Magnífico texto do Economista Marcos Troyjo. Conhecedor profundo da conjuntura mundial e da Ashampoo_Snap_2015.04.05_20h57m03s_018_inserção do Brasil no modelo mundial de competitividade, Marcos relata a situação atual brasileira repleta de interrogações,  comparada com o entusiasmo de 4 anos atrás bem retratado pela Revista The Economist. Vejam:

Livro do jornalista britânico Michael Reid, que participa de evento em Porto Alegre dia 9, analisa o cabo de guerra que o país vem travando entre a esperança e a decepção

O grande entusiasmo com que o mundo saudava a economia brasileira há apenas quatro anos fez o cartunista Ziraldo decretar: junto com o nome “Brasil” deve vir um ponto de exclamação. Quando alguém no exterior pergunta de onde você é — e você responde que é brasileiro — seu interlocutor exclama: “Brasil!”.

Essa verdadeira “Brasilmania” que até pouco tempo rodou o mundo foi alimentada por várias fontes. Pioneirismo em biocombustíveis e perspectivas do país tornar-se superpotência energética com o pré-sal; gestões macroeconômicas responsáveis; políticas de renda mínima que melhoraram a vida de milhões de brasileiros; agronegócio pujante; membro da elite dos mercados emergentes do século 21 — os Brics; a escalada do PIB entre as maiores economias do Ashampoo_Snap_2015.04.05_20h46m26s_013_mundo (turbinada pelo câmbio superapreciado), e a travessia sem solavancos nas crises gêmeas de 2008 e 2011.

Tudo apontava para uma potência em irresistível ascensão. Tal euforia foi captada pela mídia internacional. Uma capa publicada pela revista ‘The Economist’ em novembro de 2009 mostrava a estátua do Cristo Redentor decolando do Corcovado como um foguete. O crescimento econômico de 7,5% do PIB em 2010 parecia confirmar os prognósticos mais otimistas.

Nesse último quadriênio, contudo, as percepções sobre o Brasil mudaram radicalmente. O crescimento médio do país durante a presidência de Dilma Rousseff é o mais baixo do último quarto de século. Tal subdesempenho revela as limitações do padrão de economia política adotado no país desde que o PT chegou ao Palácio do Planalto em 2003. A marcada mudança de humores também foi simbolizada numa capa de ‘The Economist’ em setembro de 2013. O Cristo Redentor como “foguete” parecia em trajetória espiral completamente fora de controle. Perdíamos o ponto de exclamação . Ganhávamos uma interrogação. A percepção mudara de “Brasil!” para “Brasil?”.
Ashampoo_Snap_2015.04.05_20h46m54s_014_O que aconteceu? O que deu errado? Qual o caminho adiante para nosso país? Algumas das respostas podem ser encontradas no livro Brasil: a Turbulenta Ascensão de um País (Campus/Elsevier, 320 páginas, R$ 80,90), do jornalista Michael Reid, ex-editor de Américas da ‘The Economist’ e hoje seu colunista de América Latina. Vamos debater esse tema com o autor, e também com o economista Aod Cunha, em evento na Fiergs na próxima quinta, 9 de abril.

O livro lança luz sobre um país que oscila entre grande potencial e recorrente mau desempenho. Nesse olhar, vai além da mera análise jornalística ao inserir a economia política brasileira no marco de uma história concisa e útil do país. Reid não só se vale de clássicos da sociologia brasileira, como Gilberto Freyre ou Sérgio Buarque de Hollanda, ao examinar o legado português no Brasil. Examina também “instituições” mais contemporâneas que ajudam a “unificar” o Brasil, como as telenovelas que atingem público de até 80 milhões de pessoas a cada noite.

O resultado é um relato rico e detalhado do Brasil e do cabo de guerra que trava entre esperança e decepção. Em seu livro, Reid critica severamente a intervenção governamental excessiva, sublinhando que o estado ‘nacional-desenvolvimentista” fincou raízes profundas em nossa consciência coletiva. O país teria pouco apetite para reformas estruturais, o que leva o autor a concluir que o Brasil tem “alergia ao liberalismo”.

