
*Artigo escrito por Felipe Valfre, advogado e advisor de capital para desenvolvimento de tecnologia e inovação, CEO Valfre Advogados e membro do comitê qualificado de conteúdo de inovação e tecnologia do Ibef-ES.
O avanço da tecnologia criou uma dinâmica de urgência permanente. Toda semana, uma nova solução promete transformar a produtividade, o relacionamento com o cliente ou a eficiência operacional.
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Esse ritmo, que deveria ampliar possibilidades, tem atrasado decisões estratégicas. Em vez de priorizar, muitos negócios ficam presos no ciclo interminável de teste, comparação e recomeço.
A abundância de alternativas tem dificultado algo essencial: escolher, implementar e sustentar uma solução até que ela entregue resultado.
Inteligências artificiais e tecnologias
A onda recente das inteligências artificiais exemplifica esse cenário. ChatGPT, Gemini, Claude, Grok, Perplexity. Cada uma com sua vocação, cada uma lançando novos recursos semana após semana.
O radar precisa estar atento. Acompanhar o que está emergindo é parte da responsabilidade estratégica. Mas há uma diferença entre acompanhar e se perder em experimentação contínua.
Se uma ferramenta já resolve o problema central, é ela que deve ser priorizada. Dessa forma, as demais devem ter acompanhamento, não promovidos a prioridade sem critério. Crescimento exige foco. E foco exige escolhas conscientes.
Esse fenômeno é impulsionado por um sentimento cada vez mais comum: o medo de estar ficando para trás. A sigla é conhecida — FOMO, fear of missing out —, mas o impacto vai além da ansiedade.
Ele afeta a estrutura do negócio. Quando tudo parece urgente, nada é resolvido com profundidade. E o que, dessa maneira, deveria impulsionar o crescimento acaba gerando dispersão operacional.
Inflexão do mercado
O mercado vive uma inflexão como poucas vezes se viu na história recente. O capital ficou mais seletivo. O cliente, mais exigente. E o tempo de validação, mais curto. Nesse cenário, testar tudo pode parecer ousadia, mas muitas vezes revela indecisão.
O diferencial está em saber quando parar de experimentar e começar a construir. O que impulsiona o crescimento não é a tecnologia da moda, mas a capacidade de manter coerência em meio à velocidade das mudanças.
Por fim, direção é um ativo raro – e, como todo recurso estratégico, a construção deve ser com intenção, não por impulso.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.