
*Artigo escrito por Gabriel Schaydegger, graduando em Direito na FDV, estagiário no escritório Alexandre Dalla Bernardina e Advogados Associados, integrante do Comitê Ibef Agro e membro do Ibef Academy.
Se você acompanha o noticiário esportivo internacional, deve ter visto a venda do Boston Celtics por impressionantes 6,1 bilhões de dólares. À primeira vista, pode parecer apenas mais um número bilionário típico das grandes ligas americanas, mas essa transação carrega uma mensagem clara: o esporte, quando tratado com profissionalismo, visão estratégica e foco no futuro, gera valor.
Enquanto isso, o cenário esportivo brasileiro, rico em história e paixão, ainda luta com velhos problemas de governança e sustentabilidade. Não falta talento nem torcida. Falta o que sobra na NBA: gestão profissional.
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NBA e sucesso global
A NBA não se tornou um fenômeno global por acaso. Por trás das jogadas espetaculares, existe uma estrutura empresarial sofisticada, com metas claras. Tudo, desde a gestão do comissário até as estratégias de marketing digital, é pensado estrategicamente.
Não por acaso, o Brasil se tornou o segundo maior mercado da liga fora dos EUA. Eles entenderam o potencial do Brasil antes mesmo dos representantes nacionais.
Boston Celtics
O Boston Celtics ilustra bem essa lógica. Comprado por 360 milhões de dólares em 2002, foi revendido por 6,1 bilhões pouco mais de 20 anos depois. Isso não é só paixão pelo basquete, mas resultado de planejamento financeiro, valorização da marca, investimentos em estrutura e expansão da base global de fãs. Eles foram muito além da quadra.
O contraste com o futebol brasileiro é gritante. Ainda se engatinha na criação de ligas independentes, na adoção de fair play financeiro e na profissionalização dos clubes.
Persistem gestões personalistas, centralizadoras e pouco transparentes. Figuras como Eurico Miranda, que por décadas comandou o Clube de Regatas Vasco da Gama com lógica quase feudal, são exemplos de um modelo ultrapassado que resiste à modernização.
Lá fora, ligas equilibradas com teto salarial e divisão de receitas estimulam a competitividade sem comprometer a saúde financeira.
O Celtics ultrapassou o teto salarial, sim, mas com um plano claro de retorno. Isso é ousadia com responsabilidade, algo raro por aqui.
Consumo da NBA
Outro ponto fundamental é a experiência do fã. A NBA entendeu que torcedores não querem apenas consumir: querem pertencer, participar, se emocionar. Ações como a NBA House no Brasil, transmissões multiplataforma e presença nas redes sociais criam conexão real com o público.
Já o basquete brasileiro, ao lado da NBB, mostra o quanto ainda se precisa evoluir em engajamento e marketing esportivo.
A NBA e o Boston Celtics mostram que é possível construir um esporte sustentável, rentável e apaixonante. Mas isso exige abandonar o amadorismo, romper com práticas arcaicas e abraçar a modernização. Isso passa por uma nova mentalidade nos clubes, nas federações e nas empresas que giram em torno do esporte.
Não se trata de copiar modelos prontos. Cada país tem sua realidade, mas é possível aprender com quem chegou onde se quer estar. Governança profissional, planejamento de longo prazo, fortalecimento de marca e conexão com o público não são luxo.
O esporte brasileiro tem tudo para dar certo. Só precisa parar de viver de lampejos e começar a construir com consistência. A venda do Celtics não é só uma negociação bilionária. É um símbolo do que acontece quando se leva o esporte a sério.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.