Mesmo com o cenário econômico estagnado, em pouco mais de um mês, o Banco Central (BC) elevou a taxa de juros básicos – a Selic – para 11,25%, três dias após as eleições, e na última quarta-feira (03), para 11,75% – maior percentual desde agosto de 2011. A decisão, tomada por unanimidade no Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, não causou boa impressão para o empresário do comércio capixaba.
A elevação na taxa dos juros, em pouco tempo, gerou estranhamento dos empresários do comércio capixaba e agravou a sensação de prejuízo, principalmente no setor produtivo, que terá seu desempenho ainda mais defasado.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Vitória (Sindivarejista de Vitória), João Elvécio Faé, a medida inflaciona o mercado e desanima o comerciante, mas pode trazer benefícios em longo prazo.
“A medida é severa para conter a inflação, amplia as dificuldades das empresas comerciais e posterga a saída do Brasil da zona de crescimento na margem de zero. Em curto prazo, representa sacrifício, mas pode ser que esse arrocho, em médio e longo prazo, traga a estabilidade financeira tão esperada pelo setor do comércio”, afirma Faé.
Por outro lado, o presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios do Espírito Santo (Sincaes), Waldês Calvi, avalia a medida como mais um agravante. A elevação dos juros pode ainda acentuar a crise de confiança do empresariado e do cidadão comum, causando paralisação nos investimentos e consumo, o que pode acarretar na dificuldade de crescimento, começando a ameaçar a geração de emprego e a estabilidade profissional da população.
Consumidor: quitação das dívidas fica mais cara
Os juros básicos em 11,75% aumentam a dificuldade do consumidor em quitar suas dívidas, segundo Calvi. “A medida tem reflexos negativos tanto para o empresário do comércio quanto para o consumidor. O aumento dos juros encarece o crédito, o que torna o consumidor receoso e aumenta a inadimplência”, explica.
A última vez que o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) esteve no centro da meta de inflação foi em agosto de 2010. Desde então, o índice esteve acima do limite máximo de tolerância, 6,5%, por 14 meses. Ele permanece acima desse teto desde agosto, e em outubro, último dado disponível, marcava 6,59%.
Emprego: aumento dos juros pode ameaçar indiretamente
Com o aumento dos juros para combater a inflação, manter a taxa satisfatória de desemprego fica cada vez mais incômoda, pois a produção encarece e o comerciante tem duas opções para cortar os gostos e tentar manter o seu empreendimento em condições confortáveis: reduzir o quadro de funcionários ou dividir o aumento no valor dos produtos e serviços com o cliente.
“A oferta de emprego já começou a cair”, afirma Calvi. E esta é a tendência quando as projeções da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-ES) para contratações temporárias para o final de ano de crescimento de até 2,5%. O Comércio concentra 70% das contratações, com desemprego, a renda familiar fica defasada, impossibilitando novas e compras o acesso ao crédito, além de aumentar a inadimplência.
Reajuste na Selic não é o suficiente para retomar o crescimento
Combater a inflação apenas com o reajuste da taxa de juros paralisa ainda mais a economia. Faé afirma que o governo precisa cortar seus próprios gastos, para reequilibrar a economia. “Insistir numa política fiscal mais rigorosa para que o combate à inflação tenha menos impacto sobre a atividade produtiva e o emprego”.
Um verdadeiro ajuste fiscal e reformas tributária e trabalhista seriam ações mais efetivas para combater a inflação, o baixo crescimento do país e o desequilíbrio das contas públicas. É preciso, primeiro, criar condições para que a inflação caia. “O governo precisa fechar as contas em dia, honrar seus compromissos, de modo que cumpra aquilo que prometeu, sem deixar de investir na infraestrutura”, ressalta Calvi.