Economia

Mercado financeiro já esperava derrota unânime de Lula

Especialistas afirmam que candidatura do ex-presidente não terá capacidade de afetar ciclo positivo da economia

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Foto: Divulgação
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A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo placar de 3 x 0 no TRF4 (Tribunal Regional Eleitoral da 4ª Região) já era aguardada pelo mercado financeiro.

Segundo especialistas do setor, um único voto favorável poderia fortalecer a candidatura do petista, derrubar a bolsa e disparar o dólar.

O diretor de câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, afirma que o preço atual dos ativos do mercado financeiro já leva em conta a impossibilidade de Lula disputar a eleição. No cenário de “otimismo”, ele cita o atual patamar do dólar próximo de R$ 3,20 e os recordes do índice Ibovespa.

— Se em algum momento a candidatura dele [Lula] começar a ganhar corpo, deve haver uma atuação mais defensiva, com dólar em alta e bolsa em queda.

A avaliação dos economistas é de que neste primeiro momento a candidatura do ex-presidente ao Planalto perde força e, ainda que ela seja efetivada, pouco mudará o ciclo positivo da economia, conforme explica o pesquisador da área de Economia Aplicada da Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getulio Vargas) Marcel Balassiano.

— Nesse curto prazo, em termos econômicos, não teremos um impacto tão grande. As eleições serão importantes para ver qual caminho a gente vai trilhar a partir de 2019.

O professor do instituto de economia da Unicamp (Universidade de Campinas) Ricardo Carneiro avalia que a candidatura do ex-presidente será incapaz de influenciar o “ciclo de liquidez” em curso nas economias mundiais.

— Se você pegar qualquer mercado do mundo hoje, vai ver que eles estão todos bombando. O ciclo de liquidez é muito forte e é ele que vai indicar o andamento da economia, não a candidatura do Lula ou o resultado desse julgamento.

Caso o ex-presidente tivesse contado com um voto no TRF4, a percepção em relação à candidatura seria diferente. Bergallo, por exemplo, destaca que o cenário com um voto favorável à absolvição mudaria muito nessa situação por abrir margem “para uma série de recursos que a defesa pode impetrar ao longo do ano, gerando uma grande instabilidade”.

— O efeito dele presidente tende a ser até pior para o mercado porque agora a gente não fala mais de incerteza, mas de uma política monetária desastrada que já foi implementada sem sucesso de um cara que está com raiva, que tende a imprimir um perfil populista e levar a economia para o buraco de novo.

Carneiro, por outro lado, afirma que a imagem de Lula criada pelos agentes do mercado financeira “não é verdadeira” e destaca não ver “radicalismo” nas propostas apresentadas pelo petista.

— Ele vai fazer, se for candidato, um programa reformista, atento para a questão social e voltado para o crescimento.

Carta ao povo brasileiro

Em entrevista à Bloomberg, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a sigla prepara uma nova edição da “Carta ao Povo Brasileiro”. A ideia, assim como ocorreu em 2002, é de acalmar os ânimos do mercado financeiro. Desta vez, no entanto, o foco do texto será a classe média.

O professor do instituto de economia da Unicamp vê o documento como uma “inciativa importante” para retomar a confiança de parte da população que passou a repudiar o governo petista.

De acordo com Carneiro, a carta não deve trazer um discurso radical e tende a falar de serviços públicos, educação, saúde, emprego e reforma tributária.

— Se você olhar bem, entre 2003 e 2013, você tem a ascensão social de cerca de 50 milhões de pessoas que saíram da pobreza e foram para a baixa classe média. Essas pessoas estão suscetíveis a serem capturadas de volta por um programa de aumento de emprego e melhoria da educação, saúde e serviços públicos.

Balassiano analisa que o documento elaborado pelo PT trará um viés eleitoral, sem grandes impactos econômicos, mas com um caráter reformista.

— Caso a reforma da Previdência não passe neste ano, aquele que assumir em 2019, seja ele Lula, Ciro, Marina, Meirelles ou Rodrigo Maia, deve tratar a reforma como um dos assuntos prioritários do novo governo.