Economia

'Posso garantir que nunca pensarei em me aposentar', diz Abilio Diniz

Nesta quinta-feira (06), ele anunciou que a criação de uma gestora de investimentos para permitir que o cidadão brasileiro comum que tenha pelo menos R$ 1 mil possa aplicar

‘Posso garantir que nunca pensarei em me aposentar’, diz Abilio Diniz ‘Posso garantir que nunca pensarei em me aposentar’, diz Abilio Diniz ‘Posso garantir que nunca pensarei em me aposentar’, diz Abilio Diniz ‘Posso garantir que nunca pensarei em me aposentar’, diz Abilio Diniz
Foto: Divulgação

Ele já controlou a empresa que (na época) era a maior varejista do Brasil – o Grupo Pão de Açúcar (GPA) -, tornou-se investidor em grandes negócios globais, como na gigante dos alimentos BRF e nas operações brasileira e mundial do Carrefour, e mantinha uma casa de investimentos apenas para cuidar dos negócios da família. Aos 84 anos, Abilio Diniz voltou mais uma vez a empreender.

Nesta quinta-feira (06), ele anunciou que a Península Participações está criando uma gestora de investimentos para permitir que o cidadão brasileiro comum – que tenha pelo menos R$ 1 mil para aplicar – possa investir “junto com o Abilio Diniz”. É com essa proposta que surge a O3 Capital, que já nasce com R$ 1,5 bilhão em carteira de investimento da própria Península.

Assim, o empresário entra em uma nova seara – o mercado financeiro -, concorrendo não apenas com os grandes brancos brasileiros (como Bradesco, Itaú e Santander), mas também com gestoras de investimento (como a XP) e fintechs (Nubank e Banco Inter, entre muitas outras). Para ele, o aumento da concorrência ampliou as oportunidades no setor, que virou um campo aberto. “O surgimento das fintechs está já arejando o mercado, assim como gestoras independentes como a O3.”

Quanto à disposição para iniciar um novo negócio aos 84 anos, Abilio afirma: “Sou jovem ainda, com filhos pequenos para criar”. E garante que parar está definitivamente fora de seus planos: “Nunca pensei nisso (aposentadoria) e posso lhe garantir que nunca pensarei”.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que o empresário concedeu ao Estadão por e-mail:

O que o motiva, aos 84 anos, em seguir empreendendo e criando novos negócios?

Sou jovem ainda, com filhos pequenos para criar, e gosto muito de trabalhar e aprender. Isso leva a gente para frente em todos os sentidos. E o Brasil é um país imenso, cheio de oportunidades. Sempre fui usuário do mercado financeiro e agora mudei de lado. Tem sido uma experiência muito boa, estou aprendendo muito com o time da O3.

Sempre quando alguém abre um negócio, pensa na concorrência e no diferencial. O que as gestoras que já estão no mercado não oferecem que a O3 Capital vai poder oferecer?

Como homem da distribuição, aprendi que o mais importante de tudo para ter diferencial e bom produto é ter foco no consumidor, e neste caso o consumidor é o investidor. Ganhar dinheiro todas as gestoras podem ganhar, mas vamos colocar foco no investidor, entender o que ele deseja, estudar como falar com ele. É preciso ganhar dinheiro, mas é preciso entender esse consumidor/investidor. Outro ponto fundamental é o nosso time. Eu sempre me orgulhei dos times que montei. As pessoas que formam a O3 são muito capazes, muito experientes e têm desejo de aprender, de crescer. Por isso, decidimos abrir o fundo a terceiros. A O3 tem também uma capacidade muito aguda de investir no mercado global, o que hoje está em voga, mas que nós já temos uma longa experiência. E ela tem capacidade de pensar mais no longo prazo porque tem já um capital importante alocado lá.

Como o sr. vê o cenário de desconcentração bancária do País? Isso pode trazer benefícios de longo prazo para o País?

Sem dúvida. A concorrência é fundamental para os clientes e para as empresas, que são obrigadas a oferecer serviços melhores que seus competidores. O surgimento das fintechs está já arejando o mercado, assim como gestoras independentes como a O3.

O sr. acredita que, ao abrir novas possibilidades de investimento para o brasileiro comum, é possível ampliar os horizontes das pessoas, aumentar sua visão de mundo?

Sim. Acho que o investidor brasileiro já está abrindo seus horizontes com os juros negativos (em termos reais, levando em conta a taxa Selic de 3,5% e a inflação projetada, em torno de 5%) que temos agora. E, nesse olhar mais aberto, ele está compreendendo melhor o mercado, a Bolsa, ativos de todo tipo dentro e fora do Brasil. E isso é bom para todo mundo, para as empresas, os investidores, o mercado, que está se sofisticando e crescendo.

O sr. empreende há 60 anos. Em sua trajetória, quais foram os momentos mais difíceis?

Eu tive vários momentos difíceis na vida, mas o importante é aprender a superar as dificuldades e sair vencedor. Sou otimista e vejo os momentos difíceis como aprendizados importantes. Isso é um clichê, mas é uma grande verdade. O momento mais difícil na minha vida foi o meu sequestro, cheguei a pensar que não escaparia. Mas ali redobrei minha fé em Deus, e isso foi um ganho enorme.

O sr. já pensou alguma vez em parar, se aposentar? Se sim, quanto tempo essa resolução durou?

Nunca pensei nisso e posso lhe garantir que nunca pensarei.

*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.