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Com a taxa Selic em 14,25%, o mercado imobiliário se vê diante do desafio de viabilizar os financiamentos de construção de novas unidades em um cenário econômico de restrição da oferta de crédito. Em uma simplificação da situação, nesse patamar de juros, o dinheiro fica mais caro, tanto para quem constrói, quanto para quem busca adquirir um imóvel.

Uma alternativa a essa escalada dos juros é o consórcio imobiliário, que não tem contratos atrelados à taxa Selic. A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) divulgou que em janeiro e fevereiro o total de cotas comercializadas para imóveis teve um aumento expressivo de 47,3%, na comparação com os dois primeiros meses de 2024. Já o número de participantes ativos cresceu 23,2%.

Alternativa aos juros altos

Para analisar os prós e contras dessa modalidade de financiamento, a coluna ouviu dois especialistas no assunto. O primeiro é Renan Calazans, da Calazans Consórcio, que atua há mais de 10 anos no Espírito Santo. Para ele, o motivo do crescimento pela modalidade consórcio imobiliário é a restrição do crédito nos grandes bancos. “O mercado entendeu que a ferramenta consórcio é a melhor opção, devido a seu baixo custo final, parcelas acessíveis, pagamento de taxa administrativa, flexibilização na comprovação de renda e flexibilidade para aquisição de imóvel”, diz.

Renan Calazans. Foto divulgação.

Calazans considera que a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) faz com que muitos acabem postergando ou desistindo do imóvel. Para esse público, o consórcio imobiliário ganha espaço “por não envolver juros absurdos dos bancos , permitindo um planejamento mais equilibrado e com menor impacto no orçamento”. Ele cita como vantagens haver menos exigências para adesão inicial e maior flexibilidade de prazos e valores, “o que tem atraído não só quem busca economizar, mas também investidores e compradores que não tem urgência para adquirir o imóvel”, analisa.

Taxas administrativas

As taxas administrativas dos consórcios imobiliários podem variar entre 15% e 25% do valor total do crédito ao longo do plano, mas a taxa não é cobrada toda de uma vez, e sim diluída nas parcelas mensais do consórcio, ou seja, o consorciado paga as parcelas ao longo do período do consórcio. “É uma alternativa inteligente para quem pode planejar e conseguir aumentar seu patrimônio sem descapitalizar, mas isso depende de estratégia e uma boa análise de alguém engajado com o projeto do cliente”, diz Calazans.

Público específico

Outro especialista no assunto, Ricardo Gava, executivo da Gava Crédito Imobiliário e diretor do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário (Secovi/ES), acredita que, embora a elevação da Selic dê mais visibilidade para outras formas de aquisição, como os consórcios, o financiamento segue como uma alternativa importante “especialmente no mercado de alto padrão, que continua aquecido”. Por outro lado, “muitos clientes do segmento médio passaram a reavaliar suas opções, seja por não terem crédito aprovado, seja por perderem poder de financiamento, e passaram a considerar o consórcio como uma forma viável e estruturada de se planejar”, diz.

Sem juros e com taxa de administração diluída ao longo do prazo, Gava entende que o consórcio se encaixa bem no perfil de quem pode esperar o momento certo de comprar o imóvel, com mais controle e organização financeira. “O consórcio reúne pontos que atraem quem busca planejamento e disciplina: não tem juros, permite usar a carta de crédito com flexibilidade e oferece uma alternativa para a compra parcelada do imóvel”, analisa.

Planejamento a longo prazo

Mesmo com a taxa de administração e com reajustes das parcelas por índices como INCC ou IPCA, o diretor da Secovi considera uma opção interessante para quem pensa no longo prazo. Lembrando que esses reajustes visam preservar o poder de compra da carta de crédito. “Além disso, já existem grupos com taxa de administração prefixada, o que ajuda a trazer mais previsibilidade para o consorciado”, lembra Gava.

Ricardo Gava. Foto divulgação.

Ele lembra que uma parcela de clientes perdeu poder de financiamento ou não consegue aprovação de crédito e, ainda assim, não quer abrir mão do objetivo de adquirir um bem. O consórcio oferece uma solução equilibrada, com pagamentos mensais ajustados à realidade de cada perfil e sem cobrança de juros.

“A principal característica do consórcio é que ele exige paciência, disciplina e planejamento. A contemplação não é imediata — ocorre por sorteio ou lance — o que significa que o consumidor precisa estar preparado para aguardar”, orienta.

Decisão na ponta do lápis

O consórcio não permite portabilidade para grupos com taxas mais baixas e não oferece desconto para quitação antecipada. “Por isso, é importante avaliar todos os custos envolvidos e fazer as contas para entender se essa opção se encaixa no seu orçamento, agora e no futuro”, diz.

O consórcio é uma excelente ferramenta de planejamento financeiro de longo prazo. Ele funciona como uma poupança programada, em que o consumidor contribui mensalmente até ser contemplado com a carta de crédito. Em cenários de juros altos e crédito mais restrito, é uma alternativa estratégica para quem consegue se organizar e aguardar o momento ideal da compra.

Alex Pandini

Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.

Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.