Economia

Mercado vê riscos com uma eventual alta de juros nos EUA

Mercado vê riscos com uma eventual alta de juros nos EUA Mercado vê riscos com uma eventual alta de juros nos EUA Mercado vê riscos com uma eventual alta de juros nos EUA Mercado vê riscos com uma eventual alta de juros nos EUA

Depois de um segundo trimestre marcado pelo avanço da vacinação e uma recuperação gradual da economia, o mercado financeiro começa a dar mais atenção aos riscos que podem atrapalhar o desempenho da atividade econômica no restante do ano e no ano que vem.

Na avaliação de Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV (antigo Banco Votorantim), os três principais obstáculos para a retomada são uma eventual mudança de direção na política monetária nos EUA – com um aperto na taxa básica de juros e a redução dos estímulos -, bem como a crise hídrica e as eleições presidenciais de 2022 no Brasil.

A preocupação é com um impacto negativo que esses movimentos podem ter nos preços das ações, de títulos no mercado financeiro e também no câmbio, e seus possíveis desdobramentos para a economia do País em 2022.

Segundo Padovani, o maior risco é uma possível mudança de direção na política de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. A meta da taxa de juros básica no país está hoje em um nível entre 0% e 0,25%. Mas o Fed tem sido pressionado a elevar os juros em razão da alta recente da inflação americana.

Em junho, o índice de preços ao consumidor subiu 0,9%, acima da projeção de 0,5% esperada pelo mercado. Em 12 meses, o indicador acumula alta de 5,4%, bem acima da meta do Fed, de 2%. A subida dos preços tem relação com a recuperação econômica global e o rearranjo de setores que estavam com a demanda reprimida por causa da pandemia. “Não faz sentido manter juro real negativo com a economia americana crescendo 7% em 2021, segundo a projeção do Fed”, diz o economista.

Na avaliação de Padovani, é possível que a autarquia decida reduzir as políticas de estímulo monetário antes do previsto, o que traz consequências para os mercados financeiros.

Padovani lembra a experiência de 2013, quando o Fed decidiu reduzir seu programa de compra de ativos adotado durante a crise financeira de 2008 como forma de estímulo monetário. Na época, também houve impacto no mercado brasileiro, com queda nos preços das ações e uma alta do dólar e dos juros. “O Fed e seus diretores têm chamado a atenção o tempo todo que estão atentos à experiência de 2013, dizendo que não vão repeti-la. Mas acho que os mercados estão muito esticados. Pode haver uma reprecificação de ativos”, diz.

A preocupação já tem dado o tom dos mercados internacionais desde junho e tende a se manter nos próximos meses. “A agenda, coincidentemente com a virada do semestre, está mudando. E quando muda, revela riscos”, afirma ele.

Apesar da preocupação com os efeitos sobre as ações e o câmbio, o economista não vê por enquanto uma mudança nas projeções para o crescimento e a inflação no Brasil já em 2021. O cenário para o ano, segundo ele, está dado. Mas os efeitos podem ser sentidos nos últimos meses de 2021 e no início de 2022. “Esses movimentos do mercado financeiro tornam a economia menos previsível. Investidores, consumidores, empresários, banqueiros, todos os agentes ficam mais cautelosos. E é natural que se transmita para a economia”, afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.