Economia

'O governo precisa dar um jeito na infraestrutura', avalia economista

Redação Folha Vitória

São Paulo - Em qualquer lugar do mundo, a produtividade sofre um baque em tempos de recessão. Não é diferente no Brasil. "Há três anos estamos com taxas negativas", diz Regis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Segundo Bonelli, o País pode começar a reverter esse quadro investindo em infraestrutura: "É um tiro de canhão", diz ele. Bonelli é coorganizador da coletânea "Anatomia da Produtividade no Brasil", que será lançada nesta quinta-feira, 11, no Rio, durante o seminário Dimensões da Produtividade, promovido pelo Ibre, em parceria com o Ministério da Fazenda. A seguir, trechos de sua entrevista.

Qual é o balanço atual da produtividade no Brasil?

Todos os indicadores mostram queda de produtividade no Brasil: produtividade do trabalho, por pessoa ocupada, por hora trabalhada e pelo total dos fatores. A gente experimentou crescimento até 2012, por ocasião do boom de commodities, e com o impulso do governo de Dilma Rousseff, que manteve a demanda aquecida. Mas, depois, a produtividade despencou. Há três anos estamos com taxas negativas. Neste ano, deve ficar perto de zero. A perda é enorme.

Como isso é possível se, recentemente, os bancos públicos emprestaram centenas de bilhões, a juros baixos, para empresas? Isso não deveria ter elevado a produtividade?

Houve um aumento da taxa de investimento até o começo de 2012, mas não dá para saber em que medida isso foi provocado ou ajudado pelo - vamos dar o nome ao boi - BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Foi feita uma política macroeconômica errada, que ajudou empresas em condição de se financiarem no mercado. Não focou na infraestrutura.

O Brasil é um país fechado e os próprios empresários pedem mais proteção, o que reduz a concorrência externa, concorrência essa que ajudaria a elevar a produtividade. O sr. diria que há uma questão cultural também?

Tem essa questão, mas não é de hoje. A economia se fechou na década de 30 do século passado e, desde lá, nenhum esforço de abertura comercial e financeira conseguiu ampliar o nível de abertura. Do ponto de vista dos empresários, concorrência é boa no quintal do vizinho. Querem muitos concorrentes para os fornecedores, não para os produtos deles.

Quais são as causas dessa nossa baixa produtividade, então?

Os economistas estão longe de um consenso. Há um lado cíclico. Numa recessão, como a que o País vive, a produtividade cai mesmo, em qualquer lugar do mundo. Mas há problemas estruturais. A indústria, por exemplo, sofre com um problema crônico de competitividade. Sofre com o câmbio, com os aumentos de salários, que, nos últimos anos, subiram muito acima da produtividade, estreitando as margens de lucro e dificultando investimentos. O ambiente de negócios no Brasil também é nocivo. É um conjunto de fatores. Fica difícil saber qual peça do quebra-cabeça pesa mais.

A deficiência é generalizada?

Não é uniforme. Alguns casos são mais nítidos, como a indústria de transformação e a construção. O pico da produtividade da indústria de transformação foi há 20 anos. Depois disso, cai um pouco, recupera, cai, recupera. Mas nunca consegue chegar ao nível de 1997. O contrário ocorre na agropecuária. É muito mecanizada, usa sementes modificadas, defensivos. Enfim, é uma agricultura tão moderna que arrasta para melhor toda a cadeia setorial.

O sr. é um dos coordenadores de um livro sobre o tema. Por que a discussão agora, um momento de recessão e - como o sr. mesmo disse - é difícil elevar a produtividade?

É importante lembrar que se pode ter crescimento ou pelo aumento no número de pessoas trabalhando ou pela produtividade. A força de trabalho em idade ativa vai parar de crescer em 20 anos. Se não for pela produtividade, a gente não vai ter um crescimento mínimo necessário para lidar com as carências do Brasil no longo prazo. O País precisa se preparar para este momento.

O que seria possível fazer agora para elevar a produtividade?

O governo está buscando alternativas com esta nova secretaria especial do Ministério da Fazenda, que está com o João Manoel (Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas, chefiada pelo economista João Manoel Pinho de Mello). Mas se eu tivesse de dizer três coisas para matar o rinoceronte com um tiro de canhão, diria: infraestrutura, infraestrutura e infraestrutura. Precisa dar um jeito de recuperar isso. O investimento em infraestrutura é uma das formas mais diretas de elevar a produtividade. Ele também é um ativador da demanda agregada. Mas, obviamente, não será com recursos públicos. Todos os meses vemos números horríveis mostrando a compressão financeira do Estado. O governo terá de achar formas criativas de recuperar o investimento em infraestrutura. No longo prazo, temos de pensar seriamente na educação. É o lugar comum? É. Mas não há como ignorar que a força de trabalho requerida nos próximos anos será muito diferente da que temos hoje. Outro dia, eu fiz uma palestra para gerentes de Recursos Humanos e foi assustador. Uma empresa do Norte teve de importar trabalhadores do Sul porque na região não tinha gente capaz de entender os manuais dela. Não vamos longe assim.

ANATOMIA DA PRODUTIVIDADE NO BRASIL

Organizadores: Regis Bonelli, Fernando Veloso e Armando Castelar Pinheiro

Editora: Elsevier

Preço: R$ 95

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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