
O setor de petróleo e gás desempenha um papel estratégico na economia brasileira, especialmente na exploração terrestre (onshore), em que há uma forte presença de pequenos e médios produtores. Apesar de sua importância, esses campos enfrentam desafios estruturais, agravados por uma política de licenciamento ambiental que penaliza de forma desproporcional os menores empreendimentos. Atualmente, as taxas para obtenção de licenças ambientais para campos terrestres são uniformes, independente da produção de petróleo. Um poço que extrai modestos 5 barris paga o mesmo que outro que produz 50 barris, evidenciando uma falta de proporcionalidade e justiça no sistema.
Os campos terrestres possuem características distintas das operações offshore, marcadas por menor escala produtiva e margens financeiras mais apertadas. Entretanto, a legislação ambiental vigente aplica critérios uniformes para definir as taxas de licenciamento em ambas as situações, desconsiderando aspectos fundamentais. Por exemplo, pequenos poços terrestres, com capacidade reduzida de extração, geram impactos ambientais muito menores do que grandes operações offshore. Mesmo assim, as taxas de licenciamento não refletem essa diferença, penalizando desproporcionalmente os pequenos produtores.
Além disso, os custos operacionais enfrentados pelos produtores onshore agravam a desigualdade. Infraestrutura limitada, altos custos logísticos e dificuldades no acesso a crédito já representam desafios significativos. Quando somadas às taxas ambientais fixas, essas condições tornam a operação de poços com baixa produção praticamente inviável. A desigualdade competitiva também é evidente: grandes players do mercado conseguem diluir os custos de licenciamento em uma produção ampla, enquanto pequenos operadores, que dependem de margens reduzidas, enfrentam impactos financeiros desproporcionais.
Impactos das Taxas Uniformes no Setor Onshore
Assim, a aplicação de taxas uniformes no licenciamento ambiental dos campos terrestres tem gerado consequências significativas para o setor onshore, afetando especialmente os pequenos produtores. Um dos principais impactos é o esvaziamento da produção local: muitos pequenos operadores acabam encerrando suas atividades devido à inviabilidade financeira, resultando na redução da produção onshore e no enfraquecimento econômico das regiões onde esses poços estão instalados. Esse cenário afeta diretamente as comunidades rurais que dependem da atividade, criando um ciclo de declínio econômico e social.
Além disso, a redução de pequenos operadores impacta negativamente a estrutura do mercado. Campos onshore frequentemente geram empregos diretos e indiretos, promovendo o desenvolvimento em áreas rurais. Quando essas atividades diminuem, a economia local sofre, prejudicando as comunidades que dependem dessa cadeia produtiva. Simultaneamente, a saída dos pequenos produtores favorece a concentração de mercado entre grandes operadores, o que reduz a concorrência e a diversificação, tornando o setor menos dinâmico e mais centralizado.
Propostas para um Sistema de Licenciamento Ambiental Mais Justo
Para que o sistema de licenciamento ambiental se torne mais justo e alinhado à realidade dos campos terrestres, é fundamental reformular as bases de cálculo das taxas. Uma das propostas seria a adoção de taxas escalonadas, baseadas no volume de barris produzidos por dia, garantindo que pequenos poços com produção limitada paguem valores reduzidos em comparação aos campos de maior capacidade. Além disso, seria essencial incorporar critérios regionais, levando em conta as especificidades das áreas rurais e a sensibilidade ambiental de cada local, ajustando as taxas de acordo com os impactos reais das operações.
Outra medida importante seria a criação de incentivos para pequenos produtores, como descontos ou isenções para aqueles que mantenham padrões ambientais rigorosos, promovendo a continuidade de suas atividades. Também é possível implementar taxas variáveis, ajustadas de acordo com o tipo e a extensão do impacto ambiental, assegurando que os custos do licenciamento ambiental reflitam os gastos reais com a mitigação. Essas mudanças não apenas tornariam o sistema mais proporcional, mas também incentivariam o uso de boas práticas ambientais e sustentariam a diversidade no setor onshore.
Conclusão: A Necessidade de Revisão da Política de Licenciamento
Portanto, apolítica de licenciamento ambiental para campos terrestres no Brasil precisa de uma revisão urgente. A aplicação de taxas uniformes para poços onshore que produzem 5 ou 100 barris por dia é uma abordagem insustentável, que desconsidera a realidade econômica e ambiental dos pequenos produtores. Essa incoerência gera desigualdade no setor, prejudica o desenvolvimento local e mina a sustentabilidade da produção onshore.
Um modelo de taxas mais proporcional, baseado na capacidade de produção e no impacto ambiental, é fundamental para garantir justiça econômica e fomentar a competitividade no setor. Com isso, seria possível equilibrar os interesses ambientais e econômicos, promovendo uma exploração mais justa e sustentável, especialmente nos campos terrestres que tanto contribuem para o desenvolvimento das comunidades e do país.