*Artigo escrito por José Mauro Rocha de Barros, diretor regional da Associação Brasileira dos Mentores de Negócios, sócio fundador da Sociedade Yotta, conselheiro consultivo, membro do Comitê Ibef Agro e do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão do Ibef-ES.
O que leva um país do tamanho de Sergipe, situado no deserto, cercado por tensões geopolíticas e quase sem recursos naturais, a ser considerado a “Startup Nation“?
Por que Israel, com apenas 21 mil km², ou seja, menos da metade do território do Espírito Santo, tem hoje um PIB superior a US$ 500 bilhões (cerca de 15 vezes maior que o do ES) e uma renda per capita seis vezes acima da capixaba?
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Essas perguntas não são retóricas. São um convite para reflexão estratégica. Israel transformou a escassez em ativo. E isso não é discurso inspiracional — é fruto de alinhamento sistêmico e obsessão por impacto.
Mesmo com menos território e um ambiente geográfico adverso, o país investiu pesadamente em educação, capacitação tecnológica, cultura de risco e ecossistemas de inovação interligados, com presença dos quatro eixos da chamada Quadruplica Hélice da Inovação: governo, academia, setor privado e sociedade civil.
Espírito Santo
Enquanto isso, o Espírito Santo, com mais que o dobro de área, uma posição geográfica privilegiada e uma economia baseada em agronegócio, petróleo, celulose, logística e minério, mantém uma trajetória linear, exportadora de commodities e pouco exposta a tecnologias disruptivas.
O Espírito Santo tem população 2,5 vezes menor que a de Israel, e densidade de inovação, proporcionalmente, ainda mais baixa. Tem um PIB per capita em torno de US$ 8 mil, enquanto o israelense ultrapassa US$ 52 mil.
Não lhe faltam ativos. O estado do ES tem uma base logística estratégica, instituições de ensino como a Ufes, Ifes, UVV, Fucape e bons parques tecnológicos. E dispõe de talentos e capital humano muito qualificados. Mas ainda há necessidade de fortalecer a orquestração, mentalidade de risco, desenvolvimento de capital humano focado em problemas reais e visão de longo prazo.
Inovação
O exemplo de Israel mostra que a inovação dificilmente surge em contextos confortáveis; ela tende a florescer em cenários marcados pela urgência e pela necessidade de superação. Lá, o serviço militar é também escola de liderança e resolução de problemas.
Lá, os militares de hoje são os fundadores das startups de amanhã. A tecnologia não é apenas uma pauta, é uma missão nacional. Um bom exemplo disso é que, em 2024, esse país tinha 1.600 startups contra 134 no ES, uma densidade 5 vezes maior per capita.
O Brasil, é verdade, já experimenta esse modelo. O Cubo Itaú, em São Paulo, o Porto Digital em Recife, o San Pedro Valley em BH, a Inova Unicamp, são expressões de um país que quer — mas ainda não organizou — seu próprio “Startup Nation”.
O Espírito Santo tem tudo para ser um laboratório regional desse futuro. Mas isso exige uma decisão firme, com menos zona de conforto e mais engenharia de propósito; menos medo de errar e mais governança para aprender rápido; menos visão setorial e mais construção de ecossistemas integrados.
Israel não é um mito. É uma construção deliberada. Eles fizeram tudo isto no deserto, o que motiva, e muito, o povo capixaba a conseguir fazer e ter muito sucesso às margens do Atlântico.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.