Economia

Maior aliado em processo de privatizações não é Guedes, é Bolsonaro, diz Mattar

Responsável por conduzir o plano de privatizações do governo federal, o secretário Salim Mattar, da Pasta de Desestatização e Desinvestimentos, afirmou nesta quinta-feira, 8, que seu maior aliado no processo de venda das estatais é o presidente da República, Jair Bolsonaro, e não o ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Quando aceitei o convite para fazer parte do governo, Paulo Guedes me disse que íamos vender tudo que fosse possível, mas a minha maior surpresa é que meu maior aliado, por incrível que pareça, não é o ministro Guedes. Meu maior aliado é o presidente Jair Bolsonaro, que está a favor das privatizações", disse, em evento do BTG Pactual em São Paulo. "O Estado brasileiro é obeso, burocrático, oneroso e inferniza a vida do cidadão."

Há quatro meses, contudo, Mattar disse em entrevista à revista Veja que havia ficado "frustrado" com a decisão de Bolsonaro de voltar atrás na intenção de privatizar a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), responsável pelo trem-bala.

Nesta quinta, no evento do BTG, ele explicou por que tem considerado o presidente como seu maior aliado. "O presidente reconhece que houve muita corrupção e uma forma de acabar com a corrupção é vender estatal. Ele é um grande aliado que tenho, me motivou muito", disse.

Na quarta, em evento na Fenabrave, do setor automotivo, Bolsonaro disse que "mudou", que no passado foi estatizante, mas que "evoluiu" com a ajuda do ministro Paulo Guedes.

Eletrobras

Mattar reforçou ainda que o governo cogita privatizar a Eletrobras, através de capitalização. "A capitalização da Eletrobras é uma necessidade de caixa. A empresa tem R$ 12 bilhões para investir, mas o governo não tem esse dinheiro. Na verdade o governo tem, mas onde deveria colocar esses R$ 12 bilhões, para expandir a Eletrobras ou colocar no social?", disse.

Relação com o Legislativo

O secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia afirmou ainda que tem tratado diretamente com o Congresso sobre a privatização de empresas. "É fundamental ter boa relação com o Legislativo. Esse é o maior desafio", comentou, ao falar da venda de estatais e da necessidade de operações envolvendo Eletrobras e Casa da Moeda, por exemplo, precisarem de aval dos parlamentares.

Mattar disse que o Estado não precisa estar em áreas em que a iniciativa privada vai estar presente. "Isso significa quase tudo", comentou ele.

O secretário ressaltou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu aval para privatizar "tudo o que é possível" e que a intenção do ministério é começar vendendo ativos mais fáceis, "que não dão problemas e a sociedade vai absorver".

"É importante não contrariar grupos de interesse", afirmou Mattar, ressaltando que é preciso conduzir o processo de privatização de forma cuidadosa.

Ao ser questionado sobre a oposição do PT às privatizações, Mattar disse que gasta "80% de seu tempo" no governo para desconstruir o que o partido fez durante a permanência no Planalto.

'Legado pernicioso'

O secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia afirmou que, em outubro, sua secretaria pode ficar sem dinheiro até para passagens aéreas. "Esse é o legado que recebemos, que é pernicioso", disse ele.

Mattar ressaltou que com a economia crescendo menos que o esperado, a arrecadação do governo caiu, o que levou o governo a fazer contingenciamento de gastos, afetando a pasta.

Pelo lado positivo, o secretário salientou que os juros estão historicamente baixos e o volume de empréstimos privados superou o de bancos públicos e o risco país, medido pelo Credit Default Swap (CDS), caiu para mínimas históricas. "Juros e CDS baixos e mais empréstimos privados mostram confiança no País", afirmou.

"A reforma da Previdência nos atrapalhou um pouco, não queríamos interferir nesse processo, queríamos deixar que seguisse calmamente", disse Mattar.

O secretário afirmou que o governo aguarda a aprovação da Previdência para apresentar o texto da reforma tributária e "um punhado" de outras reformas, que "vão colocar o Brasil nos caminhos da prosperidade".