Construção industrializada precisa vencer etapas para se consolidar Construção industrializada precisa vencer etapas para se consolidar Construção industrializada precisa vencer etapas para se consolidar Construção industrializada precisa vencer etapas para se consolidar
Foto: reprodução decorlit.com
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Embora com alguns avanços nos últimos anos, a industrialização da construção civil ainda evolui abaixo da capacidade no Brasil. A proporção de construções industrializadas em relação às convencionais ainda é considera muito pequena pela maioria dos especialistas do setor. Para saber por que esse importante tema não evoluiu satisfatoriamente e a adoção de sistemas industrializados permanece pouco considerada na construção de edifícios e pelo mercado imobiliário em geral, o blog ouviu o engenheiro civil, professor na Escola Politécnica da USP e fundador da Construtora Urbic, Luiz Henrique Ceotto. Ceotto vai mapear os motivos e indicar soluções para superá-los.

 

Vamos à analise do especialista:

“Apesar de todo o esforço empreendido nos últimos 20 anos, a construção industrializada ainda ocupa um espaço irrisório no mercado. Isso ocorre basicamente por quatro motivos: custo das soluções industrializadas, falta de estímulos para empresas potencialmente usuárias do método, percepção dos riscos dos novos sistemas e, claro, a cultura do setor. Em relação a esse último ponto, um conjunto de mudanças que podem fomentar inúmeras oportunidades já está acontecendo em nossa economia. Um sinal disso é a realização de eventos que se propõem a debater o tema — como o Modern Construction Show, que acontece em outubro próximo, em São Paulo.

 

“Culturalmente, a construção civil brasileira voltada para imóveis residenciais baseia-se no uso intensivo de mão de obra barata e artesanal. A ideia de que a construção civil tem o papel de absorção intensa de mão de obra pouco qualificada tem sido a lógica norteadora do setor há um século. E foi a razão da adoção das políticas públicas, tributárias e de financiamento hoje vigentes.
Por conta disso, as escolas técnicas e de engenharia são mais voltadas para a construção convencional, e não formam pessoal para encarar e gerenciar novos processos.

 

“Como o mercado brasileiro de construção é muito pulverizado, isso dificulta muito sua organização para o enfrentamento desse desafio. Seria de se supor, então, que a modernização da construção fosse liderada pela indústria, já que nossa manufatura de componentes é constituída de poucos players bem mais capitalizados. Mesmo assim, isso só ocorre lentamente. A indústria ainda não consegue sentir os efeitos vantajosos dos investimentos nessa enorme oportunidade, o que adia o desenvolvimento de “produtos engenheirados” e, consequentemente, os benefícios de ter suas entregas como sistemas pré-engenheirados — e não como simples materiais.

 

O engenheiro civil e professor da USP, Luiz Henrique Ceotto. Foto divulgação.

 

Custos e interesse

“Com relação à composição dos custos, a participação dos impostos é relevante, pois os sistemas industrializados pagam ICMS e IPI, enquanto os convencionais pagam ISS. Essa assimetria faz com que a construção industrializada recolha de 20% a 30% mais impostos do que a convencional. A reforma tributária, quando completamente implementada, deve equilibrar essa situação, mas, hoje, uma saída para reduzir a diferença é o faturamento como serviço e materiais faturados diretamente entre fornecedor e o cliente final — embora isso seja questionável e possa não funcionar quando há deslocamento de produtos entre Estados.

 

“Os custos também são negativamente impactados pela produção em pequena escala, uma vez que o nível de padronização na construção é muito baixo, com pequenas quantidades de repetições em cada produto. Assim, os custos fixos e de desenvolvimento das fábricas incidem sobre poucos produtos, onerando muito seus custos unitários finais.
Sem falar que algumas construtoras só avaliam os custos diretos, e tudo se resume ao “custo por metro quadrado”. Custos indiretos com redução de prazos, manutenção e redução de riscos quase nunca são avaliados.

 

“Não menos importante é a instabilidade dos preços dos insumos dos produtos industrializados. O preço de materiais como aço, alumínio, plástico, madeira, entre outros, flutua muito em função da demanda de outras indústrias — como automobilística e de eletrodomésticos, por exemplo. Os produtores desses insumos básicos ainda não priorizam a estabilidade da indústria a jusante da cadeia, em função da maior lucratividade de outras aplicações.

 

“A maior agilidade, atualmente, também é “inimiga” do setor imobiliário, já que o financiamento bancário cobre no máximo 70% a 80% do valor do imóvel. Os 20% a 30% restantes devem ser pagos pelo comprador até o final da obra. Não há hoje — mas havia na década de 1980 — produtos financeiros que estimulem a poupança prévia e eduquem o cliente para a compra futura do imóvel. E como a capacidade de pagamento da população é muito baixa, as incorporadoras não têm outra opção senão aumentar o prazo das obras para que o comprador possa pagar. Com a industrialização da construção, essa lógica precisa mudar, já que tem como pilares justamente a alta produtividade e a rapidez.

 

O dilema do lucro

“O mercado imobiliário é avesso ao risco. As margens são muito baixas e as empresas, na sua grande maioria, são pouco capitalizadas e dependem diretamente do fluxo de entrada das vendas. Isso faz com que evitem o que possa afetar a percepção de solidez do empreendimento, exceto as inovações arquitetônicas.

 

“A atenção maior dos desenvolvedores de produtos imobiliários tem se voltado para as tendências arquitetônicas. Isso já é uma porta para o futuro. Resta agora perceber as mudanças também do mercado produtivo, e as novas técnicas de construção serem discutidas no planejamento estratégico das empresas.

 

“Esses avanços tendem a corrigir, também, inúmeras patologias comuns ao processo construtivo convencional — estruturas em concreto, alvenaria de tijolos, revestimentos argamassados etc. —, que, há que se reconhecer, raramente provoca grandes desastres. O mercado está acostumado com essas patologias e as considera “normais”, mesmo nas ocorrências mais sérias. Com a construção industrializada, até mesmo esses problemas tendem a ser superados.

 

“Já temos as condições e informações para mudarmos esse cenário. O setor precisa avançar, se modernizar e ter a produtividade, a eficiência e a agilidade como amigas.”

*Luiz Henrique Ceotto, engenheiro civil, professor na Escola Politécnica da USP e fundador da Construtora Urbic.

Alex Pandini

Repórter

Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.

Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.