Economia

Empresas que se preocupam com o meio ambiente e a sociedade ganham mais destaque no mercado

Investidores passaram a olhar para critérios como sustentabilidade e governança corporativa na hora de decidir onde colocar o dinheiro.

Foto: Divulgação / Pexel

Quando você precisa escolher entre um produto e outro, seja uma roupa, cosmético ou bolsa, você leva em conta se a marca tem atitudes de cuidado com o meio ambiente ou com o social? 

Você pode até ter ficado em dúvida na hora de responder, mas o fato é que tem muito consumidor atento a esse movimento. Quer um exemplo? 79% dos clientes acham importante que as empresas não agridam o meio ambiente. É o que mostra um estudo publicado em 2020, pelo Instituto Akatu e pela GlobeScan.

Uma outra pesquisa, realizada pelo site de compras on-line Mercado Livre, mostra que houve um crescimento significativo de buscas e compras na seção de produtos sustentáveis do site.

Entre junho de 2019 e maio de 2020, 1,4 milhão de brasileiros compraram pelo menos um produto sustentável on-line. No Brasil, 81 mil novos consumidores escolheram um produto sustentável como primeira compra no site.

O estudo constatou ainda que os consumidores têm escolhido produtos mais conscientes e são leais às ofertas dessa categoria. Por mês, a seção gera 2.500 novos compradores. 

O número de vendedores que oferecem produtos considerados sustentáveis no Brasil cresceu 198% entre 2017 e 2020. No mesmo período, a quantidade de itens da categoria teve um aumento de 322%.

Empresas mais atrativas ao mercado

E se o consumidor está de olho, os investidores e o mercado também! É cada vez mais comum que analistas, diretores e Conselhos de Administração (CA) considerem investimentos sustentáveis como indutores de crescimento no futuro.

Pesquisas mostram que negócios que seguem boas práticas ambientais, sociais e de governança são mais estáveis e podem trazer mais lucratividade no longo prazo.

Todo esse movimento faz parte da agenda ESG - em inglês: environmental, social and governance, ou seja, ambiental, social e governança - . Na verdade é um conjunto de práticas adotadas por empresas que visam não só o lucro mas também possuem responsabilidade social e ambiental.

A presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMAS), da Findes, Mirela Chiapani Souto, reforça que as empresas precisam entender a necessidade de adotar as práticas de ESG: "As empresas que estiverem fora desse conceito, com certeza correm um sério risco de desaparecer. A pressão do mercado financeiro fez com que esse processo tenha se acelerado."

 Confira no vídeo o que disse a presidente do COEMAS, da Findes

Setor florestal e sustentabilidade

Um exemplo de empresa que já adota os conceitos de ESG é a Suzano, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, que tem uma das fábricas em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. Seguindo o pilar social da agenda de sustentabilidade, a empresa tem programas importantes nas áreas onde está instalada.

Foto: Acervo pessoal

"Em 2020 quase 10 mil famílias foram beneficiadas com ações como agricultura familiar, apicultura, meliponicultura, artesanato, pequenos negócios comunitários, extrativismo, entre outras frentes. Também ampliamos nosso programa de educação em 36 municípios", explica o coordenador de desenvolvimento social da Suzano, Douglas Peixoto Pereira.

E o investimento no "social" também está dentro das empresas, com os funcionários. No caso da Suzano, a meta é ampliar a presença de mulheres em postos de liderança. Até 2025, a empresa pretende que mulheres ocupem ao menos 30% desses cargos. Em 2019 eram 16%, em 2020, 19%. 

Essa é  uma das 14 metas que a empresa tem para o desenvolvimento da agenda ESG. O compromisso está diretamente ligado ao rendimento que os investidores vão ter. 

"No início de 2020, havíamos tornado público nosso compromisso de reduzir a intensidade de captação de água industrial e ampliar a presença de mulheres na liderança da Suzano. Agora vamos além ao indicarmos aos investidores globais que, se não atingirmos esses objetivos, assumimos como contrapartida o pagamento de uma taxa adicional a eles", afirma o diretor de Finanças Corporativas da Suzano, Julio Ramundo. 

