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O Aprendizado Organizacional e a Inovação

Eduardo Guaragna – ABQ

Saiba por que o fundamento do aprendizado organizacional e da inovação, um dos oito fundamentos que dão suporte ao Modelo de Excelência em Gestão (MEG) em sua 21 ª edição da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), é relevante a competitividade e como torná-lo prático a sua utilização pelas organizações.

Sem dúvida, hoje vivemos numa sociedade mais complexa com mudanças em maior número, mais rápidas e com novas tecnologias exponenciais e de ruptura. No Brasil, a isso se adiciona a falta de haver políticas que orientem à retomada da competitividade e do desenvolvimento econômico e social.

O grande desafio das organizações é, portanto, além de entregar produtos e serviços com qualidade, desenvolver a capacidade de enxergar o futuro, serem ágeis, adaptáveis e capazes de identificar oportunidades, gerando inovações que as mantenham competitivas. E como a competência organizacional pode ser orientada para ação?

O fundamento aprendizado organizacional e inovação, do MEG na 21ª edição, nos dá uma direção: “Busca e alcance de novos patamares de competência para a organização e sua força de trabalho, por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de conhecimentos, promovendo um ambiente favorável à criatividade, experimentação e implementação de novas ideias capazes de gerar ganhos sustentáveis para as partes interessadas”.

A aplicação prática destes conceitos se desdobra em quatro temas: aperfeiçoamento, inovação, conhecimento e competências essenciais. O aperfeiçoamento é o refinamento, a melhoria do que a organização já executa. Temos que saber como estamos hoje para melhorar, de fato. O diagnóstico é então fundamental. Depois do diagnóstico, saber o que mudar e implementar as melhorias. A partir disso, compartilhá-las na organização, elevando o patamar do que fazemos.

Muitas organizações já praticam estes conceitos que são tradicionais nos processos e sistemas da qualidade, muitas vezes sob o nome de melhoria contínua. Entretanto, nem sempre as organizações o fazem de forma completa, havendo lacunas na avaliação da eficácia das melhorias realizadas e na internalização das lições aprendidas, não prevenindo a recorrência de problemas já solucionados.

Dentre as ferramentas e metodologias úteis ao aperfeiçoamento, destacamos: MASP – Metodologia de Análise e Solução de Problema, Benchmarking, uso do PDCA ou PDSA, onde o Control é substituído por Study, diagnósticos da gestão pelo uso do MEG, da ISO, etc., o Processo Kaizen e Metodologia Seis Sigma, entre outros.

A inovação, por sua vez, desperta na organização a busca pelo novo, pela novidade. Organizações de sucesso trabalham o aperfeiçoamento e a inovação de forma equilibrada, sendo ambos importantes. O seu sucesso competitivo se dá pelo uso do aperfeiçoamento de produtos, serviços, processos e também por inovações.

March (1999) já alertava que é difícil precisar o quanto de aperfeiçoamento e inovação as organizações devem investir. O aperfeiçoamento está relacionado à explotação (exploitation), pois aproveita recursos tangíveis e intangíveis já existentes na organização ou na rede de parceiros de sua atividade de negócios. A inovação, por sua vez, está associada à exploração (exploration), a pesquisa, a procura, descoberta, estudo, observação, empreendedorismo, prospecção, experimentação.

Aperfeiçoar o que já fazemos pode ter um limite para não investirmos tempo e recursos em aprimorar algo que esteja se tornando obsoleto. Ao mesmo tempo, só explorar, olhar o novo, não consolida processos e nem resultados e a própria organização se ressente disso.

A inovação, ao contrário do que se imaginava no passado, é obtida por um conjunto de processos, que no MEG são quatro:

– Indução: mobiliza para a criação de um ambiente favorável a experimentação, ao erro pedagógico, a correr risco, com estímulo a novas ideias, visando melhores resultados às partes interessadas. É papel das lideranças construir um porto seguro, sem o qual a inovação fica reprimida.

– Desenvolvimento: trata da capacitação das pessoas, de como selecionar ideias, realizar experimentações e testes.

– Implantação: compreende a execução das ideias selecionadas no desenvolvimento e a colocação e divulgação dos produtos, serviços, da novidade enfim, no mercado. A inovação só se materializa quando aceita pelo mercado. Muitas ideias ficam no papel não por serem ruins, mas porque não sensibilizaram o mercado que não as percebeu como solução.

– Medição: que avalia os resultados da inovação, reavalia os processos de inovação, os projetos desenvolvidos, realiza as melhorias e mudanças e registra as lições aprendidas.

Há várias metodologias que estimulam a inovação, tais como: Comunidade de Práticas, Cocriação, Inovação Aberta, Design Thinking, Canvas, Programa de Sugestões e ideias, etc. O tema conhecimento nos mostra que ele é a base para o aperfeiçoamento, a inovação e a formação de competências.

Sem conhecimento, as ideias e as oportunidades identificadas não evoluem para potencializar aperfeiçoamentos e inovações. Isso nos leva a refletir sobre a importância da educação num país. Países competitivos têm nível elevado de educação e se destacam na geração de inovações. Por quê? Simplesmente, porque a capacidade de pensar, questionar, formular alternativas e experimentar, indispensáveis a inovação, é um atributo do nível educacional do povo de um país.

Há quatro processos que sustentam este tema: identificação dos conhecimentos, seu desenvolvimento, retenção e proteção e utilização na organização. Pode-se dizer que uma boa gestão do conhecimento é passaporte para o aperfeiçoamento e a inovação.

Existem muitas ferramentas para gerir o conhecimento nas organizações: Comunidades de Práticas, Registro de lições aprendidas, Propriedade Intelectual,  Espiral do conhecimento, Benchmarking, Inteligência Competitiva, entre tantas.

Por fim o quarto tema trata das competências essenciais. O que são estas competências? São aquelas que diferenciam a organização dos seus concorrentes, que caracterizam o jeito de fazer da organização. Normalmente são competências construídas ao longo do tempo e passam a fazer parte da sua cultura, sendo difíceis de serem imitadas. Estas competências são chave para a sobrevivência da empresa e centrais para sua estratégia.

Uma organização tem o seu diferencial nas competências e não nos produtos ou serviços. Estes são consequências, já ensinava o saudoso Prahalad.

No MEG, há dois processos relacionados à construção das competências essenciais: a identificação das competências, que compreende o entendimento das demandas do mercado, dos aspectos relacionados a diferenciação da organização no seu setor e a criação de valor; e o desenvolvimento das competências que busca desenvolver as competências que elevem o posicionamento competitivo da organização. Dentre as técnicas disponíveis ao desenvolvimento das competências essenciais, destacamos: a Inteligência Competitiva, Portfólio de competências estratégicas e o Coaching (programa de formação de lideranças).

Dessa forma, o aprendizado organizacional e a inovação podem ser traduzidos em temas e processos que facilitem o seu entendimento e aplicação prática nas organizações. Da mesma forma que há processos técnicos não podemos esquecer que é fundamental compreender que os aspectos comportamentais são tão importantes quanto os técnicos para que o aprendizado organizacional e a inovação sejam capazes de conduzir à organização a competitividade e excelência.

Os líderes e os gestores precisam ter humildade para reconhecer decisões equivocadas, aceitar erros cometidos e ter abertura para mudar seus conceitos, modelos mentais e, assim, evoluir para perseguir a classe mundial. Seja você uma liderança transformadora, despertando nas pessoas a vontade de realizar, dar o seu melhor e buscar com afinco e dedicação a excelência e competitividade de sua organização.

Artigo publicado na Revista AdNormas – veja em: https://revistaadnormas.com.br/2019/05/28/o-aprendizado-organizacional-e-a-inovacao/ – pesquise outros artigos e temas nas áreas da Gestão da Qualidade e Inovação.

Referências bibliográficas

MARCH, J. G.; LEVINTHAL, D.A. The myopia of learning In: MARCH, J.G. The pursuit of organizational intelligence, Oxford: Blackwell Publishers, 1999.

Fundação Nacional da Qualidade – Guia de Referência da Gestão para a Excelência, 21ª edição, 2016, São Paulo.

Eduardo V. C. Guaragna é engenheiro mecânico e mestre em administração pela UFRGS, ASQ Senior, CQE, CMQ-OE, CRE, CQA. juiz do PNQ (2004-2012) e do PGQP (Qualidade e Inovação), diretor do PGQP, consultor, professor de pós-graduação, autor do livro Desmistificando o Aprendizado Organizacional, Qualitymark, 2007 e diretor-presidente da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ) – [email protected]

Ilustrações: Getulio A. Ferreira, membro da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ

Getulio Apolinário Ferreira

Colunista

Escritor pela Qualitymark Editora, Consultor organizacional, Engenheiro na linha da gestão japonesa com dois estágios no Japão nas áreas de projetos criativos dos Thinking Groups da Kawasaki Steel, Qualidade Total, Kaizen/Inovação e programas Zero Defeitos estabelecendo um forte link com o Programa de Qualidade Total da CST, hoje Arcelor Mittal. Getulio participa também, com muita honra, da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ onde estão os profissionais de maior destaque nas áreas da Qualidade e Inovação do Brasil.

Escritor pela Qualitymark Editora, Consultor organizacional, Engenheiro na linha da gestão japonesa com dois estágios no Japão nas áreas de projetos criativos dos Thinking Groups da Kawasaki Steel, Qualidade Total, Kaizen/Inovação e programas Zero Defeitos estabelecendo um forte link com o Programa de Qualidade Total da CST, hoje Arcelor Mittal. Getulio participa também, com muita honra, da Academia Brasileira da Qualidade – ABQ onde estão os profissionais de maior destaque nas áreas da Qualidade e Inovação do Brasil.