Economia

Negócio entre gigantes da educação no país pode envolver venda do Leonardo da Vinci

A instituição está incluída entre os colégios que o Grupo Cogna, seu atual gestor, pretende vender para a Eleva Educação, outra grande empresa do setor

Foto: Divulgação

Uma das mais tradicionais escolas do Espírito Santo, o Centro Educacional Leonardo da Vinci, localizado em Santa Lúcia, Vitória, pode ser vendida para uma outra grande empresa nacional do setor da educação. A instituição está incluída entre os colégios que o Grupo Cogna, seu atual gestor, pretende vender para a Eleva Educação, que tem entre os acionistas o empresário Jorge Paulo Lemann, considerado pela Forbes o segundo homem mais rico do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pelo Valor Econômico, a transação envolveria a compra dos colégios da Cogna pela Eleva que, por sua vez, venderia seu sistema de ensino à Cogna. Ainda segundo a publicação, as conversas partiram da Eleva que, em meados deste ano, pretende realizar uma abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) e tem interesse em apresentar aos investidores uma companhia maior.

A notícia da transação entre as duas gigantes da educação no país foi confirmada pela própria Cogna, em um Fato Relevante divulgado nesta quinta-feira (7). No documento, a empresa informa que se encontra em tratativas para "potencial transação envolvendo tanto a compra quanto a venda de determinados ativos educacionais entre a Eleva Educação S.A., de um lado, e subsidiárias diretas ou indiretas da Cogna, de outro lado".

Ainda de acordo com o comunicado, a transação poderá envolver a venda de determinadas escolas controladas direta ou indiretamente pela Saber à Eleva (entre elas o Centro Educacional Leonardo da Vinci), bem como a aquisição de sistema de ensino detido pela Eleva pela Somos Sistemas de Ensino S.A., sociedade controlada pela Cogna e pela Vasta Platform Limited.

A Cogna garantiu, no entanto, que nenhum documento vinculante a respeito da transação foi assinado até o momento e que não há qualquer garantia de que um acordo será alcançado entre as partes.

O Centro Educacional Leonardo da Vinci foi vendido em abril de 2018 para a Cogna, que na época se chamava Kroton Educacional. A escola foi adquirida por meio de uma holding, chamada Saber, controlada pela Kroton, que passou a se chamar Cogna no ano seguinte. 

Antes disso, o colégio pertencia à família Pignaton, que o fundou na década de 90. José Antônio Gorza Pignaton, um dos fundadores da instituição, morreu poucos meses após a venda para a Kroton, em julho de 2018.

Negociação

A Cogna conta, atualmente, com 52 escolas conceituadas, como pH (Rio de Janeiro), Sigma (Brasília) e Motivo (Pernambuco). De acordo com informações do Valor Econômico, a receita líquida desse negócio somou R$ 480 milhões no acumulado dos nove primeiros meses do ano passado.

Segundo a publicação, para a Cogna, a compra do sistema de ensino da Eleva, adotado por cerca de 200 mil alunos de 300 escolas, também faz sentido porque a companhia quer fortalecer seu negócio de material didático, já formado por marcas como Anglo, pH, entre outras. Além disso, atende a demanda de investidores que vêm cobrando por aquisições relevantes por parte da Vasta, braço de educação básica da Cogna, que fez um IPO no ano passado.

No entanto, fontes consultadas pelo Valor Econômico afirmam que as conversas, que começaram há cerca de três meses, enfrentam dificuldades. Segundo o jornal, trata-se de uma transação complexa, já que ambas as empresas querem manter seus contratos comerciais e não há ainda consenso sobre esses valores.

Ainda de acordo com o Valor, a Cogna venderia seus colégios, mas esses continuariam usando os sistemas de ensino que, normalmente, têm a mesma marca. O mesmo vale para a Eleva, que venderia o sistema de ensino, mas os alunos de suas escolas permaneceriam estudando com o material didático vendido à Cogna.

De acordo com o jornal, também não há consenso ainda sobre o valor dos ativos, forma de pagamento e projeções de matrículas neste ano, em especial, na educação infantil, que enfrentou grande evasão no ano passado devido à pandemia da covid-19.

Mercado

O empreendedor e investidor, Ricardo Frizera, que assina a Coluna Mundo Business, do Folha Vitória, destaca que as ações da Cogna, na bolsa de valores, sofreram significativa desvalorização no último trimestre e que a possível transação com a Eleva pode melhorar a imagem da empresa no mercado.

"O que é positivo para o mercado é que a Cogna é uma empresa que tem algum nível de endividamento e, com essa transação, deve reduzir a dívida dela. Isso pode ser bem visto pelo mercado, que tem feito a empresa performar muito abaixo da média das empresas na bolsa de valores, no último trimestre", ressaltou.

No mês passado, o Centro Educacional Primeiro Mundo, outro importante colégio de Vitória se envolveu em uma negociação com uma grande empresa da área de educação, a Inspira Rede de Educadores, com atuação nacional. Entretanto, o negócio firmado entre as partes foi diferente. Não houve uma venda da escola para o grupo, mas estabelecida uma parceria entre ambos.

O presidente da Fucape Business School, instituição de ensino superior voltada para a área de negócios, Valcemiro Nossa, lembra que, por volta das décadas de 80 e 90, teve início um crescimento desordenado do número de instituições privadas de ensino entrando no mercado. Segundo ele, nos últimos cinco anos o mercado foi se reorganizando e muitas unidades de ensino se uniram a outras ou foram vendidas e deixaram de existir.

"Cada uma dessas grandes empresas possui um foco de mercado. Algumas primam pela excelência e tentam atrair seus clientes pela qualidade do ensino. Dessa forma, realizam suas aquisições tendo em vista o perfil da instituição que está adquirindo, se ela se encaixa em sua estratégia. Por outro lado, há aquelas empresas que focam na quantidade de alunos, sem necessariamente oferecer a melhor qualidade. Nesse caso, o grande atrativo para atrair o público é o preço", destacou.

Valcemiro Nossa ressaltou ainda que a aquisição de escolas particulares por grandes empresas é uma tendência de mercado e que a pandemia do novo coronavírus pode ter influenciado nesse processo. "A instituição que tem 'bala na agulha' conseguiu se manter durante a pandemia. Mas quem não tem essas condições teve de se reorganizar. E os grandes grupos viram isso como uma oportunidade de mercado. Hoje em dia, a concorrência não está restrita no nível de Brasil apenas. As empresas concorrem com instituições de outras partes do mundo também", frisou.




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