Economia

Queda da confiança é marcada por clima de desapontamento com economia, diz FGV

Março foi marcado pela queda na confiança em vários setores empresariais e entre consumidores. O Índice de Confiança Empresarial, composto pelos diversos indicadores setoriais da Fundação Getulio Vargas (FGV), acumulou perda de 3,6% em fevereiro e março. Já o Índice de Confiança do Consumidor, também da FGV, encolheu 5,8% nos dois meses.

A piora na confiança, verificada também no Índice de Confiança do Empresário Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acompanha as revisões para baixo nas projeções de crescimento econômico, que caíram de 2,53%, no início do ano, para 1,98%, na mais recente edição do Boletim Focus, do Banco Central (BC).

Para Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o clima entre empresários e consumidores é de "desapontamento" com a atividade econômica. O pesquisador destacou que o avanço generalizado dos indicadores de confiança após as eleições gerais de 2018, chamado de "lua de mel" pós-eleitoral, foi o maior entre todos os pleitos presidenciais desde 2002.

"Talvez houvesse (no período pós-eleitoral) um otimismo passando um pouco do ponto", afirmou Campelo.

O superintendente do Ibre/FGV divide o comportamento recente dos indicadores de confiança em dois. De março a setembro do ano passado, os índices passaram por uma queda expressiva, que começou antes da greve dos caminhoneiros, em maio, mas foi agravada por ela. De outubro a janeiro, com a definição das eleições, os indicadores entraram em trajetória de alta, até passar pelo ajuste em fevereiro e março.

Campelo destaca ainda que, mesmo quando houve a alta de outubro a janeiro, as análises mereciam cautela, porque o movimento foi puxado pelas expectativas com o futuro. Assim como ocorre em todos os índices da FGV, a maioria dos indicadores de confiança é composta tanto por avaliações em relação à situação presente da economia quanto pela percepção do futuro.

Para Campelo, a queda da confiança em fevereiro e março está associada a uma combinação entre a percepção de que as reformas econômicas terão dificuldade para passar no Congresso Nacional (que pesa mais sobre o empresariado) e o fato de a economia ter começado o ano em ritmo lento. Os dados da indústria, de serviços e do mercado de trabalho vieram negativos em janeiro.

"Não foi só a decepção com a velocidade das reformas no Congresso. É uma combinação disso com a constatação de que chegamos ao terceiro mês do ano com a economia ainda devagar", afirmou Campelo.

A consequência disso é que será difícil contar com a confiança como impulso para o crescimento. Isso ocorre, lembrou o pesquisador da FGV, quando empresários e consumidores passam do sentimento positivo em relação à economia para a ação, comprando e investindo mais - o que, aí sim, movimenta a atividade.

Segundo Campelo, estudos feitos pelos pesquisadores da FGV para comparar o comportamento dos indicadores de confiança com o vaivém da atividade econômica sugerem que o impulso para a economia real tende a ocorre apenas quando os índices de confiança ficam acima de 102 pontos. Com as quedas de fevereiro e março, nenhum dos índices da FGV ficou acima dos 100 pontos.

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