Economia

Covid-19 no ES: retomada da economia vai depender de vacinação em massa e do auxílio

O novo coronavírus afetou a renda dos capixabas, causando desemprego e o fechamento de casas de eventos; especialistas avaliam cenário atual e os caminhos para o crescimento da economia

Foto: Reprodução/TV Vitória

Além da crise no sistema de saúde causada pela covid-19 - são mais de 330 mil pessoas infectadas e mais de 6.500 mortes no Espírito Santo -, outros setores foram afetados. A economia, por exemplo, foi atingida pelo aumento do desemprego, pela alta nos preços de produtos e pela proibição de eventos. Para especialistas, o futuro econômico está diretamente ligado à vacinação da população, de medidas como o auxílio emergencial e de como o sistema de saúde vai reagir diante do aumento dos casos. 

Para o doutor em Economia e economista da Fucape Felipe Damasceno, o Espírito Santo vive um momento melhor do que outros estados, mas isso não dá garantias de que tudo se manterá como está.

"Ainda não temos perspectiva de fechamento (do comércio), mas pode mudar de uma hora para a outra. A curto prazo, o desenvolvimento da economia vai depender do avanço da pandemia no Estado. Precisamos entender o nível de exaustão da rede hospitalar para saber se vamos fechar ou não", afirma.

Damasceno ainda faz uma perspectiva para médio e longo prazo. Segundo ele, a imunização da população é fundamental para a retomada. 

"Em um médio prazo, depende da vacinação. É o que precisamos para ter certeza que não vai fechar mais. Isso para que a economia volte ao normal. Ainda não temos certeza de quando haverá essa vacinação. A longo prazo, precisamos que as reformas sejam aprovadas no Congresso, tanto as maiores quanto as menores. Mas, para tudo isso, precisamos esperar o desenvolvimento da pandemia para saber para onde iremos", diz.

O economista e consultor do Tesouro Estadual Eduardo Araújo destaca que o momento atual da economia está fazendo com que as pessoas percam o poder de compra cada vez mais. Ele afirma que a situação do Brasil está menos crítica devido aos benefícios concedidos durante a pandemia.

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"Estamos numa situação preocupante. Vivemos um momento de aceleração de preços e, principalmente, ocasionado pela elevação da gasolina, que tem relação com outros setores. A taxa de inflação vem subindo e as pessoas estão tendo um aumento do seu custo de vida no momento em que o desemprego tamb´ém está elevado. No ano passado, o que ajudou foi o auxílio emergencial. No Espírito Santo, foi injetado algo em torno de R$ 5 bilhões e é um valor significativo. Isso ajudou para que o estado não estivesse numa situação mais crítica", afirma.

Araújo acredita que os recursos liberados em 2021 serão bem menores e, levando em consideração o surgimento de novas variantes, é possível que medidas mais restritivas sejam adotadas no Espírito Santo. 

"A preocupação é com essas novas variantes da covid. Sendo mais letais e mais contagiosas, o grande receio é que a gente tenha que adotar as mesmas medidas restritivas do ano passado. Em 2021 pode ser que a gente repita o que vivemos em 2020, com a diferença que não teremos recursos públicos iguais. A crise econômica é desigual. Afeta os mais pobres mais do que os mais ricos."

Foto: TV Vitória
Seu Jorge tem 7 filhos e está desempregado

Muita gente tem se virado como pode, um exemplo é o seu Jorge Silveira de Souza, 59 anos, morador do bairro Flexal, Cariacica. Ele está desempregado e é pai de sete filhos, com idades entre oito meses e onze anos, e conta que tem se virado como pode. A esposa e mãe dos sete filhos é dependente química e fica pouco em casa.

"Na realidade o que mudou de renda foi muito pesado. Antes eu tinha um emprego, trabalhava como artista e manutenção e ganhava aproximadamente R$ 1.200 reais, dava para manter. A situação ficou ruim e a 'ponta fraca' aqui ficou no prejuízo. Cessou a ajuda do governo, mas não retomou o emprego" desabafou Jorge. 

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Antes da pandemia, seu Jorge tinha emprego com carteira assinada. Um problema na perna o afastou do serviço, e ele até recebeu seguro desemprego, depois, o auxílio emergencial e cestas básicas da escola. Atualmente ele só tem recebido o valor do bolsa família, de R$ 346 reais.  

Ele deseja abrir uma oficina e para isso foi ao "Faça Fácil" solicitar um empréstimo para poder trocar o telhado e adquirir ferramentas. "Estou esperando o 'Nosso Crédito', se eles me fizerem o empréstimo, eu consigo trocar o telhado e faço um cômodo com uma oficina. E a vida que segue, vai dar para eu manter a família com esses bicos que faço", assegurou seu Jorge.

O exemplo dele não é isolado e pode ser encontrado em outros lares também. De acordo com critérios do Banco Mundial, estão na linha da pobreza famílias que ganham menos de R$ 423 reais mensais por pessoa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em 2019, 19% da população vivia nessas condições no Espírito Santo, sendo um total de 764 mil pessoas. Ainda não há dados atualizados sobre 2020. 

