Economia

'Militares vão contribuir pouco para reforma'

‘Militares vão contribuir pouco para reforma’ ‘Militares vão contribuir pouco para reforma’ ‘Militares vão contribuir pouco para reforma’ ‘Militares vão contribuir pouco para reforma’

A proposta de mudança na previdência dos militares, apresentada na última quarta-feira, 20, pelo governo, desmontou o discurso de que a reforma iguala todos os brasileiros, avalia o professor da FEA-USP e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn.

Para o economista, o governo errou ao incluir o plano de reestruturação da carreira militar na mesma proposta. Ainda assim, ele prevê que alguma versão da reforma da Previdência terá de ser aprovada, o que é crucial para ajudar na volta dos investimentos e melhora das expectativas. A seguir, trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.

Como o senhor avalia o projeto de previdência dos militares?

O governo cumpriu o prazo prometido para a entrega do texto, mas a economia final estimada em dez anos, de R$ 10,45 bilhões, é muito pequena. Se o governo espera economizar R$ 1 trilhão com o conjunto da reforma, os militares vão contribuir muito pouco em relação ao restante da sociedade.

O governo errou a mão na proposta para os militares?

Foi um erro ter entregue na mesma PEC o projeto para a aposentadoria e a reestruturação da carreira. Além de inadequado, foi uma falta de sensibilidade. Ficou claro que o discurso de que a reforma da Previdência do atual governo igualaria os brasileiros não se sustenta. E os militares ficaram com vantagens que outros trabalhadores não têm, como a integralidade (sair da ativa recebendo o mesmo que antes). Nem servidores civis têm mais isso.

Esses erros podem comprometer o sucesso da reforma?

O Congresso não recebeu com entusiasmo a proposta para os militares. A reestruturação que eles querem não deve atrapalhar o andamento da reforma, mas vai ser um argumento para os parlamentares tentarem desidratar a proposta.

A quantidade de militares atuando no governo pesou?

Eu não diria que o DNA militar do atual governo tenha pesado na proposta para os militares. Se pensarmos bem, tudo o que se fez para reformar a aposentadoria em governos anteriores preservou essa categoria.

O conjunto da reforma sugerida por Bolsonaro é melhor que a proposta do governo Temer?

O conjunto da reforma, agora não pensando apenas nos militares, é mais potente. Ele toca em mais temas. Mas é preciso ver como vai sair, no fim das contas, do Congresso e em que nível será desidratada.

O governo tem se empenhado em convencer a sociedade da importância da reforma?

Não, ele não tem vendido bem a proposta. Está muito longe disso. Em questões como essa, é muito mais fácil fazer uma comunicação contrária. Não há a busca por apoio, por exemplo, das pessoas que já estão aposentadas, terão seus direitos garantidos com a reforma e têm todo o interesse de que o sistema seja saudável no futuro e continue conseguindo pagar as aposentadorias.

O que poderia ser feito?

O governo deveria identificar os diferentes grupos afetados pela reforma e construir mensagens especificamente dirigidas a cada um deles. Ao contrário do ex-presidente Temer, Bolsonaro acabou de ser eleito, mas parece não tirar proveito dessa vantagem.

O que pode acontecer se a reforma não for aprovada?

O Congresso deve aprovar alguma reforma para a Previdência. Não vai ser R$ 1 trilhão de economia, mas deve ser algum valor expressivo, que já vai ser suficiente para uma mudança no humor. Há quase um consenso de que a reforma é necessária e a sua aprovação já seria suficiente para sinalizar que o País está no rumo certo e poderá voltar a crescer e recuperar investimento e arrecadação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.