*Artigo escrito por Érico Colodetti Filho, planejador financeiro, professor, mestre em finanças, assessor de investimentos e apresentador do videocast “Me tira do perrengue”.
Em um movimento que abalou as relações bilaterais, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou ontem (9 de julho de 2025) o aumento de tarifas para 50% sobre todas as importações brasileiras, com vigência a partir de 1º de agosto.
A medida, justificada como uma retaliação política às investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, representa uma decisão sem precedentes no histórico comercial entre os dois países.
Conforme noticiado por veículos como o The Guardian, o anúncio surpreendeu os mercados e reacendeu o debate sobre a soberania brasileira, reforçando a máxima de que o comércio internacional é profundamente vulnerável a questões geopolíticas.
Impactos
O impacto imediato foi sentido no mercado cambial, onde o real recuou mais de 2% frente ao dólar logo após o anúncio, refletindo a extrema sensibilidade da economia brasileira a choques externos. A expectativa é de uma pressão inflacionária adicional, principalmente em commodities e insumos importados.
Analistas como os da Oxford Analytica sinalizam que as tarifas têm potencial para recalibrar as projeções de inflação no Brasil, embora o efeito final dependa da capacidade do país de compensar perdas com novos acordos comerciais.
Setores exportadores com forte presença no mercado norte-americano, como a cafeicultura e a pecuária, enfrentarão desafios severos para manter suas margens de lucro. Além disso, a imposição abrupta de tarifas tende a encarecer produtos, diminuir a receita de exportadores e elevar o risco-país (CDS), que já se encontrava sob pressão.
De acordo com um modelo do Federal Reserve, medidas protecionistas como esta geram perdas de produtividade, aumentam os custos de produção e podem reduzir o PIB, mesmo que parte da receita tarifária seja revertida para o consumo doméstico.
Janelas de oportunidades
Contudo, para o investidor com uma abordagem planejada, a crise pode revelar janelas de oportunidade. Em um cenário de volatilidade cambial e incerteza, a renda fixa, especialmente os títulos do Tesouro IPCA+, surge como um porto seguro por estarem indexados à inflação.
Ao mesmo tempo, fundos multimercado e cambiais oferecem mecanismos de proteção eficazes contra a desvalorização do real. No mercado de ações, o foco se desloca: empresas orientadas para o mercado interno, como as de varejo e infraestrutura, podem se beneficiar da substituição de importações, que se tornam mais caras.
Análises de mercado, como as da XP Investimentos, apontam ainda que a reestruturação forçada dos fluxos comerciais pode acelerar investimentos em setores estratégicos como agronegócio, logística e energia, visando novos mercados.
Nesse cenário complexo, uma estratégia de portfólio robusta deve considerar a manutenção de uma reserva de emergência sólida, uma alocação estratégica em renda fixa indexada, a diversificação internacional para mitigar riscos e uma seleção setorial criteriosa, com foco em proteção e crescimento.
Adaptação inteligente
A tarifa de 50% representa um choque que exige adaptação inteligente. Se encarada apenas como um risco, a medida pode ser paralisante. Porém, com visão técnica, planejamento rigoroso e suporte profissional, ela se transforma em um momento para o reposicionamento inteligente do patrimônio.
Vigilância, disciplina e diversificação serão, mais do que nunca, os pilares para navegar neste período desafiador.