Porém, em novembro do ano passado, um levantamento do próprio IBGE apresenta uma ideia da quantidade de pessoas que enfrentam problemas sociais e econômicos. O número de desempregados passou de um 1,7 milhão de capixabas e, 581 mil pessoas estão trabalhando na informalidade. 

Entre os desempregados, estão muitos trabalhadores do setor de eventos, área que ainda não tem permissão para voltar a funcionar. São mais de 20 mil postos de trabalho perdido em um ano. Segundo a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos no Estado, a estimativa é de quase 1,9 bilhão que deixaram de circular na economia, por causa da paralisação do setor. 

Além disso, houve também o fechamento de muitas empresas no período. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio), em 2020, o saldo entre aberturas e fechamentos de lojas com vínculos empregatícios ficou negativo em 1.700 estabelecimentos. 

Foto: TV Vitória
Felipe deixou de movimentar R$ 30 milhões

O produtor de eventos de um grupo de empresas, Felipe Fioroti disse que deixou de movimentar R$ 30 milhões em um ano, já que promovia de 14 a 20 eventos por mês. 27 funcionários foram demitidos. No início da pandemia a empresa utilizou-se dos programas emergências para os empregados.

 "Infelizmente não conseguimos manter suspenso alguns profissionais. O nosso mercado não tem previsão de volta, então muitos empregos foram perdidos de maneira definitiva", disse Felipe. 

Até entender o que estava acontecendo e quais medidas o governo tomaria, Felipe explicou que estavam vivendo uma inércia. "Os primeiros quatro, cinco meses estávamos totalmente perplexos e aguardando informações e notícias do que estaria por vir. Quando vimos que não tinha luz no fim do túnel a gente procurou adaptá-las, como investir em restaurantes. Outras empresas colocamos na inércia, sem prazo de validade", contou. 

Mesmo com a chegada da vacina e a implantação do Plano Nacional de Imunização (PNI) a expectativa do setor é por medidas emergências para atender as demandas, já que as vacinas começam por grupos prioritários. "Há no Congresso a proposta do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), a nossa esperança que isso seja aprovado e o Governo municipal e estadual possam estudar medidas para nos ajudar", destacou. 

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Ele reclama que o setor de vivido uma situação de invisibilidade  "O nosso setor está totalmente parado desde o início da pandemia. É como se não existíssemos na cadeia produtiva", confessou. 

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Pablo pede um plano de retomada

O empresário sócio-proprietário, Pablo Pacheco ressaltou que o  setor de eventos é reconhecidamente o mais afetado pelas restrições impostas pela covid-19. São 12 meses de atividades paralisadas com forte impacto nas empresas e trabalhadores do setor. O impacto se estendeu ainda aos setores de turismo e serviços. 

"O cenário é desolador para segmentos que é composto de micro, médios e pequenas empresas que não tiveram acessos as linhas de créditos e seguem sem horizonte de retomada. É urgente um plano de retomada", defendeu Pacheco. 

VACINAÇÃO É FUNDAMENTAL

A necessidade de solucionar a situação é opinião unânime. No ponto de vista econômico, Eduardo Araújo reforça a necessidade de uma aceleração no processo de vacinação. 

Foto: Reprodução/Fucape
Felipe Damasceno: "Precisamos vacinar urgentemente"

"O que os economistas consideram que poderia pôr fim nesta crise de saúde é a imunização da população. O início de todo esse transtorno começou com um problema de saúde e a saída para a crise passa pela resolução deste problema. No Brasil, perdemos muito tempo numa discussão sobre a eficácia da vacina, enquanto outros países já vinham com uma política de imunização em massa. Poderíamos ter tido sucesso na aquisição de outras vacinas também eficazes", afirma.

"Precisamos vacinar urgentemente. As reformas vão dar sustentação para o crescimento a longo prazo, mas também precisamos dar oportunidade para as pessoas se manterem a curto prazo. O auxílio emergencial é importante para que o comércio sobreviva, pequenos empresários e os informais também. Mas a vacina é a saída definitiva", concorda o economista da Fucape, Felipe Damasceno.

Entenda o que é o Perse

A Câmara aprovou na terça-feira (3) projeto de lei que cria o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). A proposta prevê o parcelamento de débitos de empresas do setor de eventos com o Fisco federal, além de outras medidas para compensar a perda de receita em razão da pandemia de covid-19.

A intenção da iniciativa é beneficiar, por exemplo, empresas de hotelaria em geral; cinemas; casas de eventos; casas noturnas; casas de espetáculos; e empresas que realizem ou comercializem congressos, feiras, feiras de negócios, shows, festas, festivais, simpósios ou espetáculos em geral e eventos esportivos, sociais, promocionais ou culturais, além de entidades sem fins lucrativos.

O projeto prevê alíquota zero do Pis/Pasep, da Cofins e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) por 60 meses e a extensão, até 31 de dezembro de 2021, do Programa Emergencial de Acesso a Crédito (Peac) para as empresas do setor.

A regra-geral será de desconto de até 70% sobre o valor total da dívida e até 145 meses para pagar, exceto os débitos previdenciários, para os quais a Constituição limita o parcelamento em 60 meses e podem ser parcelados débitos com a Receita Federal e com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. A matéria segue agora para análise no Senado Federal. 

*Com informações da repórter Andressa Missio, TV Vitória / Record TV e da Agência Brasil 



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