Economia

'Não tem espaço para aumentar imposto', diz presidente da Whirlpool

‘Não tem espaço para aumentar imposto’, diz presidente da Whirlpool ‘Não tem espaço para aumentar imposto’, diz presidente da Whirlpool ‘Não tem espaço para aumentar imposto’, diz presidente da Whirlpool ‘Não tem espaço para aumentar imposto’, diz presidente da Whirlpool

São Paulo – João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina, dona das marcas Brastemp e Consul e a maior fabricante de eletrodomésticos do País, diz que o Brasil vive uma crise de credibilidade. Em entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo, ele criticou a saída para a crise via aumento de impostos. “Como qualquer empresa, o ajuste tem de ser pela despesa. Não tem milagre, a equação de impostos chegou ao limite.”

Questionado sobre qual seria o cenário dele para o País, o empresário disse que nunca conversou tanto com tantos colegas e tantas pessoas para tentar ter uma leitura correta do que está acontecendo. “Tinha um ajuste que precisava ser feito, mas o problema do Brasil não foi o ajuste. O que aconteceu foi uma crise política que contaminou a economia e, pelo tempo que está demorando, virou crise de credibilidade e de confiança. Hoje, o problema é confiança.”

João Carlos Brega salientou que o problema é a confiança no futuro. “Por que o empresário decide abrir um negócio ou aumentar a capacidade? Porque ele tem a confiança de que vai vender mais. Ele vai ao banco e pede um empréstimo. O banco empresta na confiança de que ele vai pagar. O consumidor, com horizonte de emprego, tem a confiança de fazer um financiamento. Aí a bicicleta roda. Isso foi quebrado porque o consumidor está ou tem alguém muito próximo dele que está desempregado.”

Segundo ele, a primeira coisa para resolver a crise de confiança é encarar a realidade. “Queremos superávit. Só que existe uma carga fiscal de quase 40% do PIB, não tem espaço para aumentar. Tem de mexer na despesa e deixar a iniciativa privada investir”, disse. “Em dezembro, o governo deu 3% de Reintegra (devolução de imposto para exportadores). Mas, em janeiro, reduziu para 1%, alegando problema de déficit. Depois, decidiu acabar com a desoneração da folha de pagamentos e criou o PIS/Cofins sobre a receita financeira. Daí, da noite para o dia, vem a CPMF. Não tem milagre, a equação de impostos chegou ao limite. Vai subir imposto e cair a receita porque a pizza será menor. Em vez do imposto provisório, deveríamos lançar a campanha pela redução de despesa provisória”, sugeriu.

Questionado se é a favor de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o empresário disse respondeu que não e lembrou que há uma Constituição que prega que, quem é eleito, “governa por quatro anos e ponto”. “Se não gostou, na próxima eleição vote certo. Aprenda a votar. Comece agora com vereador, prefeito. Esse cenário de impeachment não existe para mim”, destacou.

Sobre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente da Whirlpool disse que a experiência dele é fantástica, seja na vida empresarial, seja na parte de governo, na secretaria do Rio de Janeiro em especial. “Uma formação acadêmica que dispensa qualquer comentário. Mas a gente tem de entender o que podemos exigir e cobrar dele. Tem uma frase que diz: não adianta matar o mensageiro. A gente está atirando no Levy como mensageiro”, opinou. “Existem 38 ou 39 ministérios, uma presidente. Esse time que tem de se articular e fazer uma proposta muito mais abrangente. Se não, a gente vai ficar com essa miopia”, cobrou.

Segundo João Carlos Brega, a miopia é focar só na parte de impostos. “Acho que tinha de ser ao contrário. Acho que a gente tinha de focar na despesa e entender algumas medidas e não ter esse vício de só falar em impostos, que é o mais fácil, mas não vai adiantar. Porque não vai aumentar. A mesma coisa: no orçamento para o ano que vem a premissa é um crescimento de PIB. Não é a nossa premissa.”

Quanto ás previsões sobre a economia, o empresário disse que ela vai “andar de lado ou ter uma pequena queda”. “Por isso é que gera incerteza. O governo não acerta o tom. Falta alguém falar vamos caminhar para cá. É isso que a gente precisa, e não ficar criticando.”

Ressaltou, porém, que “o Brasil não acabou”. “Aprendi que tem uma notícia boa nessa crise. Ela vai acabar. Tem um detalhezinho pequeno que é quando”, afirmou.

Para Brega, são duas discussões necessárias: apressar esse fim da crise e fazer com que a outra fase positiva seja robusta e sustentável. “Até 2017, vai ser um cenário de não crescimento econômico. Tem eleição para prefeito e vereador no ano que vem. A base de prefeitos propicia uma boa base para a eleição presidencial. O desenho do resultado da eleição de prefeitos vai imediatamente disparar a campanha presidencial”, avaliou. “A grande retomada vai ser pós eleição 2018. Até 2016, 2017, dado o cenário de hoje, não esperamos nada espetacular”, considerou.

Brotinho

A crise derrubou em 15% as vendas da Whirlpool, maior fabricante de eletrodomésticos do País, e fez a empresa retroceder a sua produção de geladeiras, fogões e máquinas de lavar a níveis de 2007. Para enxugar os estoques, a companhia – com fábricas instaladas em Rio Claro (SP), Joinville (SC) e Manaus – pisou no freio da produção e deu férias coletivas em fevereiro.

Em julho, a parada ocorreu na administração da empresa. As fábricas estão rodando com menos de 70% da capacidade de produção. “O problema é que a pizza, que era tamanho família, agora é brotinho”, compara Brega, fazendo menção à redução do mercado.

O corte na produção veio acompanhado de um enxugamento de quadros. A empresa deixou de repor 4 mil vagas e não está contratando funcionários. Brega diz que novas medidas de ajuste não estão nos planos. Nem mesmo a alta do dólar é vista pelo executivo como um impulso imediato às exportações de compressores da Embraco, que faz parte do grupo.

A companhia não divulga dados específicos de Brasil, que representa a maior fatia do grupo na América Latina. No ano passado, a Whirlpool faturou na região R$ 9,66 bilhões e empregava 13 mil trabalhadores.

Questionado se o comportamento do dólar poderia ajudar em alguma coisa, o empresário respondeu que a moeda norte-americana é igual à divida. “Quando você tem possibilidade de pagar, você se preocupa, deixa de dormir. Neste caso, não tem jeito, eu não consigo controlar. O que a gente sabe é que é um momento de total oscilação para cima. Agora, é ter paciência e esperar para ver onde ele vai parar.”

Em relação ao efeito do dólar sobre as exportações, Brega afirmou que não foi só o Brasil que mexeu no câmbio. “China, Colômbia, Europa e México mexeram. Só a Argentina não mexeu. Eles mexeram no câmbio, só que eles não tiveram a folha onerada, PIS/Cofins e não vão ter não sei o quê que vem pela frente”, lembrou. “Eles não têm a carga fiscal que a gente tem. O câmbio vai melhorar as exportações, mas não vai ser o novo driver.”

De acordo com Brega, para exportar produto manufaturado, é preciso ter tecnologia e agregar valor. “Para exportar commodity, que era o que a gente vinha tendo até então, é seguir a China. Exportação não vai ser o driver porque não tem porto”, lamentou. “A Embraco, por exemplo, empresa do grupo que exporta compressores, tem de mandar o produto para o porto no dia 5, se o navio for passar no dia 30”, complementou, lembrando de todos o processo que envolve preenchimento de formulários, fiscalizações, armazenamentos e filas.

Quanto aos investimentos, o Brega informou que a empresa está cortando investimento em produto. “Vamos lançar os mesmos 200 produtos este ano na América do Sul e vamos lançar mais em 2016. Mas não estamos aumentando a capacidade e não vemos horizonte para isso até 2018”, observou.

Sobre a perda do grau de investimento, ele respondeu que a decisão deixa o dinheiro mais caro. “Afugenta, ou não possibilita, investidor de longo prazo a colocar dinheiro no País. A gente precisa entender que investidores de fundos têm regras.”

Para Brega, o País vai continuar sendo a sétima ou oitava economia do mundo. “Não tem discussão. O que é chato e desagradável é passar por isso, quando, em tese, isso poderia ter sido evitado”, avaliou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.