Economia

Chefe de Delegação da UE prevê acordo com Mercosul até fim do 1º semestre de 2017

Redação Folha Vitória

São Paulo - O fechamento do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) deverá ocorrer até o final do primeiro semestre de 2017, "se tudo correr bem", prevê o chefe da Delegação da UE no Brasil, embaixador João Gomes Cravinho. Para a quarta-feira, 10, está prevista a troca de ofertas entre os dois blocos e o início das discussões sobre os detalhes do acordo.

Segundo ele, o acordo está em situação de "dilema" e tenta encontrar um equilíbrio entre o bom e o ótimo. "A União Europeia vê que terá que ser menos ambiciosa. Mas as circunstâncias de hoje são bem melhores que as mais críticas anteriores. Se quisermos chegar a um entendimento, teremos que engolir alguns sapos", disse.

As discussões com o Mercosul e União Europeia para firmar um acordo comercial vêm desde 1999. De acordo com o chefe da Delegação da UE no Brasil, em 2004, quando quase foi firmado o negócio entre os blocos, a União Europeia insistiu demais na questão da transparência, principalmente para ampliar as compras públicas entre as regiões. "Quem sabe se tivéssemos assinado o acordo naquela época com essas condições poderíamos ter ajudado a evitar o Petrolão", brincou. "Mas a circunstância de hoje é de não desistir. Vamos ainda insistir na transparência, mas o momento é outro, mais maduro", ressaltou.

Cravinho explicou que na Europa há um movimento popular, menos informado, contra o acordo ao mesmo tempo em que, no Mercosul, há uma abertura tanto do público quanto do setor privado ao acordo que nunca se observou. "A opinião pública vai ter muita importância no acordo", destacou.

Segundo ele, da Europa serão oferecidos produtos industriais e serviços e do Mercosul se destacarão itens agrícolas. "Sei que não vai ser fácil para esses setores no Brasil e na Europa. Mas isso faz parte dos processos negociais. É preciso saber responder e tranquilizar devidamente, mas há boas razões para se fechar esse acordo", disse, ressaltando que na Europa não há países contra o acordo e sim ministros da Agricultura de alguns países-membros que se mostraram desfavoráveis, mas que não há um peso político como um ministro do comércio ou líder de país.

O embaixador avaliou que o acordo não será unânime entre os países de cada bloco, mas não causará muito desconforto. "Pelo entendimento que há, estou bastante confortável, e na sequencia da troca de ofertas já temos uma agenda de reuniões marcadas para discuti-las. Sabemos que não ficaremos totalmente satisfeitos. Não vai ser fácil, vai ter força política, mas também delicadeza e sensibilidade", disse. Ele comparou o acordo com o Mercosul ao sucesso obtido com negociações fechadas pela União Europeia com o México e o Chile e que quer negociar acordos parecidos com Austrália e Índia.

Mercosul e Brasil

O chefe da Delegação da UE no Brasil citou que nunca houve manifestação do governo brasileiro em fazer acordo com o bloco europeu em separado. "Eu só ouço um acordo de Brasil e União Europeia em São Paulo. Em Brasília, eu não ouço isso", disse. "E falharmos agora, nesse acordo, talvez isso abra portas para acordos em separados com países membros do bloco sul-americano, mas não quero especular sobre isso. Aliás, nunca, nas negociações, os países-membros do Mercosul se posicionaram claramente se queriam algo em separado", informou.

Para ele, lógico que o acordo com os dois blocos seria mais fácil de ocorrer se houvesse uma maior integração entre os países membros do Mercosul. "Mas o acordo por si só já promove essa integração", destacou.

Para o Brasil, conforme Cravinhos, o acordo entre os blocos permitirá uma inserção mais fácil do País na cadeia de valor global. "Nossas propostas no acordo estão alinhadas com o Plano Nacional de Exportação brasileiro. Queremos aumentar os investimentos estrangeiros diretos da Europa no Brasil, com a facilitação de aportes no acordo com o Mercosul", frisou, citando estudos que apontam que o fechamento do negócio entre os blocos permitirá um aumento da corrente de comércio Brasil-UE em US$ 28 bilhões e avanço de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

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