Economia

'Estamos bastante confortáveis com o nível de taxa de câmbio', diz Meirelles

Meirelles comentou que tem visto, durante os últimos meses, uma queda do prêmio de risco Brasil, seja medida por meio do Credit Default Swap (CDS) ou por outros indicadores

Redação Folha Vitória
Ele falou rapidamente com jornalistas após almoço tradicional de Davos, realizado todos os anos pelo Itaú Unibanco Foto: Divulgação

Davos - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse estar muito satisfeito com o comportamento da taxa de câmbio brasileira em meio a uma valorização do dólar que é vista no mundo todo. "O fato concreto é que temos uma taxa de câmbio flutuante no Brasil e que estamos bastante confortáveis com o nível de taxa de câmbio que prevalece no Brasil", disse.

Ele falou rapidamente com jornalistas após almoço tradicional de Davos, realizado todos os anos pelo Itaú Unibanco. Meirelles comentou que tem visto, durante os últimos meses, uma queda do prêmio de risco Brasil, seja medida por meio do Credit Default Swap (CDS) ou por outros indicadores.

"Temos uma tendência de fortalecimento do real, ao mesmo tempo temos uma tendência mais lenta de recuperação dos preços de commodities, com recuperação da economia mundial. Ou seja: temos uma tendência de fortalecimento do dólar e também doméstica do real", comparou.

A alta do dólar foi apontada por um importante painel de Davos nesta terça como uma das grandes preocupações econômicas de 2017. Principalmente em um ambiente de alta dos juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed). "O aperto monetário americano, eu chamaria de normalização monetária dos EUA. Não pode ser considerado normal o que ocorreu lá nos últimos anos. Lá está voltando ao normal. O mundo está lidando com essa situação e, evidentemente, o Brasil também", considerou.

Meirelles comentou também que essa alta dos juros americanos, iniciada em dezembro passado, era esperada há muito tempo. "A discussão hoje é se não está demorando um pouco ou se está na hora certa."

Investidores

O ministro da Fazenda repetiu um discurso muito parecido com o da véspera, em Davos, sobre a melhora do humor do investidor estrangeiro com o Brasil. Além de Meirelles, também fez pronunciamento no evento o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.

Meirelles voltou a citar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos públicos, a reforma da Previdência, entre outros pontos. "Hoje descrevi para investidores, de forma detalhada, a questão das reformas microeconômicas", salientou.

De acordo com Meirelles, a lista do trabalho que está sendo executada pelo governo impressionou os investidores que tiveram acesso aos detalhes nestes dias em Davos. "Os investidores não estavam tão a par", disse. Segundo ele, o investidor está mais positivo sobre o Brasil do que quem está no próprio País.

Mais uma vez, ele enfatizou que a recessão econômica pela qual atravessa o Brasil foi "herdada". "Estamos enfrentado uma recessão muito séria e isso não é desconhecido de ninguém", afirmou, acrescentando, no entanto, que o governo brasileiro tem feito a sua parte.

Ele repetiu, por exemplo, que a taxa de aprovação de projetos do governo executivo no Congresso é a maior dos últimos anos. Na segunda-feira, ele citou que era maior do que a dos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Refis

O ministro da Fazenda minimizou a redução do interesse em aderir ao Refis por parte de algumas empresas. "Tudo bem (não interessar para muitas empresas). O Refis tradicional dá desconto para as empresas que queiram aderir. De outro, funciona como um desincentivo ao futuro pagamento de impostos", comparou.

O Refis tradicional, de acordo com ele, tem algumas desvantagens importantes porque é controverso. "Muitas empresas tenderam no passado deixar de pagar impostos esperando o próximo Refis. Agora não. Não existe isso, não há desconto de multas e juros", defendeu.

Meirelles enfatizou ainda que há possibilidade de um grande número de companhias que podem tirar partido desse novo programa, que é o caso das que possuem prejuízo acumulado. "Isso é importante para que possam sair da situação de crise e para que o País possa voltar a crescer. Estas precisam de um programa deste tipo, que dá dedução de até 80% do imposto", argumentou. Ele repetiu que a expectativa de entrada de recursos com esse Refis é de R$ 10 bilhões. "Vamos aguardar o resultado."

Continuidade do governo

O ministro disse ainda que os investidores não mostram dúvidas sobre a continuidade do governo em 2017 durante o Fórum Econômico Mundial de Davos. "Esta pergunta eu não tenho recebido. Ninguém tem esta dúvida", disse, quando questionado sobre a possibilidade com o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julga a anulação da chapa que elegeu Dilma Rousseff, como presidente, e Michel Temer, como vice.

Meirelles argumentou que o governo atual foi empossado dentro de um procedimento constitucional e acrescentou que os investidores estão impressionados com o País. "O Brasil está sendo capaz de enfrentar reformas profundas, difíceis, pela primeira vez em décadas", enfatizou a jornalistas após participar de tradicional almoço com investidores em Davos. "Há uma visão muito clara da consistência da política econômica."

Segundo o ministro, há uma unanimidade, um interesse muito grande sobre o Brasil durante o evento. "Há muito interesse sobre o ajuste fiscal, muitos estão me dizendo que é um exemplo para muitos países, inclusive países desenvolvidos e que evidentemente na luta diária lá [no Brasil] não percebemos", considerou.

A receptividade tem sido muito positiva, de acordo com ele. "Até mais positiva do que lá no Brasil, onde estávamos no meio de uma recessão enorme", disse, acrescentando que o País está deixando esse período. "É compreensível que estamos vivendo o efeito de uma recessão enorme que herdamos", repetiu.

Alguns empresários estrangeiros consultados pelo Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) após o almoço sobre o Brasil se disseram surpresos com os dados apresentados pela equipe econômica - além de Meirelles, também falou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Para eles (que se propuseram a falar de forma anônima), o Brasil parece estar andando pelo caminho certo. Não houve, no entanto, um grande entusiasmo em relação ao País, como já foi visto no passado.