O tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros, que entra em vigor no dia 1º de agosto, acendeu um alerta no Espírito Santo. Com grande exportação e os EUA como principal parceiro comercial, o Estado deve ser diretamente afetado, especialmente os segmentos de metalurgia, siderurgia, construção civil, papel e celulose, petróleo e café.
A tarifa de 50%, proposta pelo ex-presidente Donald Trump e retomada agora, preocupa o setor produtivo capixaba, especialmente em segmentos que estão entre os mais expostos aos efeitos da nova tarifa, como os anteriormente citados.
Exportações em risco
De acordo com levantamento do Connect Fecomércio-ES, em parceria com o Sindiex, os EUA foram o principal destino das exportações capixabas no primeiro semestre de 2025.
Entre janeiro e junho, o ES exportou US$ 1,6 bilhão (R$ 8,944 bilhões), enquanto as importações americanas somaram US$ 1,1 bilhão (R$ 6,149 bilhões). Assim, o saldo da balança comercial foi de US$ 492 milhões (R$ 2,751 bilhões).
Os principais produtos enviados aos EUA incluem:
Produto | Valor em US$ | Valor em R$ |
---|---|---|
Produtos semiacabados e lingotes | US$ 498,7 milhões | R$ 2.787.833.000,00 |
Materiais de construção (cal e cimento) | US$ 400,7 milhões | R$ 2.239.913.000,00 |
Celulose | US$ 250,5 milhões | R$ 1.400.295.000,00 |
Minério de ferro e concentrados | US$ 225,9 milhões | R$ 1.262.781.000,00 |
Óleo bruto de petróleo | US$ 86,6 milhões | R$ 483.194.000,00 |
Café (torrado e em grão) | US$ 85,5 milhões | R$ 477.045.000,00 |
Além disso, os produtos ferro-gusa, geradores e especiarias estão na lista de destaque.
Com a nova taxação, esses itens devem perder competitividade no mercado americano, afetando diretamente empregos e renda no ES.
Impacto na produção e empregos
De acordo com o coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES, André Spalenza, a medida coloca a economia capixaba em situação de vulnerabilidade.
Essa taxação tem potencial para frear uma parte importante das nossas exportações. Vários setores capixabas dependem da demanda americana para manter sua produção e seus empregos. Por sua própria estrutura exportadora, o Espírito Santo se coloca em uma posição vulnerável frente às novas barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos. O impacto pode se traduzir em recuo de receitas, perda de mercado e pressão sobre as cadeias produtivas locais. O momento exige atenção e preparo do setor privado para um possível redesenho nas rotas comerciais tradicionais e criação de estratégias de diversificação, uma adaptação para evitar prejuízos maiores.
André Spalenza, coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES
Conforme divulgado por entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), os primeiros reflexos da nova tarifa já começaram:
- Cargas com destino aos EUA foram devolvidas.
- Compras canceladas por importadores americanos.
- Frigoríficos anunciaram férias coletivas.
Importações
Além das exportações, as importações capixabas dos EUA também são significativas, totalizando US$ 1,1 bilhão (R$ 6,149 bilhões) no semestre. Entre os principais itens estão:
Produto | Valor em US$ | Valor em R$ |
---|---|---|
Aeronaves e peças aeronáuticas | US$ 690 milhões | R$ 3.857.100.000,00 |
Carvão | US$ 246,7 milhões | R$ 1.379.053.000,00 |
Veículos automotores | US$ 47 milhões | R$ 262.730.000,00 |
Esses produtos atendem setores estratégicos como aviação, logística, energia e infraestrutura, e eventuais retaliações ou entraves podem afetar o abastecimento interno.
Mobilização e diplomacia
O governo brasileiro tenta reverter a decisão do tarifaço de Trump. Duas cartas oficiais tiveram como destino os EUA, o tema chegou à Organização Mundial do Comércio (OMC) e uma comitiva com oito senadores brasileiros embarcará para Washington nos próximos dias para dialogar com parlamentares e empresários norte-americanos.
Para Spalenza, é hora de união: “É fundamental que o setor produtivo se mobilize para mitigar os impactos da medida. É necessário buscar alternativas comerciais, fortalecer os laços com outros parceiros estratégicos e apoiar as negociações internacionais lideradas pelo governo federal”.
A pesquisa completa está no site do Portal do Comércio.