Economia

Linhão leva para longe luz que região não tem

Redação Folha Vitória

Crixás do Tocantins e Dueré (TO) - A energia ainda não circula entre os interruptores das casas da zona rural de municípios tocantinenses como Abreulândia, Crixás, Dueré, Figueirópolis e Santa Rita do Tocantins. Cada uma dessas cidades, porém, já teve a paisagem do cerrado invadida por torres imensas de linhas de transmissão. Os cabos reluzentes, ainda sem uso, foram instalados meses atrás, quando um grupo chinês se embrenhou na região para erguer parte da linha de 2,1 mil km de Belo Monte, rede que vai ligar Vitória do Xingu, no Pará, a Ibiraci, em Minas Gerais.

Como o plano de construção da rede é passar direto pelos Estados do traçado, levando energia ao Sudeste, nenhum watt das turbinas de Belo Monte vai descer até as casas da região quando a linha for acionada, no início de 2018. "A gente fica olhando isso, sem conseguir entender. É muito descaso do poder público", diz Regina da Silva Pereira, moradora de Crixás que, quando anoitece, tem recorrido à bateria do carro para levar alguma luz para dentro de casa.

Pelo interior da escura Crixás e de outros 21 municípios de Tocantins, passa a linha de transmissão mais moderna do Brasil, com uma tecnologia inédita que será usada pelo setor elétrico. Os especialistas dizem que o maior benefício da rede de "ultra-alta tensão", de 800 kilovolts (kv), é fazer o transporte de energia com o menor volume de perda possível.

O entusiasmo que marcou o início do projeto em 2015 trouxe o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, ao País para lançar "a pedra fundamental de uma das maiores obras do Brasil para ampliar o sistema elétrico", com investimentos de cerca de R$ 5 bilhões.

Para que essa energia de Belo Monte chegue um dia às casas do interior de Tocantins, será preciso que, antes, passe por cima delas e siga direto para o Sudeste. Só lá será despejada no sistema nacional de transmissão, retornando para o interior do Estado por meio de redes de menor porte. "Uma hora ela chega para nós. Tem de chegar", diz o agricultor Manoel Ferreira da Cruz, de 56 anos, ao lado da mulher, Maria de Fátima, indignada com a demora da eletricidade. "O pessoal vai lá e fala que este ano vem a energia. E nada. A gente está precisando mesmo, moço, porque o trem tá feio." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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