos e estrutura decisões de financiamento.
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Em especial, o desempenho ESG deixou de ser apenas uma dimensão reputacional e passou a influenciar diretamente os preços das ações e, por consequência, a estrutura de capital das organizações.
Empresas com altos índices de desempenho ESG tendem a apresentar uma valorização de mercado superior ao seu valor intrínseco, fenômeno que pode ser interpretado como uma “superavaliação”.
Esse efeito é impulsionado pelo aumento da demanda de investidores institucionais e fundos com mandatos sustentáveis. Esses que veem nas práticas ESG um sinal de menor risco e maior resiliência.
Por outro lado, empresas subavaliadas também se beneficiam de melhorias no seu perfil ESG, aproximando seus preços de mercado ao valor real estimado.
Esse descolamento entre preço e valor não é meramente especulativo. A assimetria de informações, especialmente sobre os impactos concretos das práticas ESG, e a crescente sensibilidade do mercado a temas de sustentabilidade alimentam esse efeito.
De maneira prática, a percepção positiva sobre o ESG pode gerar uma precificação acima do esperado, ainda que os fundamentos econômicos da empresa não tenham mudado significativamente.
ESG
Essa valorização adicional tem reflexos diretos na estrutura de capital. Empresas que percebem sua ação valorizada por motivos ESG podem optar por emitir ações em vez de contrair dívidas. Aproveitando o “timing de mercado” para captar recursos com menor custo.
Essa escolha, coerente com a teoria do market timing, representa uma mudança estratégica relevante. Onde o ESG passa a ser não apenas uma pauta de impacto social, mas também um instrumento financeiro para ampliar o acesso ao capital.
É importante notar que a relação entre ESG e capital não é linear nem automática. Setores mais expostos a riscos ambientais ou sociais, como energia, alimentos e finanças, tendem a ser mais sensíveis a esses efeitos. Além disso, a governança corporativa continua sendo o pilar que sustenta a credibilidade dessas práticas no longo prazo.
Assim, gestores financeiros e investidores devem considerar o desempenho ESG não apenas como critério de responsabilidade socioambiental, mas como variável estratégica que influencia diretamente a atratividade da empresa, sua estrutura de capital e seu posicionamento no mercado.
O desafio agora é interpretar essas métricas com critério, evitando decisões baseadas apenas em modismos ou pressões externas.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.