A política monetária é um dos principais instrumentos para controlar a economia de um país. No Brasil, a taxa Selic é utilizada para conter a inflação, mas seus impactos vão muito além do setor financeiro. Sempre que há um aumento na Selic, o efeito sobre o consumo e o poder de compra da população é direto.
Nos últimos anos, a economia brasileira tem enfrentado um cenário de incerteza. De um lado, a inflação elevada pressiona o custo de vida; por outro, a necessidade de conter a alta dos preços leva o Banco Central a elevar os juros. Mas será que esse mecanismo está, de fato, funcionando ou apenas aprofundando as dificuldades do consumidor e do setor produtivo?
Selic em alta, como isso afeta o dia a dia?
A Selic influencia praticamente todas as transações financeiras do país. Quando o Banco Central decide aumentá-la, o objetivo principal é desestimular o crédito e o consumo, reduzindo a pressão sobre os preços. Na teoria, isso ajuda a conter a inflação, mas, na prática, cria desafios para a economia real.
O primeiro impacto é sentido no custo do crédito. Financiamentos, empréstimos e parcelamentos se tornam mais caros, reduzindo a capacidade de consumo das famílias. Isso quer dizer que comprar um carro, uma casa ou até mesmo adquirir bens de maior valor no cartão de crédito se torna difícil e oneroso. Para a classe média e as camadas mais vulneráveis da população, essa mudança representa uma limitação severa na qualidade de vida.
Além disso, empresas que dependem de crédito para investimentos e expansão sofrem com taxas mais altas, o que reduz a geração de empregos e desacelera a economia. Pequenos e médios negócios, que já enfrentam desafios estruturais no Brasil, são os mais afetados, pois não possuem reservas financeiras suficientes para operar sem crédito acessível.
Inflação controlada, mas a que custo?
O grande argumento para a elevação da Selic é o controle da inflação. No entanto, há um paradoxo nesse mecanismo: ao encarecer o crédito e reduzir o consumo, a política de juros altos pode até conter a demanda, mas também enfraquece a economia de maneira generalizada. Com menos consumo, empresas vendem menos, contratam menos e investem menos, gerando um efeito negativo no crescimento do PIB.
Outro problema é que a inflação brasileira tem características que vão além da demanda. O país sofre com uma estrutura tributária complexa, custos elevados de produção e gargalos logísticos. Dessa forma, a elevação da Selic pode conter o aumento de preços, mas não resolve os problemas estruturais que fazem os produtos e serviços permanecerem caros.
O enfraquecimento do poder de compra
O trabalhador sente os efeitos do aumento da Selic de maneira imediata e prolongada. O salário, que já não acompanha a inflação, se desvaloriza ainda mais quando o custo do crédito sobe. Com menos acesso a financiamento e maior dificuldade para consumir, a população vê sua qualidade de vida ser diretamente afetada.
Esse cenário se agrava ainda mais em setores essenciais, como habitação e alimentação. No mercado imobiliário, por exemplo, a queda na procura por financiamentos torna o sonho da casa própria cada vez mais distante para milhões de brasileiros. Já no setor alimentício, a alta dos juros reduz a margem de lucro dos produtores e distribuidores que, sem alternativa, repassam esses custos ao consumidor final.
Para piorar, a Selic elevada também afeta a dinâmica dos investimentos, tornando a renda fixa mais atrativa e desviando recursos do setor produtivo. Como consequência, o crescimento econômico sofre um impacto negativo, pois, em vez de financiar novos negócios e a geração de empregos, o capital se concentra em aplicações financeiras de baixo risco, sem efeitos diretos na economia real.
Existe alternativa?
A questão que surge é: há outra maneira de controlar a inflação sem penalizar tanto o poder de compra da população? Diante desse desafio, a resposta passa por uma política econômica mais equilibrada, que ataque as raízes da inflação sem comprometer o crescimento.
Para isso, algumas medidas essenciais precisam ser adotadas. Em primeiro lugar, uma reforma tributária eficaz, capaz de reduzir a carga de impostos sobre produção e consumo, tornando os preços mais competitivos. Além disso, é fundamental estimular o investimento produtivo, garantindo crédito acessível para que as empresas possam expandir suas operações e gerar empregos.
Outra ação indispensável envolve melhorias na infraestrutura e logística, fator crucial para diminuir os custos de transporte e distribuição de bens, que figuram entre os principais responsáveis pela inflação no Brasil. Por fim, a estabilidade fiscal deve ser uma prioridade, assegurando que o governo mantenha seus gastos sob controle sem recorrer a aumentos de impostos ou a uma política monetária excessivamente restritiva.