Foto: Divulgação/Suzano
Fábrica da Suzano no Norte do Estado

Os títulos emitidos pela Suzano têm vencimento em 2032 e, a partir da nova operação, a dívida da companhia passará a ter 37% de sua composição atrelada a indicadores ESG.  Antes dessa nova emissão, a participação era de 30%. No final de 2019, essa participação era de apenas 9%.

Como achar o equilíbrio

O doutor em ciência florestal, Luiz  Fernando Schettino, explica que as empresas que adotam o conceito de ESG ´precisam investir em tecnologias mais sustentáveis no uso da energia e da água, por exemplo. Assim como entender o impacto que a produção vai provocar no local onde a empresa vai se instalar. 

"Em alguns casos deve-se ter ainda mais atenção com os ecossistemas, se estes forem frágeis. Nestes casos as ações humanas precisarão ter maiores cuidados visando causar os menores impactos possíveis durante as produções, em outros é preciso entender a importância de gerar mais empregos para a população local, mas de forma sempre sustentável. Assim, o grande desafio das empresas é saber dosar o interesse social e econômico com o limite que os ecossistemas suportam. Por isso o licenciamento ambiental e a participação social são fundamentais, para que cada caso seja analisado de forma específica."

O conceito ESG valoriza empresas

A pandemia do coronavírus fez com que as empresas acelerassem a pauta ESG. Especialistas do mercado viram que quem tem essas boas práticas de sustentabilidade correm menos riscos de enfrentar problemas jurídicos, trabalhistas, fraudes e sofrer ações por impactos ao meio ambiente.

Além disso, em pesquisa recente, a Bloomberg estima que a agenda ESG deve atrair US$53 trilhões em investimentos em 2025. 

O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mauro Roclin, explica que o conceito de tripé de sustentabilidade ou de ESG já é usado há mais tempo na Europa e Estados Unidos e chegou ao Brasil nos últimos três, quatro anos. Mas já está sendo bastante valorizado pelos investidores, inclusive da bolsa de valores.

"A ideia é que os consumidores valorizem mais esses tipos de empresas e elas vão alcançar melhores resultados. E aí os investidores vão privilegiar essas companhias na compra de ações e participações."

 Confira no vídeo abaixo porque empresas sustentáveis são mais valorizadas


  Entenda melhor quais são os três pilares da agenda ESG

Foto: Divulgação/ Sustentarqui

Ambiental

Toda atividade produtiva tem impacto no meio ambiente. A questão é saber como a empresa age para causar menos danos e repor os recursos naturais utilizados na produção.

Pensando assim, as práticas de produção devem levar em conta o descarte correto de matéria prima, o controle na emissão de poluentes, reutilização de recursos como a água, uso de formas de energia mais econômicas.

A Suzano, referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto, se destaca pela posição no índice B3 das empresas que integram o Índice de Carbono Eficiente. O índice contribui para fomentar o desenvolvimento sustentável das empresas já que estimula a menor emissão de gases do efeito estufa (GEE). 

Social

Já reparou que algumas empresas apoiam eventos esportivos, de lazer e cultura na cidade onde estão inseridas? Essa é uma forma de contribuir com a sociedade. Ações como essas fazem parte do pilar social da agenda ESG.

Mas não é só isso. É preciso também cuidar dos colaboradores da empresa, remunerar de forma justa, oferecer benefícios, capacitação e bem estar para o funcionário e a família dele.

Governança

Claro, toda empresa precisa ter lucro, assim consegue gerar empregos, oferecer serviços e contribuir para o desenvolvimento da região. O pilar financeiro leva em consideração como a companhia cuida do patrimônio.

Foto: Divulgação / Pexel

Como exemplo, investir em inovações tecnológicas, equipamentos e ferramentas que garantam mais eficiência e rentabilidade. Ficar atenta como reduzir desperdícios e gastos.

Nesse pilar também está inclusa a transparência na divulgação dos resultados s e investimentos. Uma empresa com o pilar econômico bem desenvolvido consegue planejar ações sustentáveis a curto, médio e longo prazo.







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