Reid caracteriza a atual política industrial e comercial do Brasil como “rota para o capitalismo de Estado” em que o país enveredou durante o segundo mandato de Lula. Tudo isso resulta num fraco desempenho que o autor chama de “as decepções de Dilma”. Reid indica que a sucessora de Lula “tinha estabelecido como um de seus objetivos a melhoria dos serviços públicos, mas tem feito muito pouco para conseguir isso”.

O livro de Michael Reid nos coloca diante de uma questão fundamental: o que o futuro do Brasil reserva: inércia ou mudança? Será que o país permanecerá, como sugere o autor, “um Leviatã sem reformas?” Nesse caso, a recente capa de uma ‘The Economist’ de fevereiro deste ano será perpetuada: o Brasil “no atoleiro”.
Para aqueles que acreditam que o Brasil fez grandes progressos nos anos Lula-Dilma, o futuro deve comportar mais “Estado” e menos “capitalismo”. Isso só pode fazer sentido se os setores mais produtivos da economia brasileira continuarem a gerar recursos excedentes para compensar ineficiências observadas no âmbito estatal. Tal cenário, segundo Reid, manteria o Brasil muito aquém do seu potencial, que clama por uma agenda de reformas nos âmbitos trabalhista, tributário e da previdência social.
A definição do futuro, no entanto, não é um jogo decidido. No limite, se as lideranças brasileiras mostrarem-se dispostas à ousadia da modernização institucional, aquele entusiasmante ponto de exclamação após “Brasil” pode voltar com força — e o país ocuparia seu lugar de direito dentre as nações mais dinâmicas do século 21.
Por MARCOS TROYJO
Economista e cientista político, professor-adjunto de relações internacionais da Universidade Columbia, em Nova York, onde dirige o BRICLab (Centro sobre Brasil, Rússia, Índia e China)

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O EVENTO
A Fiergs realiza no dia 9 de abril o workshop ‘Brasil: Desafios e Oportunidades Frente à Nova Conjuntura’, às 15h, na sede da entidade. Participam do evento o jornalista Michael Reid, o economista e cientista político Marcos Troyjo e o economista Aod Cunha.
Inscrições:
http://www.fiergs.org.br/pt-br/BRASILGLOBAL
Programação:
– 15h – Network (Welcome coffee participantes e palestrantes)
– 15h30 – Abertura com Sr. Humberto Busnello/FIERGS
– 15h40 – “Brasil: a turbulenta ascensão de um país”, com Michael Reid, colunista e editor do The Economist para América Latina.
– 16h30 – “A chegada da reglobalização e seus impactos no Brasil”, com Marcos Troyjo, Economista, cientista político e diretor do BRICLab na Universidade Columbia, NY.
– 16h50 – “Crescimento global e ajuste macroeconômico no Brasil em 2015”, com Aod Cunha, economista e sócio do BTG Pactual.
– 17h10 – Diálogo mediado (mediação de André Nunes/FIERGS).
– 17h45 – Previsão de encerramento.

Getulio Apolinário Ferreira

Colunista

Escritor pela Qualitymark Editora, Consultor organizacional, Engenheiro na linha da gestão japonesa com dois estágios no Japão nas áreas de projetos criativos dos Thinking Groups da Kawasaki Steel, Qualidade Total, Kaizen/Inovação e programas Zero Defeitos estabelecendo um forte link com o Programa de Qualidade Total da CST, hoje Arcelor Mittal. Getulio participa também, com muita honra, da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ onde estão os profissionais de maior destaque nas áreas da Qualidade e Inovação do Brasil.

Escritor pela Qualitymark Editora, Consultor organizacional, Engenheiro na linha da gestão japonesa com dois estágios no Japão nas áreas de projetos criativos dos Thinking Groups da Kawasaki Steel, Qualidade Total, Kaizen/Inovação e programas Zero Defeitos estabelecendo um forte link com o Programa de Qualidade Total da CST, hoje Arcelor Mittal. Getulio participa também, com muita honra, da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ onde estão os profissionais de maior destaque nas áreas da Qualidade e Inovação do Brasil.