Economia

País deveria abandonar sistema de metas de inflação, diz Monica de Bolle

País deveria abandonar sistema de metas de inflação, diz Monica de Bolle País deveria abandonar sistema de metas de inflação, diz Monica de Bolle País deveria abandonar sistema de metas de inflação, diz Monica de Bolle País deveria abandonar sistema de metas de inflação, diz Monica de Bolle

Rio e São Paulo – O Brasil deveria abandonar temporariamente o sistema de metas de inflação e adotar um regime de banda cambial flutuante, como era até 1998, defendeu a pesquisadora brasileira do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, Monica Baumgarten de Bolle. Em artigo divulgado na quinta-feira, 1º no blog do instituto, ela afirma que o País vive uma situação de “dominância fiscal”, em que o desequilíbrio das contas públicas provoca a perda de eficácia da política de juros no combate à inflação.

Para Monica, é preciso abandonar temporariamente o sistema de metas para fazer reformas de médio prazo que permitam equilibrar as contas.

No fenômeno da “dominância fiscal”, a política monetária deixa de fazer efeito porque o aumento da taxa de juros gera gastos financeiros para o governo. Com maior risco de desequilíbrio nas contas públicas, os investidores correm para o dólar e a desvalorização do real volta a alimentar a inflação.

Na proposta de Monica, reinstituir um regime cambial de bandas flutuantes serviria por um período como uma âncora nominal. “A lógica do regime de metas de inflação é que a âncora nominal da economia, ou seja, aquilo de referencia os preços, é a própria inflação, porque o Banco Central (BC) tem o compromisso de sempre aumentar os juros mais do que a variação das expectativas de inflação. Só que quando se perde a capacidade de fazer isso com juros, perde-se a âncora nominal”, afirmou.

No regime de bandas flutuantes, o BC mantém o câmbio entre um piso e um teto, que se desvaloriza aos poucos, mensalmente. Pode começar, por exemplo, de R$ 3,88 a R$ 4,12, e, no mês seguinte, passar para de R$ 3,95 a R$ 4,20, considerando uma desvalorização de 2% a 3%, segundo Monica. “Você deixa que o câmbio se desvalorize, mas de forma controlada.”

No artigo, ela diz que com cerca de US$ 370 bilhões em reservas cambiais, o BC teria poder de fogo, dando tempo para o governo formular um plano fiscal adequado, que inclua corte de gastos na Previdência, retirada de indexações (como os reajustes do salário mínimo) e de regras de vinculação dos gastos públicos.

Quanto tempo o governo teria? “Dá para comprar (o tempo de) uma gestação. Nove meses, é possível”, afirmou.

Segundo a economista, se o Brasil mantiver as políticas atuais, os modelos econômicos sugerem que o BC precisaria elevar a Selic, já que as expectativas de inflação não se estabilizaram e estão longe do centro da meta, de 4,5%, mas com isso o déficit nominal sairia de controle. Para ela, isso destruiria a sustentabilidade fiscal, produzindo novas turbulências no mercado de câmbio.

Essa fragilidade do câmbio, por sua vez, geraria mais inflação, mesmo com a recessão, deixando o País na pior situação possível: uma forte contração da atividade com alta inflação. “O PIB brasileiro encolheu 3% no segundo trimestre de 2015, enquanto a inflação está rodando a 9,5%. Por todos os parâmetros, o País já está nessa situação”, diz Monica no artigo.

Em último caso, se o abandono do sistema de metas de inflação e a adoção do regime cambial de bandas flutuantes falhar, a pesquisadora afirma que o Brasil poderia ser obrigado a recorrer a controles de capital. Para ela, o País ainda tem condições de evitar se transformar em uma Argentina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.