Economia

Rússia X Ucrânia: como guerra deve afetar bolso do capixaba

O preço dos alimentos e dos combustíveis podem ficar mais altos já nos próximos dias devido à invasão e ataques da Rússia no país

Dayse Torres , Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Saulo Dias| PhotoPress |Estadão Conteúdo

O valor dos alimentos e dos combustíveis devem ficar mais altos devido à invasão da Rússia na Ucrânia. Apesar do Espírito Santo estar em outro continente, a situação pode trazer reflexo negativo para o bolso do capixaba, pois pode haver um efeito em cadeia nos preços. 

O barril do petróleo deve ser o primeiro a demonstrar alta nos preços. "A gasolina, que já está em um valor muito alto, pode aumentar ainda mais. A Petrobras pode fazer este anúncio a qualquer momento", disse Eduardo Araújo, que é economista, consultor do tesouro estadual e membro do Conselho Federal de Economia. 

Ele explicou que este impacto acontece porque a cotação do barril do petróleo já está subindo no mercado internacional. E, quando o barril do petróleo fica mais caro, consequentemente os combustíveis e alimentos também sofrem reajuste de preço. 

O economista e professor universitário Wallace Millis destaca que as sanções que a Rússia deve sofrer por parte da comunidade internacional também deve impactar no preço dos combustíveis.

"Precisamos ver qual será o tamanho das sanções que os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) farão contra a Rússia, qual será o peso disso. E também em que medida a China vai tentar compensar o isolamento da Rússia, que é um grande fornecedor de gás", frisou.

Alimentos mais caros

Foto: Divulgação
Eduardo Araújo afirma que a crise entre Rússia e Ucrânia favorece a alta da inflação

Entre os alimentos, Eduardo Araújo destaca que será preciso ter muita atenção ao que é produzido com trigo, que é importado pelo Espírito Santo. 

"A Ucrânia e a Rússia são responsáveis por cerca de 30% da produção de trigo no mundo e isso vai refletir diretamente nos valores nos supermercados e nas padarias, no preço do pãozinho. O Estado terá que encontrar outros locais de onde importar o produto para tentar reduzir o impacto para os consumidores".             

O preço dos fertilizantes, outra categoria importada pelo Espírito Santo, também pode sofrer alta nos preços e isso gerar maior gasto para o consumidor final. 

"Com o fertilizante mais caro, o produto agrícola terá um preço mais alto e isso vai refletir nas gôndolas dos supermercados. Nos próximos dias, os valores já estarão mais altos nas prateleiras", alertou Araújo. 

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Wallace Millis destacou que a economia do Espírito Santo pode sofrer um impacto maior com o conflito entre russos e ucranianos, em relação ao resto do Brasil, pelo fato de estar muito vinculada ao comércio exterior.

"A economia capixaba é relativamente pequena, no contexto internacional, mas as importações e exportações têm um peso muito grande no PIB do Estado. O Espírito Santo possui alto grau de abertura para o comércio exterior. Já o Brasil, de maneira geral, possui uma economia mais fechada", ressaltou Millis, que prevê que o Estado fechará 2022 com a inflação nas alturas. "A inflação no Espírito Santo certamente não ficará abaixo de 7% ou 8% neste ano", frisou.

Pressão inflacionária

Eduardo Araújo acredita que a pressão na inflação capixaba será intensificada pelo valor do dólar — cotado a R$ 5,15 até a tarde desta quinta-feira — que, devido à invasão da Ucrânia, pode ficar mais alto e interferir nos valores de importações e levar à alta dos preços para o consumidor final. 

"O sistema de logística mundial também será afetado, pois os portos terão que mudar suas rotas. De maneira geral, terremos uma pressão inflacionária nos próximos dias. Não sabemos de quanto, qual o valor, mas, com certeza, haverá preços mais altos", previu o economista.   

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Foto: Reprodução/Redes Sociais
Wallace Millis acredita que crise internacional vai impactar a economia capixaba, muito voltada para o comércio exterior

Millis explica que uma situação de crise internacional como essa geralmente faz com que quem possui muitos ativos tenha uma preocupação maior com liquidez, ou seja, a capacidade de transformar esses ativos em dinheiro.

Segundo ele, isso gera uma procura maior pelo dólar, o que desvaloriza o real em relação à moeda americana. 

"Há no mundo todo uma grande corrida por liquidez, o que está muito associado ao dólar. Nessa corrida, há uma tendência de desvalorização do real, o que acaba encarecendo as importações. Isso joga ainda mais pressão na inflação para os produtos importados".

De acordo com o professor, a alta da inflação acaba influenciando na taxa de juros, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que pode crescer ainda mais.

"A economia brasileira estava patinando depois da recessão causada pela pandemia. Qualquer pequeno crescimento econômico, que indicava taxas próximas ao período pré-pandemia, era muito comemorado. Com essa crise internacional, vai haver um aprofundamento da recessão, com uma escalada nas taxas de inflação e juros. Isso leva a outros problemas, como o crescimento do desemprego", concluiu Millis.

Relações comerciais dos capixabas com Rússia e Ucrânia se concentram em produtos agrícolas

As relações comercias do Espírito Santo com a Rússia e a Ucrânia se concentram em produtos agrícolas. 

Segundo dados da Secretaria de Estado de Inovação e Desenvolvimento, em 2021 e 2022, os produtos que tiveram maior destaque na exportação para a Rússiaforam café, pedra de cantaria ou de construção, gengibre, açafrão, pimenta, melões e melancias. No mesmo período, os russos venderam para cá principalmente hulhas (variedade de carvão mineral com alto índice de carbono em sua composição), briquetes, adubos (fertilizantes), alumínio, ferro, magnésio.

Foto: Divulgação
Gengibre é um dos produtos agrícolas que se destacam no rol de exportações capixabas para a Rússia e a Ucrânia

Em termos de valores, as exportações capixabas para a Rússia totalizaram US$ 26,02 milhões em 2021, e US$ 387,7 mil em 2022. 

Já as importações russas para o Espírito Santo alcançaram as cifras de US$ 255,9 milhões em 2021 e de US$ 37,2 milhões em 2022.

A natureza de produtos agrícolas se repete quando se trata do que o Espírito Santo vende para os ucranianos. São enviados para lá pimentas, pedras de cantaria ou de construção, gengibre, açafrão, cúrcuma, café e preparações capilares.

Os ucranianos fornecem para os capixabas aparelhos elétricos para telefonia, charutos, cigarros, transformadores elétricos, tubos e perfis de ferro ou aço. 

Quanto a relação comercial com a Ucrânia, em termos de valores, as exportações capixabas para aquele país totalizaram US$ 1,68 milhões em 2021, e US$ U$ 138,6 mil em 2022. Já as importações daquele país para o ES alcançaram as cifras de US$ 2,2 milhões em 2021 e de US$ 76,9 mil em 2022.

Sobre a guerra, a Secretaria de Estado de Inovação e Desenvolvimento destacou que mediante a globalização um conflito internacional tem sérios impactos na economia mundial e os reflexos poderão ser percebidos no Estado, seja a curto, médio ou longo prazo. As consequências podem chegar por meio da oscilação de preços de produtos, devido a relação comercial do Estado com os países envolvidos, seja na importação ou na exportação.

Sindicato especializado aponta que relação comercial com russos não é expressiva

O Sindicato do Comércio de Importação e Exportação do Espírito Santo (Sindiex) apontou que a relação comercial entre Rússia e Espírito Santo não é expressiva. A entidade apontou que, no ano de 2021, a participação no total importado da Rússia foi de 3,93%, enquanto que as exportações representaram 0,27%. No Brasil, essa relação é de 2,67% e de 1,1%, respectivamente.

"Todo e qualquer movimento que ocorra nos grandes mercados afeta a economia mundial e, consequentemente, o cenário econômico do Brasil e do Espírito Santo. O conflito entre Rússia e Ucrânia certamente trará consequências, mas, neste momento, ainda é cedo para calcular e estimar prejuízos às operações de comércio exterior do Estado", classificou o Sindiex.


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