Sempre me fascinou como o universo do vinho guarda histórias e tradições. Por séculos, ele esteve ligado às vinícolas e adegas, entre safras, taças e memórias. Hoje, vejo como essa herança ultrapassa fronteiras e inspira até mesmo o mercado imobiliário de luxo, transformando o ato de morar em uma experiência sensorial.
No mundo inteiro, condomínios reinterpretam a enologia em sua arquitetura e serviços. E, se no Sul do Brasil já surgem exemplos como o Pericó Residence e o Sparkle Wine, é aqui, no coração das montanhas capixabas, que essa tendência ganha contornos únicos. Pedra Azul agora abriga o Vive le Vin Pedra Azul, um projeto inédito que une arte, arquitetura e natureza em um conceito de moradia temática inspirado no vinho.
Segundo Bruna e Paula Rody, responsáveis pelo conceito e pela arquitetura de interiores do empreendimento, a proposta foi pensada para refletir o vinho em todos os detalhes. “A Inspira Conceito & Design foi responsável pela criação do conceito imobiliário e projeto de design de interiores do Vive Le Vin, trazendo a harmonização do vinho e da arte como inspiração para todas as áreas, do branding, da arquitetura e do design às estratégias de marketing e customer experience.”
Elas acrescentam que “na arquitetura de interiores, refletimos o conceito através da escolha dos materiais, buscando uma abordagem inovadora, a partir da reinterpretação de elementos típicos das vinícolas europeias, como os muros de gabião e os barris de madeira, trazendo um olhar que ressignifica esses elementos icônicos de forma única e contemporânea”.
O empreendimento vai muito além da estética. Painéis artísticos simulam o movimento do líquido nas taças, escadarias lembram barris de carvalho e as áreas comuns oferecem uma verdadeira imersão: biblioteca, empório, bar e sala de degustação. Há ainda uma curadoria especial de arte capixaba, como a obra da designer Ana Paula Castro, que simboliza o percurso do vinho e suas memórias.
Tudo isso integrado ao cenário de Pedra Azul, com parreirais, fireplaces, caramanchões e decks que se fundem à paisagem. Os apartamentos, de 1 a 3 quartos, oferecem vistas panorâmicas para a montanha e o pôr do sol, aliados a acabamentos sofisticados e soluções sustentáveis, como reaproveitamento de água e recarga para veículos elétricos.
O Vive le Vin traduz perfeitamente o que acredito: morar pode, e deve, ser também uma celebração de estilo, história e identidade. E nada mais simbólico do que ver essa linguagem enraizada em nossa terra capixaba, unindo sofisticação, cultura e o charme das montanhas.
Para a arquiteta e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo, Elza Pinto, a arquitetura temática abre uma nova fronteira de mercado.
Antigas referências em fábricas e vinícolas estão sendo resgatadas e adaptadas pela arquitetura para se tornarem elementos-chave em condomínios e residências de luxo. Os arquitetos, por sua vez, criam projetos exclusivos para esses ambientes, que se mostram como uma nova e promissora oportunidade de mercado, gerando negócios rentáveis e vendas diretas.
Uma tendência global
No exterior, a mesma linguagem de sofisticação se consolida. Em Nova York, o One High Line integra uma wine tasting room ao exclusivo XI Club; o 53 West 53, vizinho ao MoMA, oferece lockers individuais e sala de degustação com teto em folha de ouro; e o 15 Central Park West disponibiliza cerca de 30 wine closets subterrâneos, disputados a valores que refletem a exclusividade de seu público.
Esses empreendimentos ultrapassam o design: são declarações de estilo de vida. O vinho deixa de ser apenas bebida para se tornar cultura, identidade e patrimônio. Espaços de degustação, armazenamento de safras raras e ambientações artísticas criam refúgios para quem busca não apenas um lar, mas uma experiência contínua de elegância.
A arquitetura da vinícola Antinori
A Cantina Antinori nel Chianti Classico, projetada pelo escritório Archea Associati em parceria com a Hydea, foi concluída em 2012, após sete anos de obras. Localizada entre Florença e Siena, a vinícola se integra às colinas toscanas, quase invisível na paisagem, ao acompanhar as curvas naturais do terreno.
O espaço foi pensado para unir produção e experiência: enquanto as uvas seguem o fluxo gravitacional até as adegas subterrâneas, os visitantes percorrem um trajeto ascendente, passando por áreas de produção, exposições, restaurante e auditório. No centro, as adegas de abóbadas em terracota criam um ambiente silencioso e solene, ideal para a maturação dos vinhos.
A icônica escada em espiral conecta os três níveis e simboliza essa fusão entre forma e função. Mais do que uma vinícola, o lugar abriga cultura, arte e enologia em perfeita harmonia.
Eu tive a oportunidade de viver essa experiência na Antinori e fiquei impressionada com a forma como a arquitetura se funde à essência do vinho. É um projeto que desperta os sentidos e transmite a mesma sensação que buscamos quando pensamos em morar em um espaço que une sofisticação, natureza e memória afetiva.