Economia

'Presidir o Bradesco não é um objetivo, mas uma missão'

Redação Folha Vitória

São Paulo - O economista Octavio de Lazari Júnior soube há uma semana que seria substituto de Luiz Carlos Trabuco Cappi pelo próprio executivo. "Quase caí da cadeira." Apesar de estar à frente da área em seguros - Trabuco também veio da seguradora -, ele não esperava ser o escolhido. "Ser presidente do Bradesco não é algo que você almeja como objetivo. É uma missão que é dada e você tem de assumir", disse ele, em entrevista ao Estadão/Broadcast, na sede do Bradesco, na Cidade de Deus, em Osasco. A seguir, principais trechos da entrevista.

Trabuco falou que o seu nome foi ganhando consenso aos poucos. O sr. teve essa percepção, de que seria o escolhido?

Zero. Eu não tinha essa vaidade. Ser presidente do Bradesco não é algo que você almeja como objetivo. É uma missão que é dada e você tem de assumir. Não esperava - sempre trabalhei para crescer na organização. Estou super feliz e motivado. Vou agarrar com unhas e dentes e vamos fazer um grande trabalho.

Quando Trabuco chamou o sr. para conversar, o sr. imaginou que o assunto fosse sucessão?

Não porque ele sempre me chamava para conversar sobre a seguradora. Quando me falou sobre o assunto, quase caí das pernas, da cadeira.

O País passou por uma grande recessão e o que se vê pela frente são incertezas políticas. Como o Bradesco vai atravessar 2018?

Independentemente de carnaval, Copa do Mundo e eleições, vamos atingir nossas metas. Se o PIB crescer, a economia andar, vamos avançar. Vamos crescer a rede (de agências), atacado, alta renda. O objetivo é buscar ganho de escala e crescimento importante.

O banco já começou a conceder crédito para as empresas envolvidas na Lava Jato?

Se elas se recuperarem, voltarem a ter faturamento normal, não tem nada que impeça que a gente volte a operar com essas empresas. Mas só vamos trabalhar com empresas que não tenham impedimento.

Mas Bradesco já voltou a emprestar para alguma empresa envolvida na operação?

Não gostaria de citar empresa. Voltando a operar em situação normal, independentemente de quem seja, a gente vai voltar com crédito. Já temos negócio com essas empresas. Não dá para dizer que não vamos voltar a operar com elas. Essas empresas têm crédito corporativo no Brasil e no exterior. É nesta hora que o banco precisa estar próximo, para ajudar a companhia se reerguer. São empresas altamente geradoras de emprego.

O pior cenário para as empresas já passou?

O pior já passou. No ano passado, teve crescimento da inadimplência em médias e grandes empresas, mas foi pouca coisa. As provisões (para devedores duvidosos) que tínhamos de fazer, os impairments (de ativos financeiros) já fizemos. Estamos tranquilos.

O Bradesco tem plano de internacionalização, a exemplo do concorrente Itaú Unibanco?

Ao longo dos anos, o Bradesco fez a compra de bancos estatais e outros ativos, como o HSBC. Não há na nossa cabeça ir para fora do País porque a gente entende que tem muita coisa para fazer e expandir no País. Nos últimos quatro a cinco anos, passamos por uma crise severa econômica e política e foi no momento que compramos o HSBC. Temos uma grande rede de agências com mais de 5 mil unidades. O País entrando numa rota de crescimento sustentável, vamos capturar todo esse benefício. Somos um banco que tem mais de 30 milhões de clientes.

Quais são seus próximos passos, a partir de agora?

Estou conversando diariamente com o Trabuco sobre as indicações dos nomes do conselho. Vamos fazer isso durante o mês de fevereiro e março, até o dia 12.

Qual o futuro do Bradesco?

Vamos focar na expansão e rentabilidade. Fechamos mais de 500 agências em 2017 e vamos repensar as agências em formatos menores. Eu não posso simplesmente virar as costas para os nossos (tradicionais) clientes e dizer que o futuro é a tecnologia. Ao mesmo tempo, estamos apostando no Next, repensando o banco para as novas gerações. A tecnologia serve e está em função do negócio. Essa é a sabedoria: saber lidar com todos os públicos. Não é uma geração de cliente que vai dar o retorno de um banco de R$ 20 bilhões de lucro no ano. Temos de tratar os clientes quase que um a um. Não posso tratar de maneira igual os diferentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.