Artigo Ibef-ES

Sem anjo, não tem começo: o vácuo de capital nas startups capixabas

ES ainda não possui investimentos claros em startups, por isso empresas com potencial se perdem por ausência de apoio estratégico

Foto: Freepik
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*Artigo escrito por Felipe Valfre, advogado de startups e negócios inovadores, membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Inovação e Tecnologia do Ibef-ES.

O Espírito Santo traçou metas ambiciosas para se tornar um Estado mais inovador, tecnológico e conectado com o futuro. E vem se movimentando, mas o topo do funil — onde os negócios nascem, se organizam e começam a buscar capital, a engrenagem ainda não gira com a força que deveria.

Falta densidade. Falta musculatura. Falta uma figura-chave que, em outros estados, já virou parte estrutural do ecossistema: o investidor anjo.

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Esse é o perfil que aposta nas fases mais iniciais. Que investe quando a startup ainda está construindo seu modelo, seu time, seu produto. Esse investidor ainda é raro por aqui. E, quando aparece, encontra um terreno pouco articulado.

O Espírito Santo ainda não tem uma ambiência clara nem um movimento local que posicione esse capital como parte do ciclo. O resultado? Startups com potencial se perdem por ausência de apoio estratégico. E o próprio Estado, que tanto investe em programas, editais e fundos, vê seus recursos avançarem pouco sobre o estágio mais sensível do ciclo: o começo.

Investidor anjo

É nesse cenário que o investidor anjo entra em cena. E ele não é só o primeiro Pix. É, muitas vezes, o primeiro sinal institucional que um negócio inovador recebe. Mas isso só funciona com visão, rede, conhecimento e vontade de construir algo ainda em formação.

O Espírito Santo precisa provocar o surgimento desse perfil. Gente com bagagem, capital disponível e interesse estratégico no desenvolvimento do ecossistema. Gente que compreende que investir no early stage é entrar em um jogo que envolve múltiplos, sim — mas que também molda o que virá depois.

Nos últimos anos muitas startups locais encerraram as atividades não por falta de tecnologia, mas por ausência daquele primeiro impulso estratégico que viabiliza a virada.

FUNSES 1

A ausência desse capital inteligente no early stage abre um vácuo que nenhum fundo de venture capital — como o FUNSES 1, veículo do Fundo Soberano do Estado — está desenhado para preencher. E nem precisa.

O FUNSES 1 atua de forma consistente em outra camada do funil, voltada a negócios maduros, com estrutura e tração. O desafio está antes disso. Está em formar a base que permitirá que mais negócios capixabas cheguem, com preparo, ao estágio em que esse capital público pode operar.

Negócios capixabas

E a maioria dos negócios capixabas ainda não está nesse ponto — e não vai chegar lá se ninguém ajudar a pavimentar o caminho anterior.

É preciso cuidar da ambiência. Formar novos investidores. Engajar empresários que saibam que ser anjo é uma escolha estratégica — um movimento de construção e aposta. É investimento, com todas as letras. E o retorno pode vir em múltiplos financeiros, em impacto ou em legado empresarial. Nenhum desses caminhos se anula. Ao contrário: quando o jogo é bem jogado, eles se combinam.

Porque, sem anjo, não tem começo. E, sem começo, nem o melhor programa de fomento cumpre seu papel se faltar quem, lá atrás, aposte que vale a pena tentar.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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