Economia

Após 3 anos de crise, Macaé mostra sinais de recuperação

A alta do preço da commodity e a recuperação financeira da Petrobrás deram novo fôlego à cidade de Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro

Redação Folha Vitória
O município foi um dos primeiros a sentir a queda na arrecadação de royalties e a redução das atividades da estatal ( Foto/ reprodução)

A volta dos leilões de petróleo, a alta do preço da commodity e a recuperação financeira da Petrobrás deram novo fôlego à cidade de Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro. O município foi um dos primeiros a sentir a queda na arrecadação de royalties e a redução das atividades da estatal, que desde a década de 1980 movem a economia da cidade.

Segundo o prefeito de Macaé, Aluízio dos Santos Júnior, alguns sinais já apontam para a retomada, como a volta, mesmo que tímida, da geração de empregos. Mais de mil vagas foram abertas no primeiro semestre do ano e, aos poucos, a cidade vai ganhando novos restaurantes, academias e hotéis. O prefeito espera a abertura de mais oportunidades nos próximos anos com a revitalização dos campos maduros da Petrobrás e a desativação

de plataformas de petróleo da estatal na Bacia de Campos, um negócio que demanda a contratação de empresas de serviço da cadeia petrolífera.

Em dez anos, por causa do pré-sal e da redução natural de produção dos seus campos, a bacia que banha e sustenta o município

de Macaé perdeu a liderança da produção de petróleo no Brasil para a Bacia de Santos, hoje responsável por 50% do total produzido no País, ante 44% da Bacia de Campos.

Na visão da estatal, a região se mantém como um dos maiores complexos petrolíferos marítimos do mundo e o interesse por ela nos últimos leilões de petróleo do governo mostraram que ainda há bastante apetite pelo norte do Estado do Rio. Ao todo, foram leiloados 11 blocos apenas na Bacia de Campos.

A estatal também está investindo na revitalização de campos

maduros, sendo o caso mais adiantado o de Marlim, cujo contrato de concessão foi estendido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) até 2052, junto com o do campo de Voador.

"É fundamental investir na Bacia de Campos. Por isso é importante que se aumente o fator de recuperação dos campos (hoje em 24%, ante média mundial de 35%) e que a produção volte a aumentar", disse o prefeito, referindo-se a campos já muito explorados pela Petrobrás e que exigem esforço extra para que o óleo seja retirado.

Vale-refeição

Bares e restaurantes cheios, gente circulando pela orla e os navios trafegando no mar calmo de Macaé era tudo o que o gerente do restaurante Picanha do Zé, Jackson Lima, 29 anos, queria voltar a ver. Há três anos com as mesas praticamente vazias, ele comemora a volta do vale-refeição pagando as contas nos últimos meses, o que evitou que o estabelecimento fechasse as portas.

Hoje, durante a semana, a ocupação das mesas dobrou, atingindo 60%, e nos fins de semana chega a ter fila na porta. "Antes o pessoal estava rachando os pratos, a conta, pendurando, mas aos poucos o vale-refeição está voltando e o pessoal lota isso aqui", diz Lima.

Com essa perspectiva é que trabalha Israel Silva, garçom desempregado de 25 anos. Ele conta que há três anos o mar ficava lotado de navios indo e vindo das plataformas e que agora quando vê um barco se enche de esperança. "Na minha visão,

a retomada do emprego não está sendo tão rápida. Teve um pequeno crescimento sim, mas não está tão fácil", avalia.

A desativação de plataformas da Petrobrás também promete ajudar na reativação da economia da cidade. A estatal tem provisionados US$ 14,3 bilhões para aplicar no desmonte dos sistemas de produção de plataformas, um negócio que pode reerguer a indústria de prestação de serviços no entorno de Macaé.

O processo de desativação de plataformas envolve a desmontagem de todo o sistema submarino (cabos, fechamento de poços), obedecendo regras ambientais e lançando mão de avanços tecnológicos.

Investimento

Vivendo há décadas em torno da indústria do petróleo e gás natural, Macaé atraiu ao longo dos anos empresários como o pai de Leonardo Dias, que em 2003 transformou uma fazenda em parque industrial para atender à demanda da crescente indústria petrolífera. Desde a abertura do setor no Brasil, em 1997, a cidade começou a atrair também a iniciativa privada, que correu para garantir uma área no parque industrial Bella Vista. O pai chamou o filho para assumir o negócio, em 2011, no auge da retomada do preço do petróleo, depois da crise de 2008.

Animado com o preço da commodity, Dias decidiu triplicar o espaço, oferecendo ao mercado 3 milhões de metros quadrados. "No início estava muito otimista, começou muito bem, tinha muita procura, e depois passou para a crise. Um pouco antes da expansão tinha bastante procura de empresas grandes, que estavam ganhando contratos", contou.

A Petrobrás e a Schlumberger são algumas das empresas que já estão no local. Para atrair mais clientes, Dias está criando um novo tipo de condomínio industrial, com estrutura compartilhada entre as empresas, como vestiário e restaurante, áreas e equipamentos adequados à prestação de serviços do setor, entre outras facilidades. Todos os terrenos já são licenciados, o que facilita a instalação das empresas. "Vamos pegar essa onda da retomada e investir primeiro", diz Marcos Daher, sócio no empreendimento.

Novas plataformas dão impulso à Petrobrás

Depois de quatro anos praticamente estagnada, a produção da Petrobrás vai dar um salto expressivo em 2019, com o início da operação das seis plataformas que estão chegando este ano. A mais recente, a P-67, partirá em três semanas da Baía da Guanabara, no Rio, para o campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos.

O campo de Lula já responde por quase metade da produção nacional de petróleo e gás natural, com 1,1 milhão de barris diários. A produção total é de 2,6 milhões de barris diários. Lula também receberá até o fim do ano a P-69, completando o sistema definitivo de produção do campo de Lula, informou o diretor de Desenvolvimento de Produção e Tecnologia da Petrobrás, Hugo Repsold.

As unidades estão sendo destinadas aos campos do pré-sal porque a região tem custos mais baixos de extração, por causa do grande volume produzido em comparação aos campos do pós-sal, que até 2006, quando o pré-sal foi descoberto, eram o foco da companhia.

Em alta

"O ano de 2019 vai ser espetacular para a Petrobrás. A produção do pré-sal continua subindo e vai compensar a queda que está sendo verificada nos campos maduros, que precisam ser vendidos pela empresa", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) Adriano Pires. A Petrobrás anunciou um plano de desinvestimento que inclui a venda de parte de alguns campos produtores, o que, com o declínio da produção de campos antigos, reduz a produção total da companhia.

Segundo Pires, enquanto no primeiro semestre a produção do pré-sal subiu 7,5%, a queda de produção dos campos maduros foi da ordem de 12,5%. Com a chegada das novas plataformas, esse declínio deverá afetar menos a companhia, avalia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.