*Artigo escrito por Gabriel Schaydegger, graduando em direito na FDV, estagiário no escritório Alexandre Dalla Bernardina e Advogados Associados, integrante do comitê Ibef agro e membro do Ibef Academy.
O diretor financeiro, ou CFO, ocupa uma das posições mais estratégicas e, ao mesmo tempo, mais sensíveis dentro de uma empresa.
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Não se trata apenas de cuidar do caixa ou fechar balanços. Ele é a figura que garante a saúde financeira, a transparência das contas e, muitas vezes, a própria reputação da companhia no mercado.
A linha entre um erro contábil e uma fraude
Em um cenário cada vez mais marcado por fiscalizações rigorosas, exigências de compliance e investidores atentos, a linha entre um erro contábil e uma fraude pode ser tênue.
E é justamente aqui que mora o grande desafio: até que ponto o diretor financeiro pode ser responsabilizado por fraudes ou desvios cometidos por outros colaboradores ou departamentos?
A legislação brasileira, especialmente a Lei das Sociedades por Ações, já prevê que administradores respondem solidariamente por atos ilícitos praticados em sua gestão.
Isso significa que, mesmo sem ter participado diretamente de um desvio ou manipulação contábil, o responsável pela área financeira pode ser cobrado se ficar comprovado que houve omissão, negligência ou falha no dever de vigilância.
O caso clássico é aquele em que a empresa apresenta balanços superestimados para atrair investidores ou facilitar crédito. Quando o problema vem à tona, não é apenas o responsável direto que sofre as consequências.
O diretor financeiro pode ter que responder civil e até criminalmente, além de lidar com os danos à sua reputação.
Pressão do resultado
Outro ponto sensível é a chamada “pressão do resultado”. Em muitas companhias, a cobrança por metas agressivas cria um ambiente onde pequenas distorções começam a ter tolerância, abrindo espaço para fraudes maiores.
Nesse contexto, surge a encruzilhada: manter a integridade das informações ou ceder à pressão por resultados imediatos.
O papel de guardião ético vai muito além da técnica contábil. Cabe a quem ocupa essa função construir uma cultura de integridade, investir em controles internos robustos, auditar processos e incentivar canais de denúncia eficazes.
É fundamental ter autonomia para questionar decisões duvidosas e até recusar práticas que violem princípios contábeis ou legais.
Líder como um exemplo ético
Adotar uma postura firme não apenas protege juridicamente, mas também fortalece a imagem da empresa e gera confiança em investidores, clientes e parceiros.
Afinal, em um mercado cada vez mais sensível a questões de governança, um desvio contábil não afeta apenas o balanço: impacta o valor da marca, a continuidade do negócio e a vida de centenas ou milhares de pessoas.
Mais do que um técnico, o líder financeiro precisa ser um exemplo ético, com coragem para tomar decisões difíceis.
É preciso sensibilidade para perceber sinais de fraudes ou irregularidades e agir rapidamente. Não basta dizer que não sabia ou que não participou; a omissão também é punida.
Em última análise, a função exige não apenas profundo conhecimento financeiro, mas também firmeza de caráter.
Esse equilíbrio é o que garante não apenas a saúde da empresa, mas também a segurança do próprio profissional diante de um dos maiores riscos do mundo corporativo: a falta de transparência.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.