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Estruturar para crescer: o papel da governança nas empresas de menor porte

Adotar boas práticas deixa de ser exclusividade de grandes corporações e se consolida como estratégia de sobrevivência e crescimento

Foto: Freepik
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Artigo escrito por Joanna Ribeiro Vieira, advogada atuante nas áreas do Direito Societário e Empresarial, membro do Ibef Academy.

No cenário empresarial brasileiro, as pequenas e médias empresas representam a espinha dorsal da economia, sendo responsáveis por uma parcela significativa da geração de empregos e do Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar de sua importância, muitas dessas organizações ainda veem a governança corporativa como um conceito distante, reservado apenas às grandes corporações. No entanto, a adoção de práticas de governança é essencial para a sustentabilidade e o crescimento dessas sociedades.

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De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle.

Seu objetivo é assegurar a longevidade da organização, promovendo a transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

Empresas de pequeno e médio porte

Para as empresas de pequeno e médio porte, a implementação de práticas de governança pode parecer desafiadora devido a recursos limitados e estruturas organizacionais menos formalizadas. Contudo, a governança não é um modelo único e pode ser adaptada à realidade de cada empresa.

A adoção de práticas simples, como a definição clara de papéis e responsabilidades, a formalização de processos decisórios e a transparência na comunicação já representam um avanço significativo.

Além disso, a governança corporativa contribui para a atração de investimentos, melhoria da gestão de riscos e fortalecimento da reputação da empresa. Investidores e parceiros de negócios valorizam organizações que demonstram comprometimento com boas práticas de gestão, o que pode abrir portas para novas oportunidades e mercados.

Segundo levantamento do Sebrae, cerca de 60% das micro e pequenas empresas brasileiras encerram suas atividades antes de completarem cinco anos. Entre os principais motivos estão a má gestão, dificuldade financeira, a ausência de planejamento estratégico e conflitos societários.

Governança corporativa

A governança corporativa atua justamente como um instrumento preventivo e estruturante, reduzindo riscos internos e promovendo maior eficiência organizacional.

Empresas que adotam práticas de governança conseguem, por exemplo, identificar gargalos operacionais mais rapidamente, planejar sucessões com mais segurança e atrair crédito em condições mais vantajosas.

Exemplos de governança

Um bom exemplo de boas práticas de governança corporativa é a Natura &Co, holding que reúne marcas como Natura, Avon, The Body Shop e Aesop. A companhia é referência em transparência, responsabilidade socioambiental e estrutura de governança.

Seu Conselho de Administração é composto majoritariamente por membros independentes e diversos, o que fortalece a tomada de decisão estratégica e reduz conflitos de interesse.

Além disso, a Natura adota políticas robustas de ESG (ambiental, social e governança), sendo a primeira empresa de capital aberto no Brasil a receber o selo B Corp, que reconhece organizações comprometidas com o bem estar ambiental e social. A governança bem estruturada tem sido decisiva para a expansão global da empresa, fortalecendo sua reputação, atraindo investidores e mantendo sua unidade.

Na contramão dos exemplos positivos, o caso da Americanas S.A. ilustra os riscos da negligência com práticas estruturadas de governança. Em 2023, a empresa revelou um rombo contábil de mais de R$ 20 bilhões.

A crise expôs fragilidades graves na supervisão do Conselho de Administração e na função da auditoria interna, além de questionamentos sobre a independência e diligência dos conselheiros.

As consequências foram devastadoras: perda de valor de mercado, impacto sobre fornecedores, investidores e credores, além de um profundo abalo reputacional. O episódio reforça como a falta de transparência, controles internos e prestação de contas pode comprometer até as empresas mais consolidadas do país.

Em resumo, a governança deixou de ser uma vantagem competitiva para se tornar um fator de sobrevivência, especialmente para quem deseja perpetuar o negócio além da primeira ou segunda geração. O desafio dessas sociedades é adotar práticas proporcionais ao seu porte, cultura e momento, com um olhar de longo prazo.

Porque, afinal, governança não é sobre tamanho, é sobre desenvolvimento, consolidação e estabilidade.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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