O Espírito Santo, maior importador de carros do país, se destaca na compra de veículos híbridos e elétricos. Segundo o Detran, até novembro de 2024 o Estado já tinha 9.653 unidades deste tipo. Os automóveis que não emitem dióxido de carbono (CO2), visto que não queimam combustível, caíram no gosto dos capixabas e lotam pátios destinados às importações do produto.
Impulsionado por políticas de sustentabilidade, investimentos em novas tecnologias e compromissos ambientais, o movimento de transição para os veículos elétricos exige, no entanto, adaptações na infraestrutura das cidades e das residências dos proprietários dos carros.
Pensando nisso, alguns novos condomínios no Estado já estão sendo construídos com a infraestrutura elétrica necessária para suportar os carregadores dos carros elétricos, enquanto outros, mais antigos, buscam soluções para se adequar à transformação emergente.
Carregadores elétricos
Para entender o que é necessário para que os carregadores dos veículos funcionem de forma segura, primeiro é preciso compreender o que eles são.
Conforme o engenheiro da BeOn (empresa focada em metodologias e ferramentas de sustentabilidade), Felipe Teixeira, o equipamento é uma nova carga que precisa ser instalada em um local. Para que isto seja feito, é necessário saber se a estrutura (prédio ou casa) comporta aquela nova carga.
“É como se fosse um grande carregador de celular, porém ele precisa de uma robustez muito maior dada a potência que ele injeta”.
Para o engenheiro, hoje, no Espírito Santo, os empreendimentos residenciais que se adaptam aos carros elétricos se destacam:
Temos bastante incentivo para poder ter carro elétrico. Já sabemos que é uma tecnologia validada. Então, se você constrói um edifício sabendo que a pessoa que vai pegar esse apartamento já vai ter uma espécie de ‘posto de combustível’, então ele vai ter uma economia tanto no transporte quanto na qualidade de vida dele. É um diferencial muito grande
Felipe Teixeira, engenheiro da BeOn
Infraestrutura para carros elétricos
Pensando na latência do assunto, novas construções residenciais já se preparam para oferecer, desde o início, a possibilidade de instalação de carregadores para os carros elétricos.
É o caso do Manami Ocean Living, condomínio de alto padrão em construção em Guarapari. Lá, serão 72 apartamentos e cada um deles vai contar com pelo menos uma vaga com a infraestrutura necessária para a recarga dos veículos.
A arquiteta e gerente de produto Mariana Merçon explica que o ponto será ligado diretamente ao quadro de energia do apartamento. “Então, o consumo de energia só você paga, não vai ser o condomínio, nem o vizinho”.
Independentemente do proprietário de um dos apartamentos possuir ou não um veículo que precisa de carga, a infraestrutura já estará disponível para a instalação, o que possibilita mudanças futuras sem causar dores de cabeça.
Caberá ao dono do carro apenas a aquisição do próprio carregador, adequado ao modelo do automóvel.
Para Mariana, o principal benefício desta disponibilidade de infraestrutura é que os proprietários poderão carregar o carro durante o horário de descanso, em suas próprias casas, sem depender de pontos de recarga coletivos.
Quando o carro não estiver sendo utilizado, normalmente à noite, ele ficará carregando, para estar pronto para uso no próximo dia. Então, você não fica dependendo de utilizar um sistema público que nem sempre, por questões de infraestrutura e horário, permite que o carro fique carregando por um longo período de tempo.
Mariana Merçon, arquiteta
Prédios e residências já existentes
Felipe Teixeira explica que em prédios e empreendimentos já existentes a instalação dos pontos de recarga é mais difícil. No caso dos prédios – “condomínios verticais” –, a grande dificuldade é que “geralmente só há um ponto de entrada”.
Isso significa que se cada apartamento for instalar um carregador, a subestação de energia ficará sobrecarregada, o que pode ser perigoso para toda a estrutura. Por isso, a opção é este único ponto e, a partir dele, fazer a divisão por morador do gasto daquela energia disponível.
Já para os edifícios antigos, é necessário readequar a infraestrutura para que ela seja capaz de suportar a nova carga.
Segundo o advogado especializado em direito condominial e imobiliário e assessor jurídico do Sindicato Patronal de Condomínios e Empresas de Administração de Condomínios no Estado (Sipces), Roberto Merçon, em todos os casos é preciso se atentar à segurança.
Por isso, conta ele, é prevista para este mês a publicação de uma cartilha com normas de segurança para as garagens que contam com os carregadores. O material é elaborado pelo Corpo de Bombeiros, em parceria com o governo do estado de São Paulo e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
A importância de seguir regras e se atentar às especificidades de cada rede elétrica é evitar a ocorrência de incêndios e curto-circuitos causados pela sobrecarga.
Além disso, o advogado ressalta a necessidade de solucionar os problemas envolvendo os carros elétricos em assembleia. A medida é necessária para evitar que o gasto maior de energia cause prejuízo àqueles que não utilizam os pontos de recarga.
O morador não pode chegar lá embaixo e puxar a energia do condomínio, da área comum, e colocar no veículo dele. Ele tem que puxar a energia do medidor de energia do imóvel dele.
Roberto Merçon, advogado
Para isso, o proprietário deve estar amparado no parecer de um engenheiro elétrico, que saberá informar qual aquela carga a concessionária disponibiliza para aquele condomínio.
“Isso tudo requer autorização do condomínio. O importante é garantir que o sistema de recarga tenha balanceamento de carga, impedindo a divisão da energia entre todos os moradores. É preciso fazer um sistema de individualização de consumo”.