
Uma crise no setor metalmecânico do Espírito Santo pode tirar do Estado o projeto milionário do Navio Polar “Almirante Saldanha”. A construção é estratégica para a Marinha do Brasil, inédita no País bem como tem valor estimado em R$ 700 milhões. Qualquer atraso no andamento das obras pode comprometer a capacidade de operação do Brasil na região Antártica. O motivo da crise é o movimento de greve dos trabalhadores do setor e a interrupção dos trabalhos no estaleiro Seatrium, em Aracruz.
Segundo o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Espírito Santo (Sindifer) e a Federação das Indústrias do Estado (Findes), o Seatrium registra perdas com as paralisações e instabilidade no ambiente de trabalho. Além do navio polar, cada módulo das plataformas em construção na indústria, a P-84 e a P-85, mobiliza cerca de 700 trabalhadores. Ou seja, são aproximadamente 3.500 empregos diretos comprometidos.
O estaleiro emprega cerca de 6 mil trabalhadores diretos e indiretos. Nesse sentido, cada dia de paralisação gera um prejuízo estimado de R$ 2,5 milhões em perdas diretas de faturamento e produtividade. Além disso, as entidades afirmam que há impactos negativos sobre toda a cadeia de fornecedores e prestadores de serviços locais.
Pedido de interlocução ao governo do ES
As entidades enviaram um ofício ao governo do Estado, ao governador Renato Casagrande, ao vice Ricardo Ferraço e ao secretário de Desenvolvimento, Rogério Salume, solicitando apoio institucional. O documento pede mediação para acelerar o julgamento do dissídio coletivo, garantia de segurança para circulação dos trabalhadores e apoio para restabelecer condições mínimas de negociação.
Segundo o documento, a sucessão de bloqueios, constrangimentos e impedimentos de acesso às unidades operadas pela Seatrium tem provocado instabilidade operacional permanente. A situação, segundo as entidades, contraria decisão judicial vigente desde 12 de novembro, que determina livre circulação de trabalhadores, proíbe bloqueios bem como exige a manutenção de 40% do efetivo laboral. Há multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
Efeitos além do estaleiro da Seatrium
Trinta dias após o início da greve, os efeitos já se espalham para além do estaleiro. O Sindifer relata atrasos contratuais, interrupção de serviços essenciais e insegurança operacional também em empresas como Vale, ArcelorMittal e Samarco. Porém é no Seatrium que o impacto é mais profundo. O sindicato afirma que novas empresas têm evitado contratar serviços no Espírito Santo, direcionando investimentos “de centenas de milhões de dólares” para outros estaleiros, como Angra.
“As tentativas de mediação conduzidas pelo TRT-17 não avançaram. O sindicato laboral não compareceu às duas audiências marcadas até o momento, o que prolonga a ausência de negociação efetiva. A Justiça já havia determinado, em 1º de novembro, que 80% do efetivo fosse mantido. Depois, revisou o número para 40%, mantendo a exigência de acesso livre às plantas industriais. Ainda assim, segundo relatos reunidos pelo Sindifer, equipes de manutenção seguem impedidas de cumprir contratos e trabalhadores continuam sendo barrados nas portarias”, diz comunicado do Sindifer.
O Sindifer, que representa mais de 2.800 empresas do setor metalmecânico e elétrico, reforça que o prejuízo à Seatrium ilustra o impacto estrutural da greve. O estaleiro é peça-chave da indústria capixaba e sua descontinuidade temporária — ou permanente — seria um duro golpe para projetos de grande porte, para a cadeia de fornecedores e para milhares de famílias. Por isso, a entidade insiste na necessidade de resposta rápida das instituições para evitar que a crise atual ultrapasse o ponto de reversão.
Outro lado
A coluna entrou em contato com a assessoria de imprensa do Sindimetal, que representa os trabalhadores do setor. A resposta não foi dada até o fechamento. A coluna segue à disposição para a manifestação do sindicato.