Contratando 588 mil, setor público adotou política anticíclica, diz professor
Apesar das sérias restrições fiscais das contas públicas, as contratações pelo setor público foram determinantes para sustentar o desempenho do mercado de trabalho aferido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) - Contínua de junho, afirma Hélio Zylberstajn, professor da faculdade de economia da USP e coordenador do Salariômetro da Fipe.
Na pesquisa, a taxa média de desocupação no trimestre de abril a junho ficou em 12,4%, abaixo do patamar de 12,7% verificado no trimestre encerrado em maio.
"Tivemos uma política não anunciada e anticíclica de expansão do emprego no setor público", declarou o economista, citando as contratações de 588 mil trabalhadores no último trimestre pela administração pública, entre funcionários com e sem carteira assinada. "O setor público correu para contratar. A proximidade da eleição levou a uma contratação muito forte e repentina, já que o setor público tem um prazo para contratação em ano eleitoral, que venceu no fim de abril", explicou.
Conforme Zylberstajn, as contratações sem carteira assinada pela administração pública corresponderam a quase 300 mil no período. "São vagas com perfil qualitativo mais baixo. Tanto é que o salário médio no setor público diminuiu, puxado por estas contratações de salário menor", comentou.
Desalento
A queda da taxa de desocupação também foi sustentada por um recuo na base de pessoas que, desempregadas, desistiram de procurar uma colocação no mercado de trabalho, disse o professor da USP.
"Cruzando os dados sobre volume de pessoas ocupadas, que teve alta de 657 mil no segundo trimestre, e o recuo de 723 mil no número de desempregados, a diferença indica o volume de desalentados, em 66 mil", afirmou Zyblerstajn. "É uma situação muito ruim, tanto pelo lado estatístico quanto pessoal. É um desemprego disfarçado, que não aparece nos números", explicou.
O especialista ressalta, entretanto, que os desalentados retornam rapidamente ao mercado de trabalho, assim que surgirem sinais mais firmes de retomada do emprego. "Isso, porém, só vai acontecer quando o crescimento da atividade apresentar um ritmo mais intenso. Mesmo assim, o emprego como um todo não reage imediatamente, tem uma certa defasagem", comentou Zylberstajn.