Economia

O problema não é apenas China: lucro das empresas nos EUA deve cair

Redação Folha Vitória

Nova York, 10/01/2016 - O recente tumulto no mercado chinês resultou na pior abertura de semana para as ações dos Estados Unidos da história. E nesta semana, os investidores podem ter muito mais para se preocupar. Os lucros das empresas norte-americanas devem cair... Mais uma vez.

Os lucros das empresas que compõem o índice Standard & Poor´s devem ter retração pelo segundo trimestre consecutivo, de acordo com projeções, o que é raro quando não se está em recessão. Apesar de o mercado de trabalho americano estar se recuperando, os EUA não cresceram rápido o suficiente para que os ganhos das empresas aumentassem e economias em desenvolvimento que um dia impulsionaram suas receitas, com a elevação das vendas externas, passam por desaceleração drástica.

Tudo isso seria preocupante o suficiente, em qualquer período, porém os investidores estão mais nervosos agora. As ações do mercado americano estão caras, levando em conta determinadas medidas, mesmo depois de terem se desvalorizado em 2015 e observarem queda acentuada na primeira semana deste ano.

Uma medida amplamente respeitada, o chamado índice de lucros Shiller, emite sinais de alerta. O nome do indicador se deve ao ganhador do Prêmio Nobel, Robert Shiller. Ele compara o preço das ações com a média dos ganhos anuais de mais de 10 anos. O índice está agora em 25, número muito superior - o que significa mais caro - do que a média de longo prazo de 18 anos.

"Quando as expectativas são tão altas como as atuais, isso é um problema", diz Jack Ablin, diretor de investimentos da BMO Private Bank.

As empresas começaram a divulgar os resultados do último trimestre do ano na segunda-feira. O lucro por ação das empresas do S&P500 deve recuar 5,5% na comparação com um ano antes, de acordo com pesquisa da S&P Capital IQ. Os ganhos apresentados nos balanços do terceiro trimestre já haviam declinado 1,4%.

Isso não era para acontecer. Um ano atrás, a visão média de analistas financeiros que acompanham o mercado de ações era de que os ganhos do quarto trimestre iriam saltar 12%, levando os investidores às compras.

Analistas em Wall Street são um grupo notoriamente otimistas, mas é possível compreender tanto entusiasmo. Desde a crise financeira, as empresas americanas têm conseguido obter lucros apesar do crescimento lento da economia doméstica. Elas cortaram custos, muitas vezes por meio de demissões em massa, e reestruturaram seus negócios.

As companhias também foram ajudadas pelo aumento de vendas no exterior, por taxas de empréstimos bastante baixas, graças à política do Federal Reserve, e por uma manobra controversa: as empresas compraram trilhões de dólares de suas próprias ações para retirá-las do mercado. Os investidores apreciam essa estratégia, porque resulta em um aumento do lucro por ação. Porém, os críticos apontam que a recompra de ações pode fazer com as empresas pareçam mais bem-sucedidas do que realmente são.

O resultado de tudo isso foi um mercado de ações em crescimento. O S&P 500 mais do que triplicou desde que atingiu a maior baixa em 12 anos, em 2009, até o pico registrado em maio. Mesmo após a queda da semana passada, a maior desde setembro de 2011, o índice está apenas 6,5% abaixo desse nível.

O problema agora é que é difícil para as companhias reduzir custos ainda mais. Além disso, a desaceleração observada no resto do mundo não ajuda. O Japão, terceira maior economia do mundo, mal cresceu no ano passado. O Canadá mergulhou brevemente em recessão e Brasil e Rússia estão lutando para escapar da crise. Na quarta-feira, o Banco Mundial reduziu sua previsão para o crescimento econômico global deste ano para 2,9%.

"Vai ser cada vez mais e mais difícil ter ganhos sólidos, a não ser que a economia global se recupere", disse Peter Cardillo, economista-chefe de mercado da First Standard Financial.

O mais preocupante é que a economia da China está se desacelerando drasticamente, embora ninguém esteja certo sobre o quanto, porque os dados não são confiáveis. As estatísticas oficiais indicam uma taxa de quase 7%, um ritmo de crescimento um terço mais lento do que há cinco anos. Mas especialistas em rastreamento de uso de energia elétrica e outras medidas dizem que a taxa pode ser muito pior, talvez de 4% ou até inferior.

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