CORONAVÍRUS

Economia

Pressão no valor dos combustíveis e aumentos nos preços dos produtos. Como a atual crise pode afetar no seu bolso?

Segundo economistas, algumas das consequências provocadas por essa instabilidade na economia serão sentidas nos próximos meses

Foto: Agência Brasil

Dólar alto, bolsas de valores em constantes e significativas quedas, crise do petróleo. Tudo isso causa uma grande instabilidade econômica, o que certamente afeta, de alguma maneira, toda a população.

Segundo economistas, algumas das consequências provocadas por essa instabilidade na economia serão sentidas nos próximos meses, com pressão no valor dos combustíveis e inevitáveis aumentos nos preços dos produtos, principalmente os importados, desde eletroeletrônicos até bebidas e alimentos.

Além disso, o cenário internacional desfavorável não contribui em nada para a economia brasileira retomar a geração de empregos e o desenvolvimento econômico. "Nós já estamos vindo com um crescimento econômico ínfimo. Esse problema vai postergar a reação a esse crescimento, porque o Brasil não tem condições internas de buscar reação", afirmou a economista Arilda Teixeira.

Entre os empresários do comércio exterior, o sentimento é de apreensão diante do dólar alto. "O que vai acontecer? Ou o repasse de preços, o que vai ser inevitável, ou o esmagamento da margem de lucro do importador", ponderou o despachante aduaneiro Carlos Araújo.

Dia de recordes

No Brasil, o dólar teve mais um dia de recorde histórico nesta segunda-feira (09). A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 4,79 durante a manhã. Para interromper o movimento de alta, o Banco Central chegou a vender, à vista, US$ 3 bilhões das reservas nacionais no mercado. No final do dia, a cotação foi de R$ 4,72.

Já a Bolsa de Valores fechou o dia com uma queda de 12,17%,  o maior tombo desde 1998. Pela manhã, a B3 chegou a ativar o circuit breaker, dispositivo que interrompe os negócios quando há uma queda brusca. As negociações foram interrompidas por 30 minutos, para tentar acalmar os ânimos dos investidores, já que o Ibovespa tinha caído mais de 10%. A última vez que isso havia acontecido foi em 2017, no dia que ficou conhecido como Joesley Day.

Segundo Arilda Teixeira, existem dois ingredientes na alta do dólar. Um deles é o coronavírus, que paralisou a atividade econômica na China. "O coronavírus é um agravante da situação, que obrigou a China a parar uma boa parte do seu processo produtivo. Isso significa que, se ela não está produzindo, ela não está importando. Se ela não importa, os outros países não exportam. E quem exporta para ela não está vendendo. Então todos os mercados de onde saem produtos para a China estão com suas exportações reduzidas por conta dessa paralisação", explicou.

O segundo ingrediente é a queda do preço do barril de petróleo, hoje cotado abaixo dos US$ 40, fruto de uma queda de braço entre Rússia e Arábia Saudita. O primeiro recusou uma proposta de reduzir a produção de petróleo, alegando que a decisão só beneficiaria produtores dos Estados Unidos. Em resposta, a Arábia Saudita, maior exportador do mundo, decidiu aumentar sua produção e oferecer descontos de até 20% no preço da commodity.

O aumento de produção, num cenário de queda mundial de demanda por causa do coronavírus, fez a cotação do barril de petróleo iniciar o dia com queda de mais de 30%, maior recuo no preço internacional para um dia desde a Guerra do Golfo, em janeiro de 1991. O barril do brent fechou em queda de 24,1%, a US$ 34,36.

Arilda Teixeira ressaltou que não é bom quando o preço do barril se posiciona igual ou até menor do que o custo da produção. "O petróleo participa de praticamente toda a cadeia produtiva. Ele é insumo para quase tudo que se faz no mundo. Mas, se ele cair abaixo do custo de produzi-lo, não é economicamente viável a exploração".

Importações e exportações

Além disso, o dólar muito alto por um longo período não é considerado bom negócio nem pelos exportadores, que, em tese, teriam uma margem de lucro maior em razão da desvalorização do real diante da moeda norte-americana. No entanto, o presidente do Sindicato das Empresas de Comércio Exterior do Espírito Santo (Sindiex), Marcílio Machado, afirma que a valorização a moeda norte-americana leva os compradores lá fora a renegociarem os preços.

"Primeiro que isso [alta do dólar] não dá competitividade para um produto, porque não vai melhorar a qualidade, não vai se posicionar um produto melhor em relação aos concorrentes, já que houve uma desvalorização da sua moeda. E o mais importante disso tudo, que a gente observa na prática e às vezes nem é discutido nas escolas de economia: no dia a dia, quando o cliente dos exportadores brasileiros percebem que houve uma desvalorização do real e que vai haver um aumento de uma receita, em real, para quem está exportando, eles pegam o telefone, ligam ou mandam uma mensagem dizendo: 'Olha, vamos renegociar esse negócio? Vamos ver se eu pago menos pelo seu produto, porque sua receita vai ser maior de qualquer jeito'", frisou.

E se não chega a empolgar nem quem exporta, o dólar alto é motivo de desespero entre os importadores. Nesta segunda-feira, o despachante aduaneiro Carlos Araújo disse que viu seus clientes correrem para dar entrada nas mercadorias importadas, ainda com a cotação do dia anterior.

"A Receita Federal tem um dólar em que ela pega a média do dia anterior e marca para o dia posterior. Possivelmente na terça-feira (10) a gente vai ter um dólar para recolhimento de tributos 10 centavos maior do que o que está na segunda-feira. Isso pode parecer pouco, mas para cada dólar, isso é uma fortuna. O que está acontecendo? Aqui no escritório, a gente teve literalmente uma demanda de o dobro de processos de importadores querendo antecipar isso para hoje, porque certamente amanhã eles pagariam muito mais tributos, só por causa dessa variação cambial", contou Araújo.

Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV

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