
*Artigo escrito por Arthur Trindade, gerente corporativo da Vix Logística e membro do comitê qualificado de conteúdo de economia e finanças do Ibef-ES.
Exportar sempre foi sinônimo de força para o Espírito Santo. Ao longo dos anos, o estado construiu uma base sólida na produção de bens de alto valor — como celulose, rochas ornamentais, aço, café e petróleo — e, com isso, abriu caminho para o mundo. Mas, recentemente, esse caminho sofreu um abalo.
Leia também: ESG entra no balanço: impacto estratégico na precificação das empresas
Em julho de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros. A decisão tem pano de fundo político, mas os impactos são econômicos e imediatos.
Exportações do Espírito Santo
E o Espírito Santo, que exportou cerca de US$ 3,1 bilhões aos EUA em 2024, sente essa pressão com mais força do que muitos estados.
Logo nos primeiros sinais das novas tarifas, as exportações totais do estado despencaram 34,7% em abril de 2025, passando de US$ 974 milhões para US$ 636 milhões no comparativo com o mesmo mês do ano anterior.
O setor siderúrgico foi um dos mais afetados. Só em abril, as exportações de ferro e aço caíram 57,9%, saindo de R$ 183,7 milhões para R$ 77,4 milhões. O impacto foi direto nas receitas, na produção e, naturalmente, na confiança do exportador capixaba.
Diante desse cenário, é natural que surjam dúvidas. Como sustentar o crescimento em um ambiente internacional imprevisível? Como competir quando o custo dos produtos salta quase pela metade ao cruzar uma fronteira?
Mas talvez a pergunta mais relevante seja outra: como transformar esse choque em impulso?
A verdade é que o Espírito Santo já vinha operando com um alto grau de concentração nas exportações — principalmente voltado para os EUA, China e Europa. E toda concentração traz risco.
O episódio das tarifas pode, portanto, ser um chamado. Uma chance de ampliar horizontes, redesenhar rotas e reposicionar o estado no tabuleiro global.
Portas abertas para diversificação
Existem mercados ainda pouco explorados que podem representar novas avenidas de crescimento. América Latina, África, Sudeste Asiático e Oriente Médio são regiões onde a demanda por alimentos, matérias-primas e soluções sustentáveis está em ascensão.
O acordo de livre comércio entre Mercosul e Singapura, por exemplo, já abre portas concretas para essa diversificação.
Claro, diversificar leva tempo. Requer esforço diplomático, adaptação logística e inteligência de mercado. Mas é viável — e necessário.
Com apoio de instituições como o Ibef-ES, Findes, Sebrae, ApexBrasil e o próprio governo estadual, é possível construir estratégias robustas de internacionalização, capacitar empresas e reduzir a dependência de poucos destinos.
O Espírito Santo tem vocação exportadora. Tem infraestrutura, capital humano e ativos valiosos. Agora, precisa transformar adversidade em oportunidade, incerteza em expansão. Nem toda tarifa precisa significar um bloqueio.
Algumas, quando enfrentadas com visão estratégica, podem se tornar pontes para mercados ainda mais promissores.
Se o cenário externo se complicou, que a resposta do ES seja se fortalecer por dentro e se abrir por fora — com inteligência, ambição e resiliência